Fabio Fernandes: “Recomeçar é o que mais gosto de fazer”

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Fabio Fernandes: “Recomeçar é o que mais gosto de fazer”

Um ano depois de deixar a F/Nazca, criativo fala sobre a cisão e os desentendimentos com o Publicis Groupe e critica as gestões financistas das grandes holdings


15 de julho de 2020 - 6h00

Fabio Fernandes (Crédito: Divulgação)

Há um ano, quando o Publicis Groupe anunciou a saída de Fabio Fernandes da F/Nazca S&S, o fundador, presidente e diretor criativo deixou clara sua insatisfação: “A depender de mim, jamais deixaria a agência”, escreveu na despedida. Com sua retirada, a operação foi descontinuada nos meses seguintes, encerrando uma das principais escolas da publicidade brasileira e um dos capítulos mais criativos da história da atividade no País. Construída por inúmeros profissionais talentosos, a F/Nazca espelhou características pessoais de Fernandes, o que a tornou indissociável de seu líder. No início deste ano, já durante a quarentena, ele se juntou a um grupo de amigos e lançou o site Os Impostores, onde opinam sobre assuntos variados e promovem lives com personalidades das artes e da comunicação. É uma primeira nova atividade para um criativo que se mantém atento ao mercado e pode voltar à publicidade quando a vida puder ser retomada, como conta na entrevista a seguir.

Meio & Mensagem — Apesar do rompimento abrupto entre você e o Publicis Groupe, havia um acordo que previa as bases do seu desligamento?
Fabio Fernandes — Do ponto de vista legal, nós tínhamos a possibilidade de sair da sociedade sem necessidade de negociação, como aconteceu com o Loy Barjas (que saiu no início de 2014). Já havia um parâmetro, que era a venda com a simples notificação com um mês de antecedência, com o valor já calculado, de oito vezes a média do lucro dos últimos três anos. Depois disso, um novo acerto foi feito comigo e o Ivan Marques, com uma operação de venda mais radical. Naquele momento, isso era inadiável, pois estava evidente que o negócio ia despencar, as margens iam cair ainda mais. Mesmo assim, para nós era uma decisão triste, porque a gente sabia que, no final das contas, se o outro lado dissesse “vai embora”, a gente teria que fazer isso. São dois assuntos muito diferentes. De um lado, a paixão pela empresa e a vontade de ficar. De outro, é preciso pensar que a empresa é o que trabalhei a vida inteira para ter, e tem a ver com o meu futuro e dos meus filhos. Essa conversa é ainda mais difícil quando quem está tratando com você não é aquele com quem você fez a sociedade. Comecei esse negócio com a Saatchi e não com o Publicis Groupe, que são empresas muito diferentes, com culturas muito diferentes. Dificilmente teria feito esse negócio originalmente com o Publicis. Eu tinha uma afinidade muito grande com o pensamento, a filosofia e a forma de enxergar o negócio da Saatchi. E, mesmo depois de conviver muito tempo, com o Publicis não tive a mesma coisa. A noiva que escolhi e que me escolheu para casar era a Saatchi. Como todo casal, tivemos momentos difíceis, mas ambos éramos muito felizes. Mas a Saatchi foi comprada pela Publicis, que mesmo sem querer herdou uma certidão de casamento comigo. E eu, um belo dia, acordei com a minha sogra na cama.

M&M — Mesmo com essa animosidade, a decisão deles de que você deveria sair te surpreendeu?
Fernandes — Não sei se posso chamar de animosidade, porque era uma coisa inglesa. Eram discordâncias profissionais. Por mais que discorde brutalmente da filosofia deles, sempre foram extremamente respeitadores e elegantes, nunca tivemos uma discussão de levantar a voz. É uma gestão financista, com pensamento exclusivamente em faturamento de curto prazo. Isso não é errado. É só uma visão incompatível com a minha. Para mim, essa é uma visão fadada ao fracasso no médio e longo prazo — e nós vamos ver isso já.

M&M — O que faria você voltar ao mercado publicitário?
Fernandes — Estive conversando com algumas pessoas e alguns potenciais sócios e contratantes de vários setores, desenvolvimento de conteúdo, cinema e propaganda. O que digo categoricamente: não quero mais perder tempo dizendo que na minha opinião não deveria poder se pegar com a mão a bola de futebol no meio de campo, embora exista uma corrente forte que valorize a pessoa que pega a bola com a mão e sai correndo para dentro do gol. Não quero ficar discutindo isso, quero ir para um lugar onde isso não possa ser feito. Esse jogo não quero jogar, e também não vou ser o estraga prazeres de quem acredita que é dessa maneira que se faz. Não me vejo mais redundando sobre temas que deveriam estar superados. Mas, como acredito que as melhores agências vão ser mais leves e mais enxutas, isso significa que com cinco ou seis bons clientes vai ser possível construir uma grande marca nesse novo mundo. Também penso em ajudar a mexer no modelo pelo lado de dentro dos próprios anunciantes. Não como um CMO, porque nem tenho competência para isso, mas como um gestor de ideias, um curador de inovações de linguagem, de estética, de produção, trabalhando com as agências de grandes anunciantes. Recomeçar é o que eu mais gosto de fazer.

A íntegra desta entrevista está publicada na edição semanal de Meio & Mensagem, que até o fim do mês pode ser acessada gratuitamente pela plataforma Acervo, onde é possível consultar ainda todas as edições anteriores que circularam nos 42 anos de história da publicação. Também está aberto a todo o público, gratuitamente, o acesso à versão digital das edições semanais de Meio & Mensagem, no aplicativo para tablets, disponível nos aparelhos com sistema iOS e Android.

**Crédito da imagem no topo: audioundwerbung/iStock

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