Lucrando com a felicidade

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Opinião

Lucrando com a felicidade

A correlação entre satisfação do empregado e retornos maiores na bolsa de valores


26 de março de 2019 - 14h37

 

(crédito: iStock)

Nunca fui ao Butão. E tenho curiosidade em saber se o pequeno reino incrustado na Cordilheira do Himalaia, considerado um dos países mais felizes do mundo, realmente tem uma população tão de bem com a vida como prega sua inusitada política de FIB – Felicidade Interna Bruta.

Mas isso me levou a pensar que a busca da felicidade é, sem dúvida, um dos combustíveis que movem a humanidade, inclusive (e principalmente) dentro do mercado de trabalho. Não é à toa que se enfileiraram nas prateleiras das livrarias inúmeros livros com “felicidade” ou seus derivados no título. Nada mais sintomático: assim como a profusão de obras sobre dietas indica uma sociedade preocupada com uma vida mais saudável, a obsessão pessoal e corporativa pela felicidade é sinal de que a tendência mundial de unir trabalho a satisfação está ganhando mais adeptos e um maior significado dentro das organizações.

Existe uma correlação entre satisfação do empregado e retornos maiores na Bolsa de Valores. A analogia foi comprovada por meio do resultado de uma pesquisa de Alex Edmans, professor de finanças na London Business School, que resolveu examinar empiricamente a questão após analisar o desempenho das companhias que estiveram no ranking das melhores empresas para trabalhar nos últimos 26 anos. O resultado não foi mera coincidência. Ele constatou que as empresas de capital aberto que entraram no ranking registraram valorizações anuais de 2% a 3% acima da média do mercado.

Então, felicidade dá lucro? A resposta não somente é positiva, como virou título de um livro no qual Márcio Fernandes, um dos líderes mais admirados da atualidade, apresenta o que chama de nova Filosofia de Gestão. Fernandes descreve seu estilo e suas ferramentas de liderança como sendo baseados em um sistema de meritocracia, no qual cada funcionário é responsável pelo próprio treinamento e desempenho e em que o diálogo franco é fortemente estimulado em todos os níveis hierárquicos. Indico a leitura.

A produtividade aumenta em proporção direta à satisfação das pessoas envolvidas. Não por acaso, cada vez mais as organizações estão buscando profissionais que se destacam por suas qualidades humanas e pela aptidão de aumentar seus recursos e suas potencialidades de forma contínua e integrada. Em setores dinâmicos como os da comunicação e da tecnologia, que têm em seus colaboradores a principal fonte de criação e valor, essa equação é ainda mais latente e poderosa.

Mas o que motiva essas pessoas? Propósito, cultura, inclusão, valorização, ambiente, transparência, coletividade e significado. A “vibe boa” faz toda a diferença: não adianta a empresa se preocupar com o meio ambiente e esquecer como anda seu clima interno. E por “vibe boa” não me refiro a um local com pessoas descoladas, ambientes festivos e paredes moderninhas. Tudo isso é bem-vindo, mas o essencial é que haja clareza em tudo: no propósito, na cultura e nas metas que se quer atingir, tanto da parte da empresa como da do colaborador, em convergência.

Empresas têm sua visão, missão e valores. Colaboradores também devem traçar os seus. Mais do que um processo de autoconhecimento, essa atitude é importante para ajudar, inclusive, seu gestor a entender o que você pretende e como chegar lá. Tenho observado que, principalmente nos últimos anos, quando comecei a atuar como Co-CEO, pessoas e empresas precisam começar a parar mais vezes para refletir e para questionar por que elas fazem o que fazem.

Transparência e verdade geram compromisso. Colaboradores que trabalham em um ambiente mais feliz, que são protagonistas reais das suas carreiras, conseguem ver um significado a mais, que vai além de ganhar o dinheiro para pagar as contas e gerar lucros para as empresas. E, ao caminharem de forma mais harmônica em direção ao que sonham, acabam se dedicando com mais profundidade, trazendo resultados maiores, inclusive financeiros. Não deixe que sua vida corporativa seja apenas um automático focar nos boletos e no “cachê” do dia 30. Com felicidade, disciplina e propósito é possível se planejar. Para qualquer coisa, inclusive para, quem sabe, visitar o Butão.

* Crédito da foto no topo: Reprodução

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