Empreendedorismo LGBTQIAP+: Raquel Virgínia conta os avanços
Ao completar um ano do projeto que busca reunir empreendedores da comunidade, CEO da agência Nhaí conta os avanços da pauta
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Carolina Huertas
30 de janeiro de 2023 - 14h27
Nesta segunda-feira, 30, acontece o “Consolidação e Expansão 2023”, evento de comemoração ao 1 ano do Contaí Summit, projeto focado em atuar na criação de espaços para que empreendedores possam se reunir, fazer conexões e discutir o futuro do ecossistema do empreendedorismo LGBTQIAP+ no Brasil e América Latina.
Com mais de 2 mil pessoas impactadas, pesquisas sobre o nicho realizadas em parceria com a AlmapBBDO e a One The Go e planos de expansão para a América Latina, Raquel Virgínia, CEO e fundadora da Nhaí! e fundadora no projeto, conta sua perspectiva do avanço da questão neste um ano.
Meio & Mensagem – Como nasceu o Contaí Summit e como foi a experiência desse um ano de projeto? O que vocês tinham de expectativa e como foi a realidade?
Raquel Virgínia – Começamos esse projeto tateando uma hipótese. Eram suposições reais: imaginávamos que existe uma comunidade, um número considerável de empreendedores e empreendedoras LGBTQIAP+ e que essa comunidade poderia construir um ecossistema relevante e impactar o mercado e a economia se ela passasse a ter encontros recorrentes e estruturados. Partimos desse pressuposto, mas não sabíamos o que ele ia representar, porque saímos as escuras, buscando. Já de início, em janeiro do ano passado, o piloto foi um sucesso. Conseguimos reunir em uma sala várias empresárias e empresários trans. Saímos no SPTV, no SBT News, na Forbes, Meio & Mensagem, foi uma coisa muito impactante. Depois disso, seguimos uma trajetória. Tivemos evento em março já com patrocinadores. Nossa primeira patrocinadora foi a Avon, depois a Ambev entrou como uma segunda possível patrocinadora e, em julho, já tivemos uma outra edição, um evento gigante com a matéria do Jornal Nacional de quase seis minutos, expandindo os patrocinadores, comunidades presentes dentro do hotel Unique, muito baseada nos eventos do Meio & Mensagem que eu tinha assistindo e participado. Eles foram uma referência. Depois em novembro fizemos em Salvador pra AfroEmpreendedores LGBTs. Além disso, nos unimos a AlmapBBDO e a One The Go e desenvolvemos pesquisas inéditas sobre essa comunidade empreendedora. Nós saímos de um lugar onde só tínhamos hipóteses e hoje podemos dizer que estamos conseguindo estabelecer de fato o começo da construção de um ecossistema que já impacta o mercado, visto que hoje temos como patrocinadores Mercado Livre, Amstel e Santander. Temos 3 patrocinadores extremamente relevantes, não só para uma edição, mas para o ano todo. Isso mostra um deslocamento que estamos conseguindo fazer de um mercado que está deixando de pensar nas comunidades LGBTs apenas em junho ou pontualmente, para um mercado que resolve patrocinar um projeto no ano inteiro. Fora a aproximação da comunidade com esse mercado, onde conseguimos fazer com que esses empresárias e empresários, que são LGBTs e não são empresários e empresárias normativas, se vejam no lugar do do mundo corporativo. São vários impactos em um ano, por isso que o nome desse evento de segunda-feira é “Consolidação e expansão”, porque entendemos que em 2023 vamos consolidar muitas coisas que construímos em 2022.
M&M – Como a pauta LGBTQIAP+ vem avançando junto às marcas?
Raquel – As marcas continuam num processo de entendimento do que é se relacionar com uma comunidade sensível, como é a comunidade LGBTQIAP+, ou com outras comunidades sensíveis como a comunidade negra, indígena, PCD. Em todas essas comunidades, quem construiu as pautas foram os movimentos sociais e as marcas estão entendendo cada vez melhor como se relacionar, construindo relações mais sustentáveis, mais legítimas e também construindo internamente para poder comunicar ou vice-versa. Elas estão caminhando para esse lugar do entendimento. Pelo menos as marcas que nos procuram ou se abrem a Nhaí!, são as que, justamente, estão nesse desenvolvimento. É um trabalho, né? Não existe ponto final, existe desenvolvimento sustentável, gradual, estratégico, é isso que a gente vem construindo com as marcas que se relacionam com a gente. Ainda temos muito trabalho pela frente. Em uma escala de zero a 10, talvez a gente esteja ali no dois, três. Temos um bom caminho até um lugar que consideramos ideal com representatividade e outros termos. Quando somos empreendedoras, costumamos olhar sob uma perspectiva otimista, então eu tenho uma perspectiva otimista.
M&M – Quais são os principais desafios encontrados hoje?
Raquel – Eu acho que o principal desafio é, sobretudo, essa dificuldade de ‘Ai meu Deus eu vou começar a comunicar, mas internamente eu não tenho ninguém negro, trans, PCD, indígena. Como é que eu como é que eu entro nesse universo? Como é que eu construo um projeto?’ As pessoas ainda estão numa fase de medos de abordar as pautas justamente porque existe uma falta de repertório nesse sentido, que é o que a iNhaí inclusive se propõe a fazer, ajudando a construir estratégias justamente para que esse medo seja colocado num outro lugar, em um lugar de proposição de ação. Pelo menos o que chega para mim a maior dificuldade é essa: Como é que a gente destrói o medo para que essa marca entre nessa pauta e consiga seguir em frente.
M&M – Quais os planos para o futuro do Contaí e da Nhaí! ?
Raquel – Em 2023 iremos consolidar muitas das coisas que construímos em 2022, que é justamente avançar nas pesquisas, na construção dessa comunidade consolidada, no relacionamento com essas empresárias e com esses empresários LGBTQIAP+. Consolidar nossa relação com patrocinadores, consolidar a nossa presença na agenda do ano tanto dos empresários e das empresárias LGBTs, como da imprensa e das marcas. Entrar na agenda mesmo das pessoas e fazer parte da estratégia, do planejamento. E a parte de expansão é porque vamos construir uma plataforma digital para que o relacionamento seja perene, não só nos eventos, que são o pico desse relacionamento, mas ele acontecerá o inteiro nessa plataforma digital. E também estamos expandindo para a América Latina. Isso é até um dos motivos pelos quais nos aproximamos de Santander e de Mercado Livre, porque são marcas fortes Latam e que vão nos ajudar a construir esse caminho em direção a nossa expansão. Então, em um ano, o que eu enxergo é justamente essa oportunidade de consolidação e expansão que o projeto está ganhando por conta de um trabalho incansável ao longo de 2022 inteiro e que já estamos incansavelmente trabalhando em 2023.
M&M – Qual a importância da coleta de pesquisas com dados exclusivos sobre o perfil de consumo, mercado de trabalho e a relação com dinheiro para pessoas LGBTQIAP+ no Brasil? Pretendem avançar com essas ações?
Raquel – Temos bastante coisa para descobrir, sobretudo quando saímos do eixo Rio São Paulo, mas ainda temos que descobrir melhor quem são essas pessoas. Precisamos ir nos recortes. Uma coisa é uma empreendedora que é lésbica, branca e é da elite, outra coisa é uma empreendedora negra, lésbica, da periferia. Uma coisa é ser da periferia de São Paulo, outra coisa da periferia do Ceará. Todos esses recortes ainda nos dizem muitas coisas e precisamos aprofundar. Outra coisa que queremos é descobrir melhor quais são as trajetórias do dinheiro da comunidade LGBT, quem são os compradores e as compradoras LGBTs? Para onde o dinheiro dessas pessoas vai e por que que o dinheiro dessas pessoas não circula dentro dos empresários e das empresárias LGBTs? Como é que fazemos para esse dinheiro fazer parte do ecossistema dessa comunidade? Para isso também precisamos de dados. Quando temos dados conseguimos dimensionar sempre melhor quais são os nossos caminhos estratégicos. Essa é uma diferença. Quando conversamos com uma marca, com uma empresa, e apresentamos dados legítimos e fidedignos, conseguimos demonstrar que o estamos falando não é um achismo e nem que estamos repetindo algum dado que é, por exemplo, difundido nas redes sociais, que não necessariamente é verdadeiro. Os dados que colocamos na mesa não mentem: são pesquisas, tem base científica dentro da estatística, com isso conseguimos dizer que o que estamos fazendo embasamento científico. E aí obviamente a conversa vai para um patamar mais profissional e menos da pauta social especificamente. Conseguimos discutir estrategicamente dentro de um outro lugar e isso torna tudo muito mais sério e óbvio que ponto mais sério é a sua conversa, maior a possibilidade de ser levado a sério e aí os recursos, os investimentos, costumam acontecer.
M&M – Quais as diferenças do avanço da pauta no Brasil e no mundo?
Raquel – Temos muito a contribuir porque a comunidade LGBT brasileira, por mais que sofra uma série de reações do conservadorismo retrógrado, tem muita coisa para contar e para servir como exemplo, não só para a América Latina, mas para o mundo inteiro. É uma comunidade muito rica do ponto de vista filosófico e cultural. A comunidade LGBT brasileira é muito propositiva e muito combativa em vários sentidos. O nosso relacionamento com a América Latina vai ser uma troca muito interessante, porque culturalmente são países muito diferentes, embora vizinhos. Entre os países que falam espanhol, eles também são muito diferentes. São culturas muito diferentes e, obviamente, a absorção da temática LGBT é diferente nos combates também, mas ao mesmo tempo, temos várias questões em comum e acho que é nessa diferença e nessas coisas comuns que vamos estabelecer um vínculo de comunidade. E, obviamente, falar como América Latina tem um peso muito maior até para avançarmos em termos de políticas públicas no mundo. Por exemplo, a gente vem se aproximando muito da ONU. A Nhaí! acabou de assinar com o pacto global da ONU. Inclusive estive em Genebra no fim do ano com eles e já estamos conversando sobre outras vezes em que eu vou falar pela na ONU. Uma coisa é eu falar sobre Brasil, outra é ir lápara falar sobre uma comunidade empreendedora na América Latina. Isso tem um outro peso. E, falando comercialmente, assim vamos fortalecendo o Brasil como uma espécie de Meca que movimenta essa comunidade LGBT, e que certamente também vamos descobrir muitas coisas sobre a comunidade LGBT que comercialmente vai servir muito paras empresas, para indústria brasileir. O próprio Contaí já é uma exportação brasileira que estamos levando de ideias de como construir um ecossistema.
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