Visibilidade trans: as iniciativas das empresas para pessoas trans

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Visibilidade trans: as iniciativas das empresas para pessoas trans

Formação, retificação do nome, redes de acolhimento e criação de banheiros neutros são algumas das ações para as pessoas trans de companhias como Ambev, Atento, BASF e IBM


29 de janeiro de 2023 - 10h00

No Brasil, o dia 29 de janeiro é conhecido como o Dia da Visibilidade Trans. Desde 2004, quando a campanha foi iniciada, a pauta ganhou mais força na sociedade e algumas empresas têm se comprometido com a agenda de diversidade e inclusão. Em conversa com as companhias IBM, BASF, Ambev e Atento, elas descrevem as ações e iniciativas que promovem voltadas às comunidades trans e LGBTQIAP+.

A data nasceu a partir da campanha “Travesti e Respeito” promovida por ativistas no Congresso Nacional, em Brasília. O movimento reivindicava os direitos da comunidade trans no país e promovia o combate a transfobia. Logo, a campanha se estendeu para o mês todo, e janeiro foi escolhido como o Mês da Visibilidade Trans, ou simplesmente “Janeiro Lilás”. Para além da discriminação, a vida das pessoas trans e travestis no Brasil é permeada pela a baixa escolaridade, o desemprego e a violência.

Visibilidade trans no mercado de trabalho

Segundo a pesquisa “Mapeamento de Pessoas Trans na Cidade de São Paulo”, 58% das pessoas entrevistadas realizam trabalho informal ou autônomo, de curta duração e sem contrato, e apenas 27% têm emprego formal com carteira de trabalho assinada. Já entre as pessoas que tinham alguma ocupação remunerada, 27% eram profissionais do sexo. Porém, este número aumenta para 90% quando falamos de travestis e mulheres trans, de acordo com o Dossiê 2019 da Antra Brasil.

A fim de reverter esta realidade, organizações e empresas têm criado iniciativas de formação, acolhimento e inclusão específicas para as pessoas trans. Assim, veja os exemplos da Ambev, BASF, Atento e IBM.

Ambev: compromisso com a diversidade

Ação da Ambev “Palco Beats” de trazer artistas trans e não-binários para os palcos de diferentes casas de shows espalhadas pelo Brasil, assumindo o cachês

Ação da Ambev “Palco Beats” de trazer artistas trans e não-binários para os palcos de diferentes casas de shows espalhadas pelo Brasil, assumindo o cachês (Crédito: Rony Hermandes)

Em 2016, a Ambev firmou um compromisso público com o respeito à diversidade. Desde então, tem realizado uma série de ações que vão desde apoio ao público interno e criação de diretrizes para eliminar o preconceito ou sexismo de suas marcas. A empresa segue as normas de conduta da ONU para empresas que suportam direitos LGBTQIAP+.

Me chame pelo meu nome (e pronome também!)

Por meio do projeto “Me chame pelo meu nome (e pronome também!)”, a companhia está apoiando a retificação do nome de colaboradores trans e travestis, de forma totalmente gratuita e com todo o suporte burocrático necessário. Atualmente, existem mais de cem pessoas trans na Ambev, em diferentes níveis hierárquicos. Além disso, a empresa também deu assistência financeira à ONG Casa Neon Cunha, casa de acolhimento para pessoas LGBTQIAP+, para que pessoas trans de fora da companhia também tivessem oportunidade de realizar a retificação.

Outro momento marcante em 2022, foi quando a Ambev nomeou a cantora, compositora, atriz e ativista social, Linn da Quebrada, como Consultora de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). Ela chegou para apoiar a companhia na ampliação de práticas de inclusão e visibilidade de pessoas LGBTQIAP+, especialmente da comunidade de pessoas trans e travestis.

Palco Beats

Além dessas ações, a Ambev, por meio da marca Beats, direcionou o olhar para a comunidade trans e está promovendo o Palco Beats. A iniciativa tem o intuito de colaborar com a visibilidade trans em palcos de diferentes casas de shows espalhadas pelo Brasil, assumindo cachês de artistas travestis, pessoas trans e não binárias. Até o momento, já foram mais de 10 palcos nas cidades de Curitiba (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES) e Brasília (DF). A companhia também apoiou, ao lado de Beats, a Marcha Trans.

TForma

A Ambev participou da segunda edição do Brewing Love, projeto que uniu diversas cervejarias e destinou parte do lucro obtido com a venda de cervejas especiais a instituições de acolhimento, proteção e inclusão da população LGBTQIAP+. Além disso, a empresa promoveu o curso Tforma, junto com a Academia da Cerveja, que ofereceu oportunidade de formação para pessoas trans no mercado cervejeiro. Por fim, em parceria com a ONG TODXS, a companhia promoveu mentorias para impulsionar projetos de empreendedorismo de pessoas trans e travestis. A empresa também apoiou a última edição da Feira de Empregabilidade de Pessoas Trans.

Atento: identidade, respeito e inclusão

Margarete Yanikian, superintendente de Responsabilidade Social da Atento no Brasil, e CEO da Atento, Dimitrius Oliveira

Margarete Yanikian, superintendente de Responsabilidade Social da Atento no Brasil, e Dimitrius Oliveira, CEO da Atento (Crédito: Divulgação)

Com o slogan “Aqui você é livre para ser quem você é”, a Atento apoia todos os colaboradores a serem eles mesmos e promoverem o respeito no trabalho. A companhia realizou uma pesquisa interna para analisar a representatividade de cada grupo e identificar os pontos de melhorias em seus programas de diversidade, equidade e inclusão. O estudo foi feito em parceria com a consultoria Goldenberg, em 2022. Os números apontaram que a população autodeclarada LGBTQIA+ dentro da Atento chega a 19,6% dos colaboradores, sendo 17,3% em posições de liderança.

Desse modo, a Atento publicou uma Política de Diversidade, Inclusão e Equidade. Adicionalmente, a companhia tem um Comitê Global de Diversidade e Inclusão, focado na implantação de uma estratégia de diversidade e na definição de indicadores para ajudar os grupos vulneráveis.

Grupos Aliados

“Impulsionados por esse propósito, criamos os Grupos Aliados. Eles são guiados pelos cinco pilares do nosso programa: PCD (pessoas com deficiência), LGTBI+, gênero, étnico-racial e geracional. Esses grupos são compostos por colaboradores de diferentes áreas, regiões e cargos que trabalham voluntariamente. Da mesma forma, na Atento, desenvolvemos um processo de detecção, prevenção e resposta ao assédio, apoiado por canais específicos e órgãos de investigação. Este procedimento abrange todos os tipos de assédio e discriminação reconhecidos sob leis federais, estaduais e locais”, explica a superintendente de Responsabilidade Social da Atento no Brasil, Margarete Yanikian.

Práticas de inclusão corporativa

Especificamente dentro do pilar LGBTQIA+, a Atento conta com programas de contratação em parceria com organizações, como a Transempregos. Desde 2013, a companhia também respeita o nome social das pessoas trans e não binárias, incluindo o uso em crachás, e-mails e em cartões de vale refeição e alimentação. Desde então, mais de 1.300 pedidos já foram atendidos.

“Além disso, no mesmo ano, foi implantado o uso do banheiro social, de acordo com a identidade de gênero de cada indivíduo. No Brasil, a Atento é associada ao Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ desde 2014 e participa anualmente da Live 101010 – Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, onde, a cada mês, um executivo de uma grande companhia aborda um dos 10 Compromissos Empresariais para a Promoção dos Direitos LGBTI+, iniciativa que visa orientar práticas corporativas para promover um ambiente respeitoso, seguro e saudável para as pessoas da comunidade, além de orientá-las e educá-las para o respeito aos seus direitos.”, destaca Margarete Yanikian.

A executiva relata que a empresa também conta com rodas de conversa, o DNA Talks. Deste modo, os debates abordam os mais variados temas e sem relação direta com o trabalho, como parentalidade, carreira, saúde mental, diversidade e inclusão, entre outros.

“Entendemos nosso papel transformador como um dos maiores empregadores do país, ampliando a diversidade no ambiente corporativo”, afirma o CEO da Atento, Dimitrius Oliveira. “Acreditamos que a diferença de vivências e conhecimentos de um time diverso o torna mais criativo e inovador. Esse é o nosso maior ativo.”

BASF: o valor de times diversos

Pintura realizada no Complexo Acrílico da BASF, em Camaçari (BA), em 2022, durante a semana de D&I da BASF (Crédito: Divulgação)

Pintura realizada no Complexo Acrílico da BASF, em Camaçari (BA), em 2022, durante a semana de diversidade e inclusão da BASF (Crédito: Divulgação)

A BASF acredita que times diversos trazem interações de maior valor, geram inovação e soluções diferenciadas. Além disso, a empresa entende que diversidade e inclusão inclui um processo de mudança de crenças e comportamentos em toda a companhia. Para isso, são utilizadas a metodologias de “change management” (gerenciamento de mudança, em tradução livre), com ações frequentes e institucionais para conscientizar e educar os colaboradores.

Como parte da governança do tema na companhia, a BASF conta com uma área dedicada. A Gerência de D&I faz parte do time de liderança de RH para a América do Sul e atua para integrar os conceitos de D&I como um pilar crucial de todos os seus processos, como em práticas de recrutamento e seleção, desenvolvimento de lideranças, experiência do colaborador, remuneração e benefícios, entre outros.

Banco de Talentos de Diversidade

Uma iniciativa da BASF é o Banco de Talentos de Diversidade, com o objetivo de buscar profissionais dos grupos de diversidade para atuar em seus negócios. Outro ponto é que, junto aos times de Saúde e Bem-Estar, as áreas de RH e D&I conseguiram estabelecer uma equipe dedicada a dar apoio e suporte a qualquer colaborador(a) que esteja em processo de transição de gênero. Isso inclui suporte psicológico e clínico, bem como assistências com questões de nome social ou plano saúde.

De modo a ampliar a atuação para fora da organização, a empresa assume diversos compromissos públicos a fim de promover os direitos humanos. Dentre eles estão o Pacto Global da ONU, os Princípios de Empoderamento das Mulheres e o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+.

Junto às signatárias do Fórum, a BASF aderiu a carta “10 compromissos da Empresa com a Promoção dos Direitos LGBTI+”.

IBM: apoio, assistência e visibilidade

Stephanie Stolfo, Líder de Diversidade e Inclusão – América Latina da IBM (Crédito: IBM)

Em 2018, a IBM lançou o PAT (Programa de Assistência às pessoas Trans), iniciativa que proporciona apoio médico, psicoterápico e psicoterapêutico aos seus funcionários trans. O projeto oferece cobertura de todos os procedimentos do processo transexualizador e subsídio de 75% na compra da terapia hormonal. Também conta com extensão aos filhos ou dependentes legais de seus funcionários que sejam transgêneros. Outras ações da IBM para os funcionários LGBTQIAP+ incluem a criação de banheiros neutros, assim como a concessão dos mesmos benefícios oferecidos aos casais heterossexuais para os homoafetivos legalmente casados.

A empresa também realiza os Grupos de Afinidades, com reuniões periódicas de funcionários voluntários para debater assuntos de interesse. O espaço também serve para compartilhar experiências e dificuldades, e pensar em ações que promovam o respeito e empoderem esses grupos.

Visibilidade trans na tecnologia

A IBM Brasil ganhou o último prêmio de Melhor Empresa para pessoas LGBTQIAP+ trabalharem da Great Place To Work (GPTW). No ano passado, patrocinou o evento Trans in Tech, em que realizou uma série de treinamentos sobre tecnologia, a fim de auxiliar pessoas trans a ingressarem no mercado de trabalho.

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