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Como a Make-A-Wish International tenta ser um “negócio com coração”

Luciano Manzo, CEO da Make-a-Wish International, comenta a estrutura de negócios por trás de uma organização sem fins lucrativos e destaca papel da iniciativa privada


6 de setembro de 2024 - 11h33

Em 1980, o pequeno norte-americano Chris Greicius, de sete anos, enfrentava a leucemia e tinha o sonho de ser policial. A comunidade em que vivia em Phoenix, no estado do Arizona, se mobilizou para tornar seu desejo uma realidade, pelo menos por um dia.

Essa foi a faísca que criou a imensa chama do que hoje é a Make-A-Wish, descreve Luciano Manzo, CEO da operação internacional da organização sem fins lucrativos que tem como missão transformar as vidas de crianças com doenças graves.

make-a-wish international

Da esquerda para a direita: Juliana Ayrosa, diretora executiva da Make-A-Wish Brasil, Luciano Manzo, CEO da Make-Wish-International; e Maria Camila Triana Ramirez, diretora da América Latina da Make-A-Wish Internacional (Crédito: Divulgação)

A ONG conta com duas operações principais. A dos Estados Unidos é responsável por toda atividade no país junto a 52 seções locais. Já a sede da Holanda, na Europa, atende a Make-A-Wish International nos 50 países em que a organização opera, ao lado de 40 afiliados e mais de 8 mil voluntários.

Atualmente, a Make-A-Wish International realiza 20 mil desejos ao ano e tem meta de alcançar 25 mil até o ano que vem. “Junto com os Estados Unidos garantimos mais de 36 mil desejos por ano, o que significa um a cada 16 minutos”, afirma Manzo.

ONG como negócio

“Somos um negócio com coração”, descreve o líder. Em uma transição de carreira de mais de 30 anos atuando em grandes corporações e migrando para o terceiro setor, Manzo buscou levar a disciplina, foco e conceito de negócio para uma organização que tinha um bom propósito, mas necessidade de gestão, estratégias e processos.

“Precisamos nos afastar da concepção de que as organizações sem fins lucrativos não contam como uma estrutura profissional. Somos muito bem geridos e temos uma governança muito forte na nossa atividade”, alega. Nos EUA, a organização está entre 1% de ONGs com a melhor posição no ranking do Charity Navigator, que avalia instituições de caridade no país.

A posição dá credibilidade aos doadores, sejam pessoas físicas ou corporações. Ao todo, 80% dos fundos são destinados à realização dos desejos, enquanto 20% é destinado à capitalização da estrutura, como pagamento de salários, por exemplo.

Relevância do Brasil

De acordo com o CEO, a expansão de operações no Brasil é uma oportunidade relevante no cenário internacional. Um estudo conduzido pela ONG revelou que o número de crianças que são elegíveis para a realização de desejos no País é “incrivelmente alto”, descreve.

Entre os parceiros no Brasil estão grandes companhias como Latam, Azul, Disney, GoodStorage, AlmapBBDO, Robert Half, Playstation e Outback. Em uma ação com o restaurante durante o “Bloomin’ Day”, a ONG levantou mais de US$ 60 mil por meio de doações a cada prato da famosa cebola do Outback vendido.

Nesta sexta-feira, 6, a Make-A-Wish International anuncia colaboração com a Uber. Já existente no México, a parceria exportada ao Brasil fornece apoio logístico para crianças e adolescentes em tratamento de câncer e outras doenças graves.

A união visa tornar a mobilidade para clínicas e hospitais mais segura e cômoda, sobretudo para as famílias que moram fora dos grandes centros de tratamento no País.

“No momento estamos apenas atuando na superfície com os 200 desejos que são realizados anualmente aqui para que o potencial seja imenso no Brasil. Estamos confiantes de que no futuro próximo poderemos aumentar e reforçar a atividade nesse mercado para garantir que o maior número possível de crianças desfrute dos benefícios de seus desejos”, declara Manzo.

Da filantropia ao ESG

Muito antes da agenda ESG ganhar tração, o universo corporativo e financeiro já abordava aspectos como a responsabilidade social e a filantropia. Para o CEO, estamos vivendo atualmente em um cenário de maior sensibilidade das companhias, que querem ser associadas a organizações com um propósito forte, endossando suas atividades lucrativas.

Essa é, segundo ele, uma demanda bastante puxada pelos colaboradores, sobretudo das novas gerações em relação à marca empregadora das companhias. Hoje, profissionais buscam trabalhar em empresas que, de fato, agreguem valor à sociedade.

A comunicação para a Make-A-Wish

Um dos focos da comunicação da Make-A-Wish International é mudar a percepção de que um desejo é passageiro. Na verdade, é algo que muda a vida da criança, da família e de toda a comunidade em que estão inseridas, trazendo de volta a infância e fortalecendo-as em meio a tratamentos.

Há, ainda, uma crença errônea de que a organização garante o último desejo de crianças e jovens. Manzo confessa que, na grande maioria das vezes, elas são curadas e se tornam testemunhos para a instituição.

“A comunicação é fundamental para a nossa atividade, porque não temos um produto ou serviço para apresentar aos nossos principais stakeholders, doadores e apoiadores. Portanto, a forma como contamos as nossas histórias é essencial para garantir que a mensagem seja transmitida corretamente”, diz o líder.

Tecnologia no terceiro setor

A tecnologia é uma dos artifícios para manter a harmonia e conexão entre os afiliados locais da operação internacional da Make-A-Wish.

A instituição conta com uma plataforma de CRM da Salesforce com diversos níveis de maturidade em cada país. A ferramenta é utilizada para três frentes principais: garantia do desejo e suas especificidades; suporte tecnológico para a captação financeira; e gestão de voluntariado.

Soluções como a IA, aponta Manzo, estão revelando um horizonte de oportunidades, mas também de riscos. Na semana que vem, o conselho internacional da Make-A-Wish se reúne em Lima, no Peru.  O encontro pretende abordar os objetivos e interesses da organização na América Latina, bem como discutir as estruturas e políticas para o uso da tecnologia em todo o mundo.

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