A noite dos encapuzados

Geraldo Leite
16 de maio de 2013 - 10h03

No começo da década de 1960, o artista Wesley Duke Lee venceu o “Oscar” da publicidade francesa com uma série de ilustrações que preparou para a campanha do carro . Foi uma das primeiras vezes em que um profissional brasileiro ganhou notoriedade no mercado internacional de propaganda.

O Wesley, além de seu talento como desenhista, já era conhecido por sua personalidade singular. Era neto do general Lee, entusiasta da bossa nova, dos artistas de vanguarda e frequentava muito os “sallons”, como falavam, da boemia da Rua Augusta.

Após a premiação foi comentado que os diretores de arte das agencias de São Paulo, com inveja, não haviam reconhecido e valorizado a conquista brasileira e que o Wesley estaria ressentido com o fato.

Foi quando surgiu uma “conspiração”, comandada pelo Alex Periscinoto, com forte ajuda do Júlio Cosi Jr.

Na noite em que o artista se despedia de São Paulo para uma temporada na Europa, numa cantina onde se encontrava com a família, entraram de repente uns encapuzados com umas tochas, à lá Klu Klux Klan, que exigiam a cabeça do homenageado.

Um dos mascarados (era o Júlio Cosi Júnior!) leu a saudação em nome de todos, que depois, uma a um, tiraram o capuz e abraçaram o Duke Lee.

Dizem que ele até chorou.

No grupo dos encapuzados, além do Alex e do Júlio, estavam: Lessin, Balsi, Lélio, Geri, Prosperi, Sílvio, Nice, Marshall, Cardaci, Licínio, Dale, Duailibi, Frank e Clício. Deles, consigo identificar apenas o Roberto Dualibi e o Eric Nice. O pessoal com mais tempo de mercado saberá reconhecê-los.

Tempos bem mais heroicos da propaganda brasileira. Um período em que a convivência com os artistas era mais comum. Quando a concorrência era menos predatória. Onde o bom humor norteava as ações e, de certa forma, identificava os profissionais do setor. Bons tempos. E que bom que eu vivi um pouco disso.

(O tema dessa matéria eu tirei de uma edição de 60 anos atrás! A coleção das Revistas Propaganda é uma das boas heranças que o meu pai, Manuel Leite, me deixou.)

* Geraldo Leite é sócio-diretor da Singular, Arquitetura de Mídia