Ponto de vista
Sobre cinzas, crises e planos
Quem foi mesmo que disse que, no Brasil, o ano não começa antes do Carnaval?
Quem foi mesmo que disse que, no Brasil, o ano não começa antes do Carnaval?
Meio & Mensagem
15 de fevereiro de 2016 - 8h08
Recentemente li uma matéria relatando que, de acordo com um estudo da Universidade de Scranton, nos Estados Unidos, 70% dos americanos tinham intenção de fazer promessas de ano novo. No entanto, quando a realidade grita “valendo”, ainda em janeiro, apenas 40% dos entusiasmados com as promessas seguem adiante.
Desse número, menos da metade consegue atingir seus objetivos. “Falta de motivação, dificuldade de estabelecer uma nova rotina e mudar antigos hábitos são as barreiras mais citadas pelos entrevistados”, segundo o psicólogo John Norcross, um dos autores da pesquisa.
Todos os anos a história se repete. Mas, no Brasil ela sofre outras influências, como o Carnaval. Já virou até clichê dizer que, no nosso País, o ano começa mesmo após o Carnaval. E isso “funciona” para muitos. Quem esperou o fim do Carnaval, de fato, para assumir que 2016 estava iniciando? Quem esperou essa data para mudar de casa, passar menos horas conectado, trocar o carro pela bicicleta ou simplesmente emagrecer – deflagrando o começo do seu “regime”? Pronto! 2016 chegou e agora vai! Afinal, já passou o dia de cinzas (a tão famigerada quarta-feira “ingrata”).
Agora, após Carnaval, com as pessoas assumindo que as férias realmente acabaram, chega o momento de investir no novo ano e no trabalho, mesmo que não pareça haver “nada de novo debaixo do sol”… De acordo com alguns indicadores financeiros, a bolsa volta a operar em queda e desperta a atenção e o nervosismo dos investidores e empresários. A crise continua preocupante e o mercado está retraído. O panorama não parece otimista, mesmo que os últimos dias (os de Momo) exibissem uma alegria para lá de contagiante.
É nesse cenário de cinzas, crises e planos que me pego refletindo sobre as marcas que investiram fortemente no Carnaval. Elas apostaram que, a despeito da crise, os brasileiros iriam às ruas e se divertiriam com as suas marcas do coração. Nesse Carnaval, vimos uma gama de ações promocionais diferenciadas na junção simbiótica entre artistas, camarotes, blocos e anunciantes. Uma fórmula que sempre pareceu funcionar e desafiar os prognósticos econômicos mais sombrios. Novamente deu certo!
O mesmo foi visto no mercado midiático. Se há, notadamente, uma pulverização da audiência em diversas plataformas, igualmente há uma exacerbação da cultura participativa e da produção de conteúdo pelos consumidores dos meios. No Carnaval, tal comportamento não foge à regra dos novos tempos digitais. Prova disso são os diversos veículos de comunicação que, independentemente da plataforma de origem, foram impulsionados pela produção do público consumidor e os diversos usos de hashtags, identificando suas temáticas e conteúdos midiatizados.
Para atingir seus objetivos, marcas e veículos, diferentemente dos fazedores de promessas de ano novo, ignoraram a crise, os hábitos antigos pautados na segurança dos investimentos em formatos tradicionais de comunicação e o senso comum dos brasileiros (de que o ano só decola mesmo “depois do Carnaval”) e, motivados pelas oportunidades de uma festa tão significativa, apostaram no potencial dela, contrariando os prognósticos. Resultado: experiências cheias de significados emocionais e afetivos, com lembranças memoráveis para os foliões.
Veículos de televisão, jornais, rádios, revistas e portais de internet buscaram, por meio de ações promocionais, ligações rentáveis com os foliões. Mesmo nas ruas, curtindo (loucamente) o Carnaval, o consumidor esteve em contato com as marcas dos veículos que consomem. A ligação continuou presente, forte e promissora. Quem foi mesmo que disse que, no Brasil, o ano não começa antes do Carnaval?
* Diego Oliveira é diretor de contas da Ipsos Media CT
Compartilhe
Veja também
Carmed cria versão especial para celebrar show da Madonna
Carmed Madonna será distribuído gratuitamente no bairro de Copacabana no próximo sábado, 4; produto também será entregue em alguns voos da Azul e trajetos da Viação 1001
Entenda a recuperação extrajudicial do Grupo Casas Bahia
Renegociação será feita direto com os credores e promove alongamento da dívida e mudança nos juros pagos