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Mídia

BBC celebra 80 anos de operação brasileira

Empresa que começou com conteúdo internacional traduzido em português tem, hoje, equipes estabelecidas para realizar reportagens multimídia sobre o Brasil


28 de março de 2018 - 13h44

Em março, a BBC Brasil e a BBC Mundo, parte latino-americana do Serviço Mundial BBC, completa 80 anos desde que a frase “O senhor Hitler entrou hoje à noite em Viena” foi enunciada pelo locutor Manuel Braune (“Aymberê”), marcando o início da transmissão de notícias via rádio para o Brasil. À época, a cobertura constituía na tradução do conteúdo em inglês com a finalidade de informar o público sobre o início da Segunda Guerra Mundial e a situação do exército brasileiro (FEB) na Itália.

Hoje, de acordo com Silvia Salek, diretora de redação da BBC Brasil, além de 40% do conteúdo ser produzido sobre o Brasil, cerca de 20% é traduzido para o inglês. A empresa deixou de trabalhar somente em rádio há 19 anos, quando criou seu site e, atualmente, é um serviço multimídia, que alcança 6 milhões de pessoas por semana e 20 milhões por mês no Brasil, segundo dados da empresa.

 

Manuel Braune (“Aymberê”) foi o primeiro locutor do serviço para o Brasil (Crédito: Divulgação)

Entre outras transformações, se destacam a frequência do conteúdo e as diferentes colaborações com outras partes do serviço global da BBC. Desde que estabeleceu uma redação em São Paulo, em 2006, e se tornou digital, a unidade Brasil prioriza conteúdo aprofundado em detrimento do hard news. “O noticioso, no online, tem vida curta. Como não somos uma empresa muito grande no Brasil e há diversos veículos que cobrem o factual, tentamos tornar essa desvantagem em uma vantagem e produzir conteúdos com vida longa”, conta Silvia.

A BBC também tem investido em novos formatos para contar histórias, como ilustrações e animações que dão continuidade às reportagens publicadas. “Se você tem uma audiência boa para uma matéria, isso não significa que o conteúdo tenha que parar por aí. Reduzimos nossa quantidade de matérias diárias com a ideia oferecer relevância e aprofundamento e poder aproveitar o conteúdo usando diferentes formatos para públicos diferentes”, explica Silvia. A empresa também promete investir em jornalismo investigativo, como matérias sobre como perfis falsos usados para manipular as eleições brasileiras em redes sociais.

As comemorações dos 80 anos da BBC Brasil contam com uma série de reportagens especiais recordando a cobertura dos brasileiros na guerra. O documentário Os Sons Esquecidos dos Pracinhas, por exemplo, resgata relatos, crônicas e até mesmo sambas compostos pelos soldados brasileiros enviados à Segunda Guerra. Ele foi ao ar em 14 de março, data oficial do início da BBC Brasil, no site do veículo, onde permanece disponível.

 

Jornalistas da BBC Brasil com Zenóbio da Costa, general da FEB, em outubro de 1944 (Crédito: Divulgação)

Em entrevista ao Meio & Mensagem, Silvia Salek, diretora de redação da BBC Brasil, deu suas impressões sobre o marco, as mudanças no jornalismo e detalhou para quais áreas são destinados os próximos investimentos da BBC Brasil. Confira:

Meio & Mensagem — Como você enxerga esse marco na história da BBC Brasil?

Silvia Salek — Eu acho que esse marco é uma oportunidade fantástica para as pessoas que nos acompanham no digital. Muita gente acha que começamos há cinco anos atrás, mas nós temos um legado de cobertura bem maior. Por conta dessa pesquisa mais detalhada sobre os 80 anos, fui perceber mais a fundo o alcance que nós temos. Recentemente nós tivemos um salto de audiência que nos deu um certo orgulho, mas se você observar o que era a BBC em seu início dá para ver o quão fabuloso era nosso impacto. Todos que iam ao cinema naquela época assistiam às reportagens antes dos filmes começarem. Os brasileiros que ouviam à BBC até imitavam o Aymberê. Todos conhecem alguém que ouvia à BBC.

 

Silvia Salek trabalha na BBC há 18 anos (Crédito: Divulgação)

M&M — A BBC mudou muito desde então?

Silvia — Sim, muito. Começamos traduzindo o conteúdo da BBC britânica, depois passamos a incorporar rádio-teatro e, mais tarde, começamos a fazer reportagens autorais. Quando fomos para o digital, nossa maior transformação foi a cobrir Brasil também, já que antes só fazíamos notícias internacionais. Hoje, 40% da nossa cobertura é brasileira e 20% do conteúdo é traduzido para o inglês. Outra questão foi mudar a abordagem. Cinco anos atrás, fizemos uma análise e vimos que tinham matérias que ficavam num limbo como reportagens traduzidas e até reportagens boas. Tentávamos abraçar o mundo e reportávamos de tudo um pouco e isso não dava um resultado bom. Então, buscamos não publicar mais o noticioso, porque ele, no online, tem vida curta. Como não somos uma empresa muito grande no Brasil e há diversos veículos que cobrem o factual, tentamos tornar essa desvantagem em uma vantagem e produzir conteúdos com vida longa e possíveis desdobramentos em outros formatos. Buscamos nosso espaço e inovamos nosso conteúdo.

M&M — E o que seguiu o mesmo?

Silvia — Nossa filosofia segue parecida. Nos anos 1930, nós éramos os únicos que faziam a cobertura da guerra por áudio. Esse era nosso diferencial. Além disso, os  historiadores que entrevistamos para as matérias especiais dizem que a BBC dava um enfoque único para as situações reportava. Isso foi algo que mantivemos, assim como o compromisso com a imparcialidade e independência.

M&M — Quais são os principais desafios para BBC Brasil nos próximos anos?

Silvia — Acredito que o pior são os recursos, que não são infinitos. Nós somos uma empresa pública. Além disso, outro desafio é se superar. Nós chegamos em um certo nível de audiência no Brasil em que estamos pensamos em como dar um outro grande salto. Sempre buscamos depurar para sermos mais produtivos, eficientes e interessantes. Esse processo não termina. Por isso, valorizamos muito a crítica.

M&M — Nesses 80 anos o consumo de notícias mudou. Como continuar a inovar e atrair a atenção do público?

Silvia — Eu acredito que conteúdo jornalístico, se bem exposto e relevante, consegue abraçar o público. Antes nós fazíamos de tudo para emplacar nossas reportagens em grandes portais, como o UOL, para ganhar audiência. Hoje, com as redes sociais, tudo mudou. Você tem que dar relevância para o leitor. Quando você faz um jornalismo relevante, aquela pessoa é atingida.

M&M — Veremos alguma mudança na BBC Brasil a curto prazo?

Silvia — Além do conteúdo que vai pipocar aqui e ali, vamos trazer a questão da inovação e da coprodução com o resto da BBC  Internacional, não só a inglesa. Estamos mais integrados do que no passado. Antes, nós funcionávamos como uma ilha, porque a BBC tem vários braços, é uma espécie de noticiário em várias línguas. Um olhar internacional pode dar valor à algo brasileiro e fazer com que o tema funcione para uma audiência externa, o que para nós é interessante. Inclusive, estamos produzindo um documentário sobre as novas espécies da Amazônia com uma equipe de Londres que já trabalha com documentários e natureza e um repórter brasileiro. Além disso, para meados deste ano, vamos fazer alguns eventos em diferentes partes do Brasil para nos conectarmos com outros estados e municípios, se deslocando da cobertura pautada pelo eixo Rio-São Paulo. Temos um compromisso com diversidade além de gênero e raça. Queremos apresentar a BBC e procurar contatos em um road show por universidades.

M&M — O aumento do interesse em ilustrações e animações visa acompanhar as tendências de formatos para o jornalismo online?

Silvia — Sem dúvida, é uma tendência no sentido de que você tem espaço para inovar usando a tecnologia de outras áreas. Nós trabalhamos com o digital e os resultados mostram fenômenos interessantes sobre determinadas reportagens, mas não mostram a capacidade delas em outros formatos. Se uma reportagem tem um resultado bom, isso não significa que a audiência acaba por ali. Você pode fazer uma ilustração e ver um mesmo tema em formato diferente, com outra abordagem e para diferentes públicos. Nossa força vem de oferecer reportagens mais pensadas e explicadas. Reduzimos nossa quantidade de matérias diárias com a ideia oferecer relevância e aprofundamento e poder aproveitar o conteúdo usando diferentes formatos para públicos diferentes. Se uma matéria ficar boa, podemos fazer com que ela se desdobre, podemos contar o making of, como foi a apuração e todo o processo do repórter. Estamos inclusive recrutando mais jornalistas e produtores de reportagem interativa para nossas centrais em Londres e São Paulo.

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