Coroação do Rei Charles III: midiática, mas nem tanto
Primeira cerimônia de coroação da monarquia britânica em 70 anos e após evoluções midiáticas se depara com restrições de cobertura e transmissão pelo Palácio de Buckinham
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Thaís Monteiro
5 de maio de 2023 - 7h50
Às 6h da manhã do sábado, 6, acontece a coroação do Rei Charles III. Como qualquer grande evento da realeza britânica, o ritual religioso promete atrair multidões dentro e fora do Reino Unido. Embora seja dois mil o número de convidados para comparecer à Abadia de Westminster, em Londres, cerca de 350 milhões de pessoas devem assistir ao evento pela mídia, segundo cálculo do portal National World. Porém, veículos britânicos questionam restrições do palácio sobre a cobertura do evento.
Uma reportagem do jornal The Times noticiou que as emissoras BBC, ITN e Sky questionam regras impostas pelo Palácio de Buckingham. Uma delas foi proibir o uso de câmeras durante o momento em que ele é ungido pelo óleo do crisma, parte considerada sagrada da coroação.
O mesmo foi feito na coroação da Rainha Elizabeth II, mas os questionamentos à monarquia foram feitos após uma série de limites serem impostos na cobertura do funeral da rainha, em 19 de setembro de 2022. O The Guardian reportou que emissoras tiveram que submeter um vídeo dos dez dias de luto da monarca para aprovação e só puderam usar 60 minutos de material do funeral e que representantes da família real mantiveram contato com as emissoras para aprovar ou vetar imagens antes de transmitidas.
Casamento real, engajamento virtual
Em princípio, os veículos leram as restrições como um pedido de respeito ao luto dos membros da realeza. Já no contexto da coroação, as emissoras alegam que esse é um evento de interesse público.
De acordo com o professor Renato de Almeida Vieira e Silva, doutor em comunicação e especialista em Realeza Britânica, o controle da mídia sempre foi uma prática da família real do Reino Unido, principalmente à medida que os eventos se tornaram amplos e complexos.
A coroação da Rainha Elizabeth, em 1953, foi a primeira transmitida pela televisão. A BBC, que é uma emissora pública, criou a programação junto com o palácio, nobres e padres. O evento atingiu 20 milhões de pessoas. Foi a primeira vez que a audiência de televisão superou a audiência do rádio.
Em uma era ultra-digitalizada, em que todos são transmissores e receptores de conteúdo a qualquer momento, na opinião do especialista, as limitações visam evitar a propagação de notícias que não forem produzidas pela própria Casa Real, cujo interesse é que tudo corra bem para proteção de sua própria imagem e exposição internacional do Reino Unido. Porém, há um fator externo de segurança que preocupa os britânicos, que é garantir a segurança e evitar riscos de atetados. Grupos contrários à monarquia têm feito manifestações em aparições públicas dos monarcas e preparam protestos durante a coroação.
Segundo o Eduardo Tessler, sócio-diretor da consultoria Mídia Mundo, os limites da cobertura jornalística visam evitar que a liturgia do cargo não esteja em discussão, o que compara com as restrições impostas pelo Vaticano sobre o Papa.
A consequência, para ele, é o efeito contrário à intenção. Na busca de atender o interesse público, conseguir imagens exclusivas se torna um desafio que os veículos irão encarar. “Torna-se um desafio de se obter alguma imagem não autorizada, roubada, para viralizar. É humanamente impossível obter sucesso em um pacto de silêncio com as multidões”, coloca.
Das 22h desta sexta-feira, 5, às 11h do sábado, 6, a CNN Brasil transmite reportagens sobre os rumos da monarquia a partir desse novo reinado, sobre perspectivas de entretenimento durante o evento, o documentário “The Whole Story – A Nova Era da Monarquia”, sobre o início do reinado de Charles e Camilla, e entrevistas com especialistas reais.
A transmissão do evento inicia 1h15, com a presença do correspondente sênior internacional da CNN Brasil, Américo Martins, em Londres.
A partir de 6h, a Globonews vai abrir o sinal para não assinantes nas operadoras, no Globoplay e no G1. A equipe montou um estúdio exclusivo para o evento com efeitos visuais inspirados na Abadia de Westminster. A coroa também será projetada virtualmente e de forma sutil no cenário.
A cobertura será comandada por Cecília Flesch, com a tradução simultânea de Anna Vianna, participação do historiador e especialista Francisco Vieira, dos comentaristas internacionais Marcelo Lins e Marita Graça e dos correspondentes Cecília Malan, Rodrigo Carvalho, Murilo Salviano e Natalie Reinoso. Durante a semana que antecedeu a coroação, a empresa veiculou reportagens especiais sobre a instituição britânica, expectativas, entre outros assuntos que englobam a monarquia.
Também será possível acompanhar o evento pelo canal do YouTube da família real ou da emissora britânica Sky News, assim como pelo site da BBC.
Parte da revolta dos players de comunicação tem origem na própria construção de narrativa em torno da realeza britânica, que tem contribuição da própria família real. Segundo Renato de Almeida Vieira e Silva, desde o início do século XX a monarquia britânica aprimora sua imagem diante da opinião pública com atributos próprios de espetáculo.
“Com o tempo, o que era espetacular, se tornou magnífico, diante da correta exibição de todas as partes e peças envolvidas, causando impacto sobre os públicos que assistem”, conta. Assim, o público passou a se interessar mais pela monarquia e os cuidados da família real em relação à opinião pública se intensificou, principalmente depois da morte da Princesa Diana, que repercutiu de forma desfavorável à monarquia.
Assim, os monarcas se viram cada vez mais dependentes de assessores para frear a dinâmica dos tabloides. “Qualquer notícia, falsa ou não, sobre eles passa a ter efeitos que podem ser desastrosos”, afirma.
Com a coroação de Charles III, não será diferente. “A cerimônia de sábado, apesar das restrições protocolares, terá câmeras por todos os lados. Qualquer movimento não previsto de Charles tem potencial de virar meme no minuto seguinte. Será um evento para preservar tradições – carruagem, jóias, coroa – e atrair curiosos. Mas não multidões”, conclui Tessler.
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