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Cresce mídia digital independente na América Latina

Veículos que buscam uma melhor gestão pública e combate à corrupção são alvos de violência ou ameaças, em decorrência de suas reportagens


21 de julho de 2017 - 16h43

(Crédito: reprodução)

Melhor gestão pública e combate à corrupção são temas veementemente abordados por diversas mídias digitais e independentes da América Latina. Mais da metade (66%) dos veículos produziram histórias publicadas pela imprensa internacional e 72% pelos veículos do seu país de origem. Como exemplo deste primeiro grupo está o artigo “The Phony Businesses of Veracruz”, de Animal Político, usado pela Associated Press e The Guardian e responsável por promover uma investigação completa pelo governo mexicano, que encontrou milhões de dólares e diversas contas bancárias ligadas ao Javier Duarte, ex-governador de Veracruz.

Estes dados são do estudo Ponto de Inflexão, publicado pela organização sem fins lucrativos de apoio a jornalistas empreendedores SembraMedia, em parceria com a empresa filantrópica Omidyar Network. A pesquisa analisou 100 startups de jornalismo digital – que variam entre pequenos projetos de voluntários voltados para nichos de público e organizações jornalísticas –, encontrados na Argentina, Brasil, Colômbia e México.

Para Janine Warner, co-fundadora de SembraMedia, os empreendedores da mídia digital estão transformando o modo como o jornalismo é conduzido na região. “Eles geram mudança, promovendo leis mais adequadas, defendendo os direitos humanos, expondo a corrupção e combatendo o abuso de poder. Estão determinados a produzir notícias independentes, em países extremamente polarizados – e muitos deles estão pagando um alto preço por isso”, disse a profissional, em nota.

Das organizações pesquisadas, 45% foram alvo de violência ou ameaças em decorrência de suas reportagens e 20% sentiram-se obrigadas a modificar seu estilo jornalístico. Segundo a pesquisa, o Congresso em Foco, do Brasil, enfrentou 50 processos por uma matéria a respeito dos super salários ilegais de representante do governo. Metade dos veículos sofreram cyber-ataques e 25% perderam patrocínios publicitários em razão de tópicos trabalhamos pela organização.

De acordo com os dados de Pontos de Inflexão, 441 sites de mídia digital independente foram fundados, a partir de 2006, representando uma média de 44 novas organizações por ano

Entre os empreendimentos analisados, 70% começaram seus negócios com menos de US$ 10 mil e, hoje, 12% faturam anualmente algo igual ou superior a US$ 500 mil. De acordo com os dados de Pontos de Inflexão, 441 sites de mídia digital independente foram fundados, a partir de 2006, representando uma média de 44 novas organizações por ano. “Depois de passar anos trabalhando com jornalistas empreendedores na América Latina, sabia que o trabalho deles vinha ganhando importância, mas não tinha me dado conta do impacto que eles estavam causando”, falou Janine Warner.

Ao todo 55% conquistaram prêmios de jornalismo humanitário, pelo seu trabalho. O Connectas (Colômbia) e o Aristegui Noticias (México), que venceram o Prêmio Pulitzer pela investigação sobre os Panama Papers, são um exemplo disto.

Como crescer e impactar

Proteção, profissionalismo e parceria foram os requisitos, levantados pela relatório, como os principais para permitirem o acender destas organizações e um impacto maior de suas atividades. No primeiro tópico, a SembraMedia e a Omidyar Network sugerem que patrocinadores e investidores podem apoiar financeiramente e legalmente os veículos, com o intuito de evitarem ataques e conseguirem rebatê-los. No segundo, expansão de trabalho, garantia de independência e segurança contra eventuais sanções econômicas mostram modelos de negócios e empreendimentos mais fortes. Por fim, as parcerias auxiliariam organizações a ampliar suas divulgações e promoverem seus conteúdos.

“A amplitude, profundidade e escala dos desafios à democracia, à transparência e à prestação de contas encontrados por toda a região são muito preocupantes. Por isso, o papel da mídia independente nunca foi tão imprescindível”, explicou Felipe Estefan, chefe de investimentos da Omidyar Network. “Os patrocinadores, os investidores e a sociedade civil devem apoiar essas organizações para assegurar que continuem aptas a provocar um impacto real, desenvolver empreendimentos sustentáveis e atuar como modelos inspiradores para os demais, por toda a América Latina e no mundo”, acrescentou ele.

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