Fora da Globo, amistosos da seleção não terão publicidade
Negociação entre a emissora e a CBF não avança e confederação exibirá jogos via internet; Facebook seria um potencial parceiro
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Luiz Gustavo Pacete
30 de maio de 2017 - 12h41
Os próximos amistosos da Seleção Brasileira, em 9 de junho contra Argentina e 13 de junho com a Austrália, não serão exibidos pela Globo. Na tarde dessa segunda-feira, 29, a emissora confirmou que não chegou a um acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os jogos serão veiculados na TV Brasil e, de acordo com a Folha de S.Paulo, no Facebook.
O Facebook não comentou o caso, mas afirmou em nota que “experiências iniciais com eventos esportivos têm trazido grandes resultados para os fãs, radiodifusores e detentores de direitos. Trabalhamos com nossos parceiros para ajudá-los a alcançar seus objetivos de negócios, atingir novas audiências, monetizar seus conteúdos e experimentar formatos de transmissões interativas, sociais e com foco em mobile.” Mesmo posicionamento dado ao Meio & Mensagem em abril, durante questionamentos sobre propostas oferecidas aos clubes Atlético Paranaense e Coritiba, que protagonizaram a primeira transmissão de um clássico pela internet.
Ao Meio & Mensagem, a CBF afirmou que só vai se pronunciar oficialmente após acertar a formalização das transmissões. Em janeiro, durante o amistoso contra a Colômbia, a entidade já havia testado a transmissão via internet em sua plataforma. De acordo com a TV Brasil, os jogos serão transmitidos sem a veiculação de material publicitário já que a emissora é pública. “A legislação não permite que a TV Brasil veicule comerciais, apenas publicidade institucional. Portanto, pelo acordo firmado, a TV Brasil não usará os intervalos com os patrocinadores dos jogos e a CBF vai retirar os comerciais que sobem na tela ao longo da partida”, disse, em nota, a TV Brasil. Além disso, o contrato entre a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e a CBF não prevê exclusividade dos jogos. “A geração de imagens e os narradores serão de responsabilidade da CBF. O contrato é específico para a transmissão desses dois jogos amistosos”, relatou a emissora. De acordo com a Folha, Nivaldo Pietro deve narrar os jogos com os comentários de Pelé.
A Globo afirmou, em nota, que a CBF tinha planos de negociar os direitos dos amistosos e das eliminatórias da Copa 2022 na forma de leilão fechado. “Porém, recentemente, a CBF decidiu vender os dois jogos amistosos de junho de forma avulsa e, embora não acreditemos que esta seja a melhor solução para todas as partes, tentamos negociar mas não chegamos a um acordo”, diz a emissora. Ainda de acordo com a Globo, a empresa “defende um mercado de concorrência e acredita que tem a melhor solução de visibilidade e envolvimento para os eventos da seleção, tanto pela audiência quanto pela qualidade de transmissão e modelo econômico, mas respeitamos se a CBF pensa diferente”, disse a empresa.
Atletiba faz história e fortalece tendência
A Globo reiterou que mantém o compromisso com o futebol e o “interesse em continuar trabalhando com a CBF na construção de acordos que sejam bons para todos, para a própria CBF, para o Grupo Globo, para os anunciantes e suas marcas, mas sobretudo para o público torcedor apaixonado pelo futebol e pela seleção brasileira”. Até a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, estão marcados oito amistosos. Os direitos de exibição da Globo contemplam os torneios da Rússia 2018 e do Qatar 2022.
O Grupo Globo, inclusive, segue com a reestruturação em sua área de esportes. Na semana passada, a empresa anunciou o executivo Fernando Manuel Pinto como responsável pela diretoria de direitos esportivos, nova unidade de negócios que foi recentemente estruturada para atender a estratégia de esportes da TV Globo e Globosat. Em sua nova posição, Fernando coordenará as estruturas de negociação de direitos relacionados ao futebol e também a outros esportes, além da área de contratação. Manuel se reportará diretamente a Pedro Garcia, diretor de negócios da unidade de esportes do Grupo Globo que, por sua vez, se reporta a Roberto Marinho Neto.
Segundo a Folha de S.Paulo, a perda dos amistosos teria resultado na demissão de Renato Ribeiro, então diretor da Central Globo de Esportes, também nessa segunda-feira, 29. Em nota, a emissora afirmou que a saída de Renato Ribeiro faz parte da evolução da reestruturação do Esporte da Globo, que vem ocorrendo desde outubro do ano passado, quando foi anunciada a criação da nova unidade de esporte, sob o comando de Roberto Marinho Neto. “Foi um movimento natural, consensual e planejado. Renato Ribeiro ajudou no processo de redesenho da área e deu uma importante contribuição para a sua consolidação, tendo estado à frente da cobertura de eventos importantes como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. É incorreta qualquer ilação com as negociações dos amistosos da Seleção Brasileira. Quem cobre o assunto sabe perfeitamente que a responsabilidade de Renato está associada aos conteúdos esportivos, sem relação com as negociações de direitos”, diz a nota.
Com as transmissões dos amistosos pela internet, a CBF reforça uma tendência do futebol focada em utilização de plataformas digitais para transmissão de eventos esportivos. No caso do Atletiba, foram dois jogos, um em março e outro em abril, e uma tentativa que não deu certo. A primeira partida teve 1,6 milhão de visualizações, reunindo a transmissão no Facebook e no YouTube. Já a final, realizada em abril, chegou a 1,1 milhão.
Em março deste ano, o Facebook fechou um acordo com a MLS, principal liga de futebol norte-americano, para a transmissão de 22 jogos. O Twitter anunciou recentemente parcerias com a NBA e exibição de jogos da MLB, liga de beisebol, e da NHL, de hóquei no gelo. Além de transmitir dez partidas da NFL, a liga de futebol americano.
Para Fabio Eitelberg, diretor da Everstream, empresa de transmissão de eventos esportivos, o que ocorre nesses casos é um movimento de apropriação de conteúdo por parte das agremiações e as mídias sociais representam o meio para que clubes, confederações e federações trabalhem o engajamento do torcedor e monetizem parte do conteúdo. “Há clubes em situações mais avançadas, como o Atlético-PR, que lançou recentemente uma TV própria e pretende transmitir jogos ao vivo e cobrar por isso”, diz Eitelberg.
Twitter busca vocação como primeira tela
“O fato da CBF ter partido para a gestão direta da transmissão desses dois amistosos reforça a tendência de mudança do modelo existente até então. Tanto os clubes quanto as entidades esportivas estão percebendo o valor do seu conteúdo e a possibilidade de eventualmente arrecadar mais dessa forma, além de aumentar o poder de barganha na negociação com as redes de transmissão. Por outro lado, empresas como a Globo são altamente especializadas e possuem conhecimento de décadas na transmissão de jogos, algo que a princípio os clubes e as entidades esportivas não possuem, o que pode impactar negativamente na percepção de qualidade dos anunciantes e dos espectadores”, diz Fernando Trevisan, diretor-geral da Trevisan Escola de Negócios.
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