Mobilidade é realidade para a mídia dos EUA
Relatório State of the News Media conclui que o verdadeiro desafio da imprensa tradicional são as empresas de tecnologia
Relatório State of the News Media conclui que o verdadeiro desafio da imprensa tradicional são as empresas de tecnologia
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20 de abril de 2012 - 1h32
A idade móvel, em que as pessoas estão conectadas à internet onde quer que estejam, chegou para valer. De cada dez adultos norte-americanos, quatro têm smartphone. E um em cada cinco é proprietário de um tablet. Os carros novos vêm equipados com internet. O resultado disso é que 34% dos consumidores de notícias em PCs e laptops também acessam informações pelos smartphones, 27% dos usuários de notícias em smartphones acessam os portais também pelos tablets, 17% dos que buscam informação em PCs e laptops também acessam notícias pelos tablets e 5% obtêm notícias em PCs/latops, smartphones e tablets. Os dados são do relatório State of the News Media 2012, elaborado pelo Pew Research Center.
O State of the News Media é um relatório que faz uma análise abrangente da saúde do jornalismo nos EUA e inclui oito diferentes setores de mídia – jornais, revistas, redes nacionais de TV, redes locais de TV, TV por assinatura, dispositivos móveis, rádio e plataformas digitais – para identificar as principais tendências e conclusões sobre notícias.
O relatório conclui que, ao invés de substituir consumo de mídia em dispositivos digitais, as pessoas recebem notícias em todos os dispositivos. Pelo apurado, os usuários têm lido por períodos de tempo mais longos. Os consumidores de mídia digitais também são a grande parcela da população que tem smartphone e tablet. A maior parte desses indivíduos – 78% – também obtém notícias no PC/laptop.
O fator mais importante que determina em qual meio o consumidor busca a notícia é a reputação ou a marca da empresa de mídia. E isso é ainda mais verdadeiro quando se trata de acessar informações por dispositivos móveis do que via PC/laptop. A despeito da explosão das mídias sociais como Facebook e Twitter, as recomendações, ou compartilhamentos, de amigos ainda não são um fator importante no consumo de notícias.
Desafio e tendências
Mas, na medida em que os intermediários de tecnologia controlam, agora, o futuro das notícias, o relatório da Pew identifica um desafio fundamental. São duas tendências que reforçam a sensação de que o fosso entre as indústrias de mídia e tecnologia se aprofunda. A primeira é que a explosão de plataformas móveis e canais de mídias sociais representa outra camada de tecnologia com a qual as empresas de mídia devem manter alinhamento. Em segundo lugar, no ano passado, um pequeno número de gigantes da tecnologia começou a evoluir rapidamente para consolidar seu poder e se tornarem produtores de "tudo" para nossas vidas digitais. Google, Amazon, Facebook, Apple e alguns outros têm manobrado para concentrar tudo: o hardware que as pessoas usam, os sistemas operacionais que rodam esses dispositivos, os navegadores pelos quais as pessoas navegam, os serviços de e-mail por meios dos quais se comunicam, as redes sociais em que compartilham e as plataformas da web em que compram e jogam. E tudo isso proporcionará a essas empresas dados pessoais detalhados sobre cada consumidor.
No ano passado, cinco empresas de tecnologia representaram 68% de toda a receita publicitária online, e essa lista não inclui Amazon e a Apple, que obtêm a maioria de seus dólares de transações, transferências e dispositivos. Em 2015, espera-se que Facebook venda um a cada cinco anúncios digitais. Isso levanta uma questão: terão os gigantes da tecnologia interesse em adquirir os legados das principais marcas de mídia como parte do "tudo" que eles oferecem aos consumidores? Para garantir a sobrevivência da empresa de mídia muito menor, por exemplo, poderia o Facebook considerar comprar um legado de mídia como o The Washington Post?
Já existem sinais de estreitamento dos laços financeiros entre os gigantes da tecnologia e de notícias. Como parte dos planos do YouTube para se tornar um produtor de conteúdo para televisão original, uma direção que tomou fortemente no ano passado, está o financiamento para a Reuters produzir noticiários originais. O Yahoo assinou recentemente uma parceria de conteúdo com a ABC News para a rede ser seu fornecedor exclusivo para o portal de vídeos. Com o lançamento do leitor social, o Facebook criou parcerias com The Washington Post, The Wall Street Journal, The Guardian e outros. Em março deste ano, o co-fundador do Facebook, Chris Hughes comprou a quase centenária revista New Republic, de 98 anos.
Em 2011, as operações tradicionais de notícias também adotaram novas medidas para rentabilizar a internet. A agência de notícias Associated Press lançou uma parceria com mais de duas dezenas de empresas para licenciar conteúdo e coletar royalties de agregadores. Cerca de um décimo de jornais norte-americanos sobreviventes lançaram algum tipo de plano de assinatura digital ou paywall. As empresas de notícias estão criando suas próprias redes de venda de anúncios digitais para cortar gastos com terceiros e estão se virando em marketing digital e consultoria. E algumas organizações, como The Financial Times e The Boston Globe, que optaram por ficar fora dos mundos controlados pela Apple e Google, criaram páginas móveis em HTML 5.
Sem progresso
O problema apontado pelo relatório do Pew é que, entre as empresas de mídia, poucas têm feito progresso nas principais novas áreas digitais. Entre os grandes sites noticiosos, há pouco uso da publicidade digital. Ainda, as empresas recorrem ao Twitter para divulgar seu próprio conteúdo ao invés de se envolver diretamente com o público, solicitar ou compartilhar informações que não produzem.
Para os jornais, os problemas se agravaram o ano passado: se o público online cresceu, a circulação impressa continua a cair, assim como a respectiva receita publicitária. Em 2011, as perdas da publicidade impressa ultrapassaram os ganhos de receita digital na proporção 10/1. Se combinadas as curvas descendentes de circulação e da receita com publicidade, a queda da indústria de jornais acumula 43% desde 2000. Se essas operações continuarem a encolher ou até mesmo a desaparecer, ainda não está claro em que meios as informações serão relatadas.
O State of the News Media conclui que a indústria da mídia não só não está mais perto de um novo modelo de receita do que um ano atrás como ainda perdeu mais terreno para os rivais da indústria de tecnologia. Por outro lado, é evidente que a notícia torna-se cada vez mais uma parte importante da vida das pessoas. O que pode vir a ser um fator de segurança para o futuro do jornalismo.
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