13 A 16 DE JANEIRO DE 2024 | NOVA YORK - EUA

NRF

Será que o futuro do varejo não está no varejo?

Mas, e agora, será que ainda não chegou a hora de pensarmos diferente em relação ao seu varejo brasileiro? Se essa não é a hora, com certeza, ela está se aproximando


18 de janeiro de 2024 - 14h49

Quando analisamos o balanço de algumas empresas do varejo brasileiro, nos deparamos com desafios financeiros complexos e um futuro incerto. Um mercado acostumado a baixíssimas margens e que depende de capital de giro, encontra em anos pós-COVID um crédito mais caro e fim do apetite dos fundos investidores, criando um cenário ainda mais adverso para os negócios tradicionais. E é justamente nesse momento desafiador que novas portas se abrem e um novo pensamento entre as empresa do segmento se consolida.

Afinal, o futuro dos varejistas estaria fora do varejo?

Diante do que vi na NRF, pode-se dizer que parte dos varejistas americanos apostam que sim. Como solução, empresas passaram a trabalhar com maior integração de produtos e serviços, muitas vezes separados em modelos de negócios distintos, buscando gerar mais valor, novas experiências ao consumidor e lucratividade. São ecossistemas de varejo que ampliam suas fontes de receita e passam a monetizar em outras frentes. A lista de oportunidades é enorme e aqui listo algumas: market place; criação de marcas próprias; programas de fidelidade; publicidade baseada em dados, conteúdo e entretenimento; ações D2C e oferta de serviços variados. Gostaria de contar um pouco mais sobre dois exemplos pouco conhecidos no Brasil, e que tive oportunidade conhecer a fundo em minha visita ao evento:

Petco: fundada em 1965, a empresa que se dedica aos animais e seus tutores, com foco em saúde e bem-estar, apresentou no último balanço um interessante share nos segmentos de alimentos (49%), demais categorias (35%) e serviços (15%). Com essa importante participação, de 15%, os serviços são ferramentas fundamentais para crescimento de margem e receita, além de um pilar para combater competidores nativos digitais. Vale ressaltar que, dentro de serviços, a empresa incorpora seu programa de fidelidade, que já acumula 672.000 assinantes – público que consome três vezes mais que não assinantes e geram uma importante receita recorrente. Para a Petco, os serviços são tão importantes que, além do próprio faturamento, ajudam no aumento da frequência de compra e no número de visitas em suas lojas.

Camp: posicionada como uma empresa focada na experiência em família, a empresa trata o varejo de brinquedos não como pilar, mas sim como complemento da sua proposta de valor. É interessante ver o posicionamento funcionando na prática e a consequente abordagem para a categoria de brinquedos, onde o varejo experiencial norteia a dinâmica das lojas físicas. Os espaços temáticos e feitos pra brincar oferecem além de escorregadores, playgrounds e pistas de corridas e dança, algumas atividades pagas também, como peças de teatros, oficinas de arte, culinária e yoga para crianças. Com tantas opções, os dados mostram que as famílias passam mais de uma hora e meia dentro de suas lojas e 56% realizam alguma compra antes de sair. Na composição de receita da empresa, 25% é gerada por brinquedos, 25% de outros produtos (como roupas e alimentos) e impactantes 50% vêm da venda de ingressos para atividades pagas e seus respectivos patrocínios. Com essa receita, conseguem incrementar o P&L e trazem resultados melhores que outros varejos tradicionais do segmento. Agora, com a temporada de lançamentos cinematográficos, as lojas veem seus espaços lotados de famílias para as atividades da Patrulha Canina, por exemplo. E, como consequência, um interessante investimento de marketing vindo da verba de lançamento desse filme. Isso sem contar as vendas de brinquedos!

Petco e Camp são apenas dois exemplos dos muitos que encontramos aqui na NRF e que nos fazem repensar a estrutura de receita e o olhar estratégico para o ecossistema de muitos varejistas. Obviamente, vemos oportunidades e desafios. Mas, e agora, será que ainda não chegou a hora de pensarmos diferente em relação ao seu varejo brasileiro? Se essa não é a hora, com certeza, ela está se aproximando.

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