9 de maio de 2018 - 11h26
Cerca de quatro mil pessoas se reuniram no auditório do Centro de Convenções de San Jose, na Califórnia, para assistir à abertura do F8, evento do Facebook voltado para desenvolvedores e parceiros. O clima misturava excitação, ansiedade e receio. Acredito que muitos se questionavam se Mark Zuckerberg se sairia bem na condução do seu discurso, visto que a história Cambridge Analytica era tão recente.
1-Problemas inimagináveis agora são “part of the business”
A primeira coisa que me chamou a atenção foi observar como o Facebook se posicionou diante de um problema tão sério, daquele tipo que sequer imaginamos que um dia existiria. Zuckerberg assumiu seus erros, brincou com sua própria imagem depondo no congresso, vendeu o compromisso de cuidar da privacidade, das fake news e mostrou mudanças significativas já realizadas na plataforma, principalmente por meio de AI.
Nas palavras dele, “o difícil não é investir uma quantidade enorme de dinheiro, mas, sim, encontrar um caminho pra seguir adiante (…). Relacionamento é o nosso DNA e vamos desenvolver tecnologias para que as pessoas fiquem juntas, de maneira segura”. Sua apresentação parecia ter sido preparada por roteiristas de Hollywood. As pessoas aplaudiram.
O que martelava na minha cabeça era que todas as mudanças culturais que a tecnologia está gerando nos fará lidar com problemas enormes e ainda desconhecidos – vale lembrar do atropelamento de uma pedestre no Arizona com um carro robô do Uber. Será que podemos antecipar quais atitudes iremos adotar, por mais “freaky” que seja a situação que nossos negócios nos colocarão?
Estamos enfrentando questões éticas que só foram discutidas na ficção científica. Mas, agora, a história é real e vai além do que as pessoas percebem. Um agente de AI decide as recomendações de filmes ou os produtos que você é mais propenso a comprar, interfere nos resultados das suas pesquisas no Google e nos conteúdos do teu feed do Facebook ou do Twitter… e isso é business.
2-O relacionamento entre marcas e consumidores nunca foi tão pessoal
Créditos: reprodução
Uma das novidades marcantes anunciadas no F8 foi a integração de AR com a plataforma do Messenger – que já tem 300 mil bots ativos trocando oito bilhões de mensagens por mês. Nas próximas semanas, empresas como Sephora, Nike, Kia e Asus estarão com uma interface de consumo com experiências holográficas no Messenger.
Essa integração muda completamente o jogo, interferindo diretamente na decisão da compra. Esse recurso permite que o usuário veja o produto projetado na frente dele no mundo físico. Pode ser um carro, um gadget ou uma maquiagem aplicada no rosto da pessoa, por exemplo.
Para entender melhor, imagine a seguinte situação: você está sentado em um restaurante e entra na FanPage da Nike pelo celular, enquanto espera a comida chegar. A janela de chat aparece e te convida para uma conversa sobre um tênis que você gosta. O atendente é simpático – você nem imagina que não seja humano – e sugere que você veja o produto ali na mesa mesmo. Nesse momento, a câmera do celular abre e o tênis aparece na sua frente. É só aproximar o celular para ver cada detalhe do tênis, mudar a cor clicando na tela, girar para ver a sola, as costuras. E aí você decide que quer comprar.
Parece cena de filme, mas é o que está sendo lançado agora dentro do Facebook. Vale lembrar que quase 80% dos 2,2 bilhões de usuários acessam a rede por celular, de acordo com a última estatística divulgada pela plataforma, em abril deste ano.
Agora vamos ao que interessa: como isso vai interferir nos hábitos de consumo das pessoas? Se o e-commerce foi uma revolução no processo de compras, a realidade aumentada aliada aos bots será a segunda onda, com uma curva de adoção potencialmente muito mais rápida. O e-commerce preparou o terreno. Agora AR e AI chegam para pavimentar a estrada.
3-Realidade virtual já é social
Crédito: divulgação
Vamos nos sentir cada vez mais próximos das pessoas, mesmo quando estivermos a milhares de quilômetros de distância. Durante o F8, o Facebook anunciou o lançamento do Oculus Go, um produto da Oculus, empresa que desenvolve tecnologias de VR que foi comprada por Zuckerberg em 2014.
Acredito que vamos ouvir falar bastante do Oculus Go. Este é o primeiro dispositivo de VR que tem o potencial de massificar: é fácil de usar, leve, confortável e, o mais importante, custa apenas 199 dólares. O Oculus Go é “stand alone”, ou seja, tem tudo o que precisa dentro dele mesmo: wi-fi, bluetooth, microfone, speaker, processador, memória, bateria. Não precisa conectar no computador ou colocar um celular dentro para funcionar.
Qualquer experiência dentro do dispositivo pode ser compartilhada. Você coloca o seu Oculus Go em São Paulo e encontra um amigo que está em Paris dentro de uma sala virtual, para assistir à final do Brasileirão. Além disso, a empresa divulgou parcerias com diversos canais de conteúdo e entretenimento, seja para conteúdo on demand ou ao vivo.
O Facebook planeja que o Oculus Go seja distribuído massivamente nos próximos anos. Um futuro parecido com o novo filme de Steven Spielberg, “Jogador número 1”, está muito mais perto do que a gente imagina. Afinal, na semana que vem, tenho uma reunião com participantes de Miami, São Paulo e Nova York, agendada para acontecer dentro de uma sala virtual. Todos estaremos lá, presentes, mas cada em um em um canto do planeta.