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Opinião

Manual rápido de o que fazer para mudar

Assuma que o mundo mudou e admita que seu veículo precisa mudar também, mudar de verdade, mudar o “core”


2 de agosto de 2019 - 13h19

(Crédito: Pixabay)

O medo da mudança é o maior inimigo dos meios de comunicação. Gerentes, acionistas e diretores costumam ter receio em mudar, acham que a audiência é perpétua – e levam enormes tombos por isso. Pelo temor de perder o pouco que ainda têm abrem mão do crescimento, de olhar para a frente, de retomar os tempos das vacas gordas – vacas, essas, que hoje estão morrendo de fome.

Semana passada estive em Miami (EUA) fazendo o encerramento do evento digital SIPConnect (da Sociedad Interamericana de Prensa). No convite que recebi, um pedido: vamos fazer uma apresentação/oficina para acabar com as dúvidas de quem ainda deixa o medo dar as cartas. Desafio aceito, o resultado foi muito interessante – e abaixo um pequeno resumo-manual, para os veículos que ainda estão em dúvida de que o mundo mudou.

Primeiro de tudo basta olhar os números: a edição impressa da Folha de S. Paulo vendeu, no histórico domingo 12 de Março de 1995, 1.520.357 exemplares. Pouco mais de 24 anos depois, a Folha fechou o mês de Junho de 2019 com média de 100.024 exemplares diários do impresso vendidos. Coincidindo com o grande salto de crescimento da Internet, a Folha perdeu 14 de cada 15 exemplares que vendia nesse intervalo de tempo. Conseguiu recuperar um pouco em assinaturas digitais (são 232.391 em fins de Junho). Mas a conta não está paga.

Isso acontece só com a Folha? Não. Observando os números do IVC entre 2014 e 2017 nota-se que os principais impressos do Brasil caíram. Todos. Quem menos sofreu no período foi a Gazeta do Povo (Curitiba, Paraná), que despencou “apenas” 28% em três anos. E logo depois suspendeu a edição diária do impresso (hoje circula somente com a edição fim de semana em papel). Pior, os números seguiram em queda nos últimos três anos. Zero Hora (Porto Alegre, RS) caiu 18% na circulação do impresso em apenas 28 meses – até abril de 2019. Quem quiser assistir a morte anunciada – e não fazer nada para nadar em sentido contrário – basta cruzar os braços. A mensagem está dada. O que fazer, então?

1. Assuma que o mundo mudou. E admita que seu veículo precisa mudar também. Mudar de verdade, mudar o “core”. Entender a nova dinâmica. Se você estiver convencido, convença sua equipe em seguida.

2. Adote uma estratégia. Saiba onde você pode e deseja chegar. E lute para alcançar essa meta. Entenda suas virtudes, o que une seu meio à sociedade/audiência. E trabalhe para ela.

3. Estude a audiência. Os que lêem impresso, os que escutam rádio, os que vêem TV, os que navegam no mundo digital. Cada uma tem características próprias. E desejos únicos de receber informação. Respeite isso. Não pense que um ótimo produto lançado na hora errada vai ter sucesso.

4. Reorganize a Redação. Normalmente jornalistas são muito conservadores. Não querem mudar – e alegam que “é assim que se faz”. Não, não é mais. A Redação precisa repensar horários, fluxos, lógicas, interesses, conteúdos.

5. Conteúdo. Sem conteúdo de qualidade, esqueça tudo o que já foi escrito. A audiência precisa de qualidade. E se esse padrão for alcançado, é possível pensar em cobrar pelo acesso.

O meio digital Infobae – hoje em operação na Argentina e no México, com audiência superior a qualquer outro meio em língua espanhola (inclusive El País e Clarín) – é um caso exemplar. Muita qualidade, muito conteúdo e uma agilidade fora do normal. Hoje, segundo o presidente e fundador Daniel Hadad, o dinheiro entra por publicidade (60%), branded content (20%) e programática (20%). Com mais de 75 milhões de usuários únicos.

Infobae já teve impresso, TV e rádio. Hoje é puramente digital. E está em expansão. Se o Infobae pode, por que os demais não podem? Como disse a diretora do mexicano El Debate (Sinaloa, México), Andrea Miranda, “não podemos deixar a nostalgia impedir nosso desenvolvimento”. Nostalgia costuma significar o peso da antiga estrutura pesada. É hora de mudar. Bingo!

*Crédito da foto no topo: Reprodução 

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