Onde a minha marca se encaixa?
As ações concretas devem, necessariamente, vir antes das ações de comunicação
As ações concretas devem, necessariamente, vir antes das ações de comunicação
Como seres humanos, às vezes nos sentimos moles por dentro. Já se sentiu assim? Ficamos tão mexidos e mudados com certas situações, que chega a parecer quando o ortodontista ajusta o aparelho. Dói pra caramba e parece que está tudo mole e mudando de lugar. Ok, não sei se foi uma comparação lá muito feliz, mas, hoje em dia, há tanta demanda por mudanças profundas (e muito necessárias) na forma como vemos e vivemos o mundo, que nós, pessoas e organizações, ficamos perdidos sem saber como agir.
Empoderamento feminino, direitos das minorias étnicas, novo papel do homem, masculinidade, feminilidade, rosa ou azul. Tem sido uma loucura planejar estratégias e campanhas de comunicação com demandas tão importantes quanto distintas. Marcas, produtos e serviços se esforçam para definir a melhor abordagem comunicacional e se adequar aos tempos que vivemos hoje, mas, talvez, estejam se esforçando demais.
Para evitar mal-entendido, acredito que todos esses assuntos sejam imensamente relevantes e a expressão de um momento de mudança profunda em nosso comportamento como humanidade, ok ?! Mas, ainda assim, muitas tentativas de posicionamento de marcas, produtos e serviços têm sido mal empregadas, resultando em campanhas forçadas, deslocadas dos valores percebidos de marca e não condizentes com aquilo que a empresa é na realidade.
Coerência, alinhamento entre a comunicação e os valores essenciais da marca, clareza na comunicação mas, sobretudo, concretização ou tangibilidade daquilo que a organização, marca, produto ou serviço realmente é. Muitas organizações adotam estratégias de comunicação baseadas nos anseios do momento, nas discussões que têm envolvido o consumidor, tomam partido mas são percebidas de forma totalmente diferente pelos seus públicos de interesse, criando uma situação contraditória e que favorece a dissociação entre os valores comunicados e aqueles efetivamente praticados no cotidiano das atividades organizacionais.
Como remediar isso? Claro que as empresas não podem deixar de se posicionar caso sejam questionadas. E também fica claro que não é possível se esquivar ou omitir, mas o alinhamento da comunicação só ocorrerá quando forem tomadas medidas concretas para que os valores estejam alinhados com a prática cotidiana.
Os valores incluem diversidade de gênero, mas o percentual de mulheres na organização em cargos de chefia é mínimo. Os valores incluem respeito às diversas deficiências, mas a empresa, suas filiais e pontos de venda não são acessíveis, e não há programa de atração, capacitação e retenção destes profissionais. Os valores incluem respeito à diversidade de gênero, mas a organização só tem banheiros femininos e masculinos. Os valores incluem respeito ao meio ambiente, mas a empresa causa um desastre ambiental e se esquiva de suas responsabilidades de forma ostensiva. É nesse sentido que defendemos o alinhamento da comunicação, explicitando que as ações concretas devem, necessariamente, vir antes das ações de comunicação.
Adianta pouco a campanha publicitária que se posiciona de acordo com as demandas dos novos tempos quando a empresa ainda é altamente hierarquizada, machista, inacessível e o processo seletivo para novos colaboradores exige foto e identificação de gênero no currículo. Pode ser que essa disparidade não seja percebida imediatamente pelos públicos de interesse, mas, com certeza, o desalinhamento entre discurso e prática será percebido e aí… O dano nem sempre é facilmente reversível.
*Crédito da foto no topo: Reprodução
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