Pyr Marcondes
27 de junho de 2017 - 6h55
Vimos semanas atrás o lançamento do +Smartimão, que é simplesmente como se o Corinthians tivesse para si uma empresa de telecom só sua. Não é, mas é como se.
Isso porque os chips que a Vivo passou a disponibilizar para os simpatizantes do time tem pacotes de preços e conteúdos especiais e a rede que se formará em torno dessa comunidade da marca Timão será totalmente independente do front end da Vivo. Por trás, é Vivo, na frente, é Curinga.
Dá pra fazer um disso pra Coca-Cola? Dá. E se dá, dá pra fazer para qualquer marca? Dá sim, acredite.
Tenho sido enfadonho e repetitivo – mas vou continuar sendo – alertando você, meu (minha) caro (a) leitor (a), quanto ao fato de que as companhias telefônicas vão se tornar publishers, players de mídia. Esse é só mais um capítulo.
Mas o mundo telecom tem outros escaninhos que passarão a ser transformados mais profundamente. Veremos, por exemplo, novas plataformas de transmissão e distribuição de conteúdos no formato OTT, Over The Top, que usa a infra telecom, mas não é telefonia clássica, é via IP. Internet. Você conhece isso, hoje chamamos de Netflix. Mas haverá outras Netflixes, assim como o Timão é, de certa forma, uma outra Vivo.
Essas redes serão criadas a partir de plataformas white label que se desenvolverão para serem ocupadas pelas marcas. Aguarde.
Agora vamos dar mais um passinho adiante. É possível que o Timão resolva colocar no ar, em tempo real, o treinamento do time, nessa sua rede telecom? Sim, porque não. E aí, teremos uma espécie de reality show-documentário, registrando Jô, Jadson e todo o escrete no seu cotidiano, nos bastidores fora de campo. Se tiver um patrocinador bancando a brincadeira, porque não? A plataforma está lá.
Bom, então vem vindo junto comigo e vamos dar outro passinho, de um reality para outro.
O You Tube também há duas semanas lançou seu primeiro reality show, com a Katy Perry. A moça ficou numa casa cheia de câmeras, a la BBB, mostrando um lado da sua vida que nunca seus fãs, nem ninguém, normalmente tem acesso.
O que foi isso que o You Tube fez? Ele fez TV. Mimetizou a televisão. Assim como o Timão mimetizou uma telecom.
E o consumidor? Como ele vê essas coisas? Ele vê essas coisas cada vez mais num único aparelho, o celular. É para ele que a Globo e demais redes de TV aberta e fechada lançaram seus players de conteúdo on demand. Players que também podem, se as emissoras assim desejarem, transmitir seus conteúdos ao vivo, em tempo real. Como o hipotético treino do Timão. Só que o treino do Timão seria transmitido via uma rede de telefonia e os players das emissoras transmitem seus conteúdos via uma conexão de internet, como o Netflix e/ou os Netflxes que me referi acima.
Para a audiência, tudo isso é agnóstico. Não existe OTT, IP, sinal de TV aberta ou fechada. Há a possibilidade de acessar e assistir conteúdos os mais diversos, de origens diferentes e em plataformas hoje ainda diversificadas, mas que para ela não tem diferença.
Em alguns casos, esses conteúdos são pagos e em outros casos são abertos. Essa lógica deve permanecer e cada empresa vai escolher como vai difundir o que tem para difundir. E fazer grana em cima.
Mas entendamos algo importante: as tecnologias tenderão a se misturar e se transformar cada vez mais em comodities sem grandes diferenciações entre si. O que fará cada vez mais a diferença neste novo mundo que em breve teremos ao alcance dos nossos dedinhos é o que vamos assistir nele. O conteúdo.
You Tube vira TV, que vira Netflix, que vira web, que vira, bom, vira o que quisermos, isso vai importar cada vez menos.
Quando marcas tiverem suas próprias telecoms e Netflixes e You Tubes a sua disposição, terão diante de si um universo jamais imaginado de possibilidades de acesso e contato com suas audiências pela via do conteúdo.
Fará sentido o comercial de 30” num cenário assim? Pode ser que sim, que ele ainda tenha sua função. Mas estará acompanhado por uma variedade sem par de outros novos formatos em que as marcas se apoiarão para transmitir não apenas mais suas mensagens publicitárias, mas todo um espectro de propósitos e mensagens que hoje ainda não conseguem transmitir com a plenitude que em breve poderão.
Isso significa uma transformação gigante na forma como se faz e fará marketing. Os profissionais de publicidade, comunicação e marketing terão que se transformar na exata medida em que todo esse ecossistema e a forma como seus públicos consumirão conteúdos, sejam eles quais forem (num contexto assim, até um comercial de 30” será conteúdo também, certo?) também se transformarão.
E olha que eu nem falei aqui das transmissões ao vivo de futebol via Twitter e Facebook e todas as discussões em curso decorrentes. Nem falei também da chegada do 5G, que vai transformar seu carro num celular grandão e com rodas, um device de conteúdo. Ah, sua geladeira também.
Difícil imaginar que estejamos todos prontos para uma transformação desse porte. Mas não deixa de ser fascinante imaginar que teremos, de alguma forma, que estar. Aprender com esse universo que se avizinha é sem dúvida uma das mais espetaculares experiências que nós, profissionais de comunicação e marketing, experimentaremos desde sempre. Equivalente, mas possivelmente ainda mais transformadora, do que a chegada da TV e da Internet.
Fique aqui meu convite a todos nós a apreciar essa fantástica viagem. Enjoy the ride!