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Quem é você, leitor? E o que você vai ser, quando crescer?

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Quem é você, leitor? E o que você vai ser, quando crescer?

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25 de abril de 2016 - 14h14

Publica frivolidades, coisas leves, pronto: gera views e compartilhamentos. Publica coisas sérias, pronto: ninguém dá muita atenção.

Essa é a síntese genérica, mas reveladoramente verdadeira, da audiência do site ProXXIma. Ou seja, a sua audiência.

Não sei quem é você, meu leitor. Quer dizer, eu sei muito bem quem é você, meu leitor. Tenho como conhecer seu perfil e seus hábitos de leitura e preferência. Mas quando digo que não sei quem é você é mais no sentido de não conseguir entender direito o que te faz ler o que você lê e ter as preferências que tem.

Recentemente, teve um bom exemplo. Publiquei em primeira mão no Brasil (duas horas depois de sua divulgação pública nos EUA) a carta do Presidente do IAB norte-americano, Randall Rothemberg, em que ele admitia que o setor digital tinha ferrado (screw) os negócios da propaganda com o uso excessivo de retargeting e o uso indevido (ilícito) de dados dos usuários.

Esse é, possivelmente, o documento oficial mais importante dos últimos 5 anos da indústria digital em todo o mundo. Sabe quanto teve de compartilhamentos no site ProXXIma? Uns 20 ou 30.

Como parâmetro de comparação, publicamos com frequência dicas digitais naquele formato clássico consolidado pelo Buzz Feed … 5 dicas disso … 10 dicas daquilo. Aí, pronto: bomba! Temos médias de 500, 600, 700 compartilhamentos.

Se você, meu caro leitor, que me lê no Meio & Mensagem impresso e, possivelmente, também nos lê no site ProXXIma, estivesse no meu lugar, o que faria? Dicas estilito Buzz Feed ou cartas estilito Randall? Hem, hem?

Tá fácil ser editor nestes dias em que os analytics nos revelam o que talvez, nós jornalistas e publishers, não devêssemos saber sobre você, nosso leitor.

Como acompanhamos diariamente essa realidade, tem umas horas que dá vontade de pegar o boné e ir morar longe de uma redação. Bem longe.

Nosso trabalho de editores e publishers – é o que imaginamos, pelo menos – é selecionar o que de mais importante aconteça na realidade do nosso mercado e levar isso até você de forma completa, isenta e objetiva. Se tiver análise, que ela seja ponderada e procure olhar os vários lados da questão. É isso.

Mas só que não.

Você, na verdade, não está lá tãããão a fim assim de ver coisas relevantes. Não sou eu que digo. É você que me diz, com seu comportamento, que acompanho aqui todos os dias. Para o bem ou para o mal, números não mentem. E é isso que eles me mostram todo santo dia sobre você.

Quer ver outra coisa que bomba? Põe Google e Facebook no título. Twitter correndo por fora. Todas as notícias que tenham os nomes dessas empresas no título, pronto: pimba! Um moooonte de compartilhamentos.

Ok, faz sentido. Essas empresas transformaram nossas vidas privadas e profissionais. E vão continuar transformando. Temos que nos manter muito bem informados sobre elas. Um espirro de qualquer uma delas pode causar uma pneumonia nos nossos negócios.

Mas veja. É qualquer coisa sobre elas que bomba. Qualquer coisa. Já que falei em espirro, se eu publicar matéria dizendo que o Sergei Brin espirrou, pronto: vai bombar.

Quando digo bombar, quero dizer, compartilhar. Você, leitor, leu a bagaça, viu que era sobre um espirro do Brin e, ainda assim, achou mega- interessante a ponto de compartilhar. Compartilhar muito.

Claro que é um exemplo imbecil apenas para ilustrar, mas é mais ou menos isso mesmo. Os compartilhamentos não estão necessariamente ligados à relevância dos conteúdos, mas a sua superfície mais aparente.

Teve outro dia que fiquei orgulhoso de você. Uma das notícias mais compartilhadas do site ProXXIma nos últimos meses foi aquela (se você ainda não leu, vale a pena procurar lá no site e ler) em que publicamos a ira de Brad Jackeman, Presidente mundial da Pepsi, em que ele enumeravas uma extensa lista de críticas contra as agências de propaganda. Aí, você leu. 600 compartilhamentos ou mais, sei lá. Muito.

Gostei. Mais uma vez, nós aqui em ProXXIma havíamos ficado atentos ao mundo e trazido em primeira mão no Brasil algo relevante para você e não é que você leu e compartilhou? Eram críticas sérias, que nos levavam a reflexão sobre o modelo de agências de propaganda que temos e aquele que queremos ter.

E você tava lá, compartilhando. A maior parte dos compartilhamentos era defensivo, enfiando o dedo de volta na cara do Brad e defendendo as agências. OK, faz parte. Tudo bem. É justo.

Havia um outro tanto de posts que concordava com as críticas e chamava a atenção para a necessidade de mudança. Boa também. Faz sentido, também.

Percebeu o jogo? É assim que vamos crescer. E é essa a minha função e a função de todo publisher que se preza. Fomentar o debate e que ele gere reflexão.

Me senti com o dever cumprido.

Mas durou pouco e veio a recaída. Ou melhor, caí de novo na real. Porque o meu gráfico de anaylits, toda vez que eu entro nele, fica me mostrando lá aquele pico naquele dia e, depois, queda.
Será que não conseguimos publicar nenhuma nova notícia de fato tão importante quanto aquela nesse período?

Quer saber? Acho que não. Acho que aquela notícia tinha o ingrediente de tocar diretamente no seu emprego e aí você pulou.

Pois olha, se você ler com atenção, teve várias outras com o mesmo poder de transformação que publicamos e que talvez você não tenha se dado conta. Vai lá no site e vê. Você vai acabar concordando comigo.

Quer ver outra? Notícias curtas são mais compartilhadas do que análises mais longas. Outra coisa que me encafifa.
Tá certo, estamos todos sem tempo, então as curtinhas a gente digere mais rápido e manda um compartilhar no Face e boa.

Mas e pensar, gente? Tá difícil? Tá muito cansativo? Jura? Devo então publicar só diquinhas? Se forem do Face e Google então, melhor ainda? É isso? Depois de 40 anos de jornalismo é nesse ponto que cheguei? É isso que você quer de mim?

Pois olha, não vai rolar, não.

Não vou pegar o boné coisa nenhuma! Não vou publicar só o que você acha mais digerível e facinho. Vou publicar mais e mais cartas estilo Randall. Não vou deixar de lado as dicas. Isso porque, no caso de ProXXIma, que não se propõe apenas a noticiar fatos, mas a contribuir para o desenvolvimento da indústria digital no Brasil, difundindo e auxiliando a consolidação de melhores práticas, visando melhores negócios para todos, faz parte, sim, publicar dicas. Porque elas são úteis. Pelo menos aquelas que nós criteriosamente publicamos (um pouco ao contrário do Buzz Feed, by the way).

Mas é o seguinte… vamos por aqui continuar enchendo seu saco com coisas que você não está nem aí. Vamos continuar praticando bom jornalismo, sem nenhuma falsa modéstia, que já não estou mais com idade para essas bobagens.

Vamos continuar acreditando que esta indústria tem muito ainda a amadurecer e crescer e, se depender de nós, ela vai amadurecer e crescer de forma sólida e tendo refletido muito sobre o que quer da vida.

Então, deixo aqui duas perguntas a você, meu caro leitor, para que você se pergunte a você mesmo, diante do espelho da sua própria consciência: quem é você? E o que você vai ser, quando crescer?

 

 

 

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