Pyr Marcondes
9 de março de 2019 - 19h05
Se vai dar certo ou não, só o tempo dirá. O projeto é grande, inédito em seu formato, e bem ousado. Jerry Katzenberg aposta todas as suas fichas que sim, no seu QUIBI (quick bites).
Foi com entusiasmo que contou a plateia aqui do SXSW os detalhes desse seu novo sonho, num painel do qual participou também sua amiga de jornada e agora sócia Meg Whitman, CEO da companhia, ambos entrevistados pelo excelente reporter senior de mídia da NBC News/MSNBC, Dylan Byers.
Meg, depois de carreira mega-bem-sucedida na indústria de Hollywood, onde conheceu Katzenberg, foi presidente da HP por 8 anos, conhecendo portanto bastante bem o mundo da tecnologia (é a mulher mais rica da Califórnia, com uma fortuna estimada em mais de US$ 1,3 bi) daí ambos alardearem, em seu speech de posicionamento, que QUIBI tem o melhor de Hollywood e do Silicon Valley. É, sem dúvida, uma boa pegada. Com uma história empresarial rica (literalmente) e verdadeira por trás.
O conceito de QUIBI é mais ou menso o seguinte … Mordidinhas saborosas de entretenimento, para serem apreciadas, como snacks de conteúdo, a qualquer hora do dia, direto do seu celular. Ou, como diz o site-teaser do projeto, a quem passa por lá … “Something cool is coming from Hollywood and Silicon Valley — quick bites of captivating entertainment, created for mobile by the best talent, designed to fit perfectly into any moment of your day.”
Os diferenciais são alguns, desse novo empreendimento do icônico Katzenberg, que no currículum tem, entre muitas outras coisas, a presidência do Walt Disney Studios e hoje a da DreamWorks, definitivamente um dos nomes de peso da indústria cinematográfica de Hollywood. Vamos lá:
– Os conteúdos serão curtos, preferencialmente
– Serão também de alta qualidade, com padrão de produção de Hollywood, nada ver com os stories do Instagram
– Serão produzidos e/ou editados para consumo na tela do celular
– A distribuição por celular potencializa enormemente sua viralização
– Trata-se de uma operação de entretenimento totalmente criada para uma plataforma tecnológica, com as vantagens que a internet e a interatividade proporcionam (Netflix também, mas enfim… )
– É uma proposta que tem na mira a chegada do 5G e a probabilidade de que seus conteúdos possam estar então nos mais variados devices conectados espalhados pelo mundo, com a difusão da Internet das Coisas
– Tem como parceiros, já, os principais estúdios de cinema e TV de Hollywood
– Além do conteúdo de parceiros, QUIBI produzirá também seus próprios conteúdos
Mas há outros ingredientes nessa fórmula apetitosa.
Conveniência é a palavra chave. Oferecer conteúdo on demand pelo celular enquanto as pessoas estão no seu dia a dia tem um apelo especial, sem dúvida. Você pode assistir televisão on demand pelo celular, ou séries, ou os filmes de Netflix? Pode. Mas eles não foram produzidos para celular, nem para serem consumidos como snacks.
“OTT não é para celular!”, destacou enfaticamente Katzenberg.
QUIBI é para os millenials, que, nos conta Katzenberg, consomem 5 horas de mobile por dia. Ele quer um pedaço disso de cada mobile user entre os 25 e 25 anos de idade, 20 minutos diários. As séries que já começa a produzir terão capítulos curtos, 8 minutos ou um pouco mais, mas curtos, enfim. Idem a duração das séries, como 15 capítulos no máximo. Eles serão lançados toda segunda-feira, todas as semanas do ano.
O empresário revela que QUIBI terá 100 conteúdos no ar já em seu primeiro ano de atuação.
O modelo de monetização é prioritariamente a assinatura, embora ele tenha deixado escapara num fala meio solta no painel a expressão “games”. Jogos são já hoje um mercado global bem mais que Hollywood … hummm, aí tem.
Ele não falou, mas está no subtexto de todo o projeto outra palavra-chave fundamental: interatividade. Conteúdos produzidos especialmente para celular podem perfeitamente permitir interação do usuário, algo que nenhum conteúdo de entretenimento hoje permite. Ambiente excelente para produtos e marcas. A ver.
Agora, um pouquinho de reflexão.
É, de fato, ousadamente criativa a sacada do cara. Conteúdo de alta qualidade como nunca se teve, produzido especialmente para consumo e acesso no celular, pode de fato ser matador. Mas vai pegar?
Essa pergunta deve assombrar até mesmo toda a convicção inabalável de Katzenberg. E tirar um pouco do seu sono.
O hábito não existe, terá que ser criado. Essa será, possivelmente, a maior lombada no caminho do sucesso de QUIBI, a sua adoção como hábito.
Um projeto como esse, suportado por milhões de investimentos dos próprios Katzenberg e Meg, além de investidores trazidos pelos dois, só paga a (alta) conta da produção e para de pé se tiver muita escala. Se não, pode até fazer algum sucesso, mas não garantirá o retorno (de mais e mais milhões) aguardados por quem apostou suas fichas na aposta de ambos.
Mas também ninguém acreditava que uma rede social com mensagens de, no máximo, 140 caracteres desse certo. E deu.
Aguardemos, no dia 20 de abril próximo, o lançamento de QUIBI. Torcendo para dar certo, porque que é legal, é legal.