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23 de junho de 2020 - 7h53
Por Miguel Londres (*)
Recentemente o Brasil foi escolhido para ser o primeiro país a testar a função stories do LinkedIn. Não é a primeira vez que as grandes plataformas elegem o País para testar uma ferramenta. Foi assim com o “Twitter Fleets” e o “Scenes” do Instagram, só para citar alguns exemplos. Mas o que torna o Brasil tão atrativo para que os maiores players do mundo digital o escolham como laboratório para testes? O que faz do brasileiro um usuário tão relevante a ponto de servir como base para decisões estratégicas de empresas globais?
Uso intenso e liberdade de expressão
A resposta está na relação do brasileiro com o mundo digital. O Brasil é um dos campeões mundiais em tempo de permanência na rede, ocupando a terceira posição. O brasileiro fica, em média, 9 horas e 17 minutos por dia conectado. O número, levantado pela Hootsuite e We Are Social, coloca o país atrás apenas da Tailândia e Filipinas como maiores usuários da rede mundial. A grande diferença é que, segundo o IBGE, 69,8% dos brasileiros tem acesso internet, e desse montante, 77.8% estão inscritos a alguma rede social, o que nos leva ao incrível número de 113 milhões de pessoas conectadas, falando o mesmo idioma, produzindo e compartilhando conteúdo sem interferência do governo, como acontece em outras partes do mundo.
Ainda no campo dos números, dados da consultoria ComScore mostram que 56% do tempo que os brasileiros passam nas redes sociais é dedicado a assistir a vídeos, fazendo com que esse seja o país onde mais se consome esse formato no mundo. De olho nessa realidade, as plataformas trabalham para desenvolver e implementar novas ferramentas de comunicação e utilizam os dados gerados pelo tráfego para segmentar e individualizar seus usuários e oferecem esse espaço para marcas se comunicarem diretamente com seus consumidores. A tendência é particularmente relevante se considerarmos que no último ano, o e-commerce alcançou níveis recorde de desempenho no Brasil, gerando 12 bilhões de dólares em receita em 2019.
Engajamento + criatividade = o ambiente de testes perfeito
O que esses números talvez não mostrem é o nível de engajamento que os brasileiros possuem e o grande volume de conteúdo que circula diariamente entre os usuários conectados. Somos possivelmente a maior potência do mundo na criação de “memes”, sendo responsáveis pela produção e consumo de uma inacreditável quantidade de material em diversas plataformas, nos mais diferentes formatos em todas partes do mundo. Essa criatividade também é um ponto a se ressaltar: A produção em massa, e a vontade de se destacar faz com que criadores explorem o potencial das ferramentas em sua totalidade, muitas vezes dando novos e inusitados usos a antigos recursos, influenciando seus seguidores a fazer o mesmo, e assim produzindo rapidamente uma massa de teste relevante, criando material e dados para que as plataformas avaliem e corrijam suas estratégias.
Grandes riscos, grandes recompensas
O cenário descrito acima não chega a ser novidade e tem levado marcas e plataformas a reformularem suas estratégias para entrar na conversa e fazer parte dessa comunidade – o que pode representar uma grande vantagem competitiva quando bem recebida ou um absoluto cancelamento se a forma e o conteúdo por ventura caírem no caldeirão de ódio que também esta presente no ambiente digital brasileiro.
Os players que souberem jogar o jogo e se arriscarem a passar pelo grande e impiedoso tribunal digital brasileiro estabelecem uma enorme vantagem frente a seus concorrentes e possibilitam a replicação dessa estratégia em mercados menos turbulentos ao redor do mundo.
(*) Miguel Londres é Account Strategist da VidMob para América Latina
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