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Digital é Cultura. TV Cultura. Por René de Paula Jr

Mesmo continuando nanico o digital mantém a pose, orgulhoso do sangue azul mesmo que durango, falando empolado e contando as maravilhas do além-mar


24 de abril de 2014 - 8h00

POR RENÉ DE PAULA JR
Velho de guerra em digital e Chief Vocal Officer do www.rodaeavisa.com

Eu trabalhei em TV, no começo. Coisa miúda, era produtor no início, no máximo cheguei a produtor de programas, mas tive a sorte de trabalhar com gente bem boa. Ri muitíssimo. Ri mesmo.

Uma colega nossa tinha pedido as contas da TV Cultura, na época O canal em que todos queríamos trabalhar. Por que ela largou a TV mais amada? Justamente por isso: as pessoas idolatravam tanto a TV Cultura que ela podia fazer qualquer coisa meia-boca que todos elogiavam, afinal era a TV Cultuuuura. (Gerald Thomas também é assim: ninguém assiste, quem assiste não entende mas é, afinal, O Gerald Thomas).

Pra sair da sombra (ou da aura) dessa adoração, ela decidiu dar a cara pra bater no mercado.

Nunca mais a vi. Troquei TV por digital faz dezoito anos e perdi contato com os amigos. E, curiosamente, quem se sente na “TV Cultura” agora sou eu.

Um taxista me pergunta: e o senhor faz o quê? Trabalho com internet, respondo.

“Ah, internet é muito importante. É o futuro.”

Eu concordo e agradeço, claro. O motorista não pode imaginar, afinal, que internet “é o futuro” faz uns quinze anos pelo menos. Mais ou menos como a TV Cultura, que foi pro fundo do poço, voltou, continua na rabeira mas ainda suscita o sempre solene “adoooro a TV Cultura”. Digital é assim: um futuro misturado com gerúndio, algo eternamente promissor. Divertido: eu ainda carrego essa mística de new whatever mesmo com os cabelos grisalhos.

Tenho circulado bastante no mercado. Fui agência, fui hotshop, fui cliente, veículo… e nessas andanças fui notando que o digital tomou um rumo curioso: se abstrairmos o hype, ele não disrup… (como conjuga isso? whatever…), não revolucionou de verdade a maneira como se faz comunicação no Brasil. Lá fora sim, aqui nem tanto. Como dizia Millôr, no Brasil o passado não passa.

Mesmo continuando nanico o digital mantém a pose, mais ou menos como um aristocrata no exílio, orgulhoso do sangue azul mesmo que durango, falando empolado e contando as maravilhas do além-mar. Digital é aquele cara excêntrico e encantador que todo anfitrião quer ter na sua festa.

Todo clientão quer algum case digital do c#!#*$*. Toda agência, mesmo as que vivem de off, quer emplacar um case digital do c#!#*$*. Toda revista, todo evento, todo prêmio quer brilhar com um case digital do c#!#*$*. Digital “orna”.

E aí vem a questão: como fazer um case digital do c#!#*$* se o mercado deixou de ser o equivalente a um restaurante do Michelin para virar uma praça de alimentação, um buffet por quilo? Difícil ter um storytelling com começo, meio e fim quando a comunicação se desconjuntou feito um álbum da Copa, onde o cidadão que se vire pra completar as figurinhas. Digital, no dia-a-dia, é uma mistura de Excel com arroz com feijão no prato da mesa de compras.

Mas a demanda taí: todos querem posar com um case digital do c#!#*$*. Quanto topam pagar eu não sei, a gente acostumou a vender digital barato. Mas que um bom case de digital é do c#!#*$*, é, mesmo com ibope traço e verba idem. Como a TV Cultura.

 

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Este texto reflete a opinião do autor e não necessariamente a visão editorial de ProXXIma. 

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