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O que acontece no varejo da China, não fica na China

O crescimento vertiginoso dos Ecossistemas como Alibaba, Tencent, JD, Didi e outros, que catapultaram essas organizações para valores de mercado de centenas de bilhões de dólares em apenas vinte anos, redesenhou a realidade dos negócios na China e, gradativamente, começou a se expandir para fora do país


27 de agosto de 2019 - 6h51

Por Marcos Gouvêa de Souza (*) A

China tornou-se a maior economia do mundo no critério PPP ou, do inglês, Paridade de Poder de Compra. Está previsto que se torne a maior economia do mundo antes de 2030, sob qualquer critério.

 

O varejo da China deveria superar o varejo norte-americano em tamanho neste ano, mas o atual cenário e as projeções indicam que isso deverá acontecer em 2021, quando será maior em US$ 93 bilhões.

 

Em 2008, o débito consolidado dos consumidores da China representava 18,6% do PIB e cresceu para 50,3% no final de 2018, enquanto nos Estados Unidos está em 76,6%, na Alemanha, 52,5% e no Japão 57,4%. O total de crédito para as famílias no Brasil, para efeito de comparação, representa perto de 25% do PIB.

 

Dos 1,38 bilhão de consumidores atuais da China algo como 80% usam o celular para pagar suas compras no varejo, sendo que 35,3% delas feitas pelo e-commerce, segundo eMarketer, o maior índice mundial, quando se compara com os 11% dos Estados Unidos ou mesmo os 6,5% do Brasil.

 

E nas principais operações locais perto de 50% dos consumidores nem vão às lojas, optando por comprar através de aplicativos e receber em casa ou onde quer que queiram que sejam entregues os produtos. Ou serviços.

 

As vendas pelo e-commerce da China deverão representar, no final deste ano, 55,8% do comércio online global e estima-se que possa superar os 63% em 2022.

 

O crescimento anual médio do PIB da China no período de 1979 a 2010 foi de 9,91% porém reduziu nos últimos anos e deverá girar em torno de 6% a 7% ao ano para o período 2018-2019, podendo reduzir ainda mais dependendo da guerra tarifária atualmente em escala crescente, mas ainda é quatro ou mais vezes superior ao crescimento médio das economias da Europa e dos Estados Unidos.

 

O que foi desenvolvido como modelo de atuação no mercado de consumo na China, amparado nos conceitos que envolvem os Ecossistemas de Negócios, transformou a realidade local, faz crescer de forma tentacular as empresas integradas nesses ecossistemas e têm seu principal diferencial na expansão rápida, quase frenética, de negócios a partir do conhecimento, monitoramento e capacidade de prever comportamentos futuros de consumidores pela conexão constante com os Super Apps, que oferecem redes sociais, relacionamento, pagamento, fidelidade, monitoramento da saúde, jogos e muito mais.

 

O crescimento vertiginoso dos Ecossistemas como Alibaba, Tencent, JD, Didi e outros, que catapultaram essas organizações para valores de mercado de centenas de bilhões de dólares em apenas vinte anos, redesenhou a realidade dos negócios na China e, gradativamente, começou a se expandir para fora do país numa proposta claramente estruturada, pensada e planejada para avançar para outras regiões com diferentes oportunidades estratégicas. Seja pela oportunidade gerada como novos mercados consumidores ou pelo abastecimento crítico de commodities relevantes para o presente e futuro.

 

Esse menor crescimento do consumo interno, associado com as oportunidades e necessidades estratégicas fora do país, tem sido o principal fator impulsionador da internacionalização dos Ecossistemas e empresas chinesas pelo mundo e, no primeiro movimento o fizeram desenvolvendo operações “greenfield” em alguns mercados, em particular nas áreas de tecnologia.

 

Logo perceberam que esse modelo tinha alto potencial de fracasso pelas diferenças significativas em termos culturais, econômicos e legais entre o que conheciam e praticavam na China e o que encontravam em outros países. Na grande maioria de aspectos, que se pratica na China não é passível de espelhamento em outras realidades.

 

Por conta disso um segundo ciclo de expansão e internacionalização de negócios a partir da China tem sido feito através de aquisições de participação minoritária em negócios existentes em outros países para, num momento seguinte, ampliar e controlar esses negócios.

 

Importante lembrar que no Brasil empresas como Alibaba, seu braço financeiro Ant Financial, Fossun, Tencent, Didi e outras já estão presentes em setores como consumo, finanças, imobiliário, infraestrutura e muitos outros. E só vai aumentar. Cultural e estrategicamente o pensamento dominante chinês é orientado para as décadas seguintes e investem com essa lógica, minimizando as oscilações de curto prazo.

 

É fundamental lembrar que China já foi a maior economia do mundo por muitos anos e preparou-se com o rigor do planejamento de longo prazo para voltar a ocupar a mesma posição.

 

Especificamente no varejo, tudo aquilo que nos últimos, pelo menos trinta anos, era buscado nos Estados Unidos, principalmente, mas também Inglaterra, França ou Alemanha em termos de inovação e transformação do varejo, precisa ser agora pesquisado, estudado, entendido e analisado em seus impactos na China e, cada vez mais, fora da China. E rapidamente, pois até mesmo quem está na liderança de conceitos de varejo no mundo ocidental, como Walmart ou Carrefour, não consegue enfrentar a força transformadora das operações chinesas de varejo.

 

E cada vez mais vão se espalhar pelo mundo de forma silenciosa e discreta, como é de seu estilo, aproveitando todas as oportunidades para levar adiante seu modelo obsessivo de crescimento.

Definitivamente o que acontece no varejo da China, não fica na China. Las Vegas que se cuide e nós que possamos acompanhar e aprender mais – e nos preparemos.

 

NOTA: No 5º LATAM Retail Show que se inicia nesta terça-feira, temas envolvendo modelos de negócios e características do varejo na China serão apresentados e discutidos, assim como o que acontece nos Estados Unidos, Coreia, México, Espanha e, muito particularmente no Brasil, nos painéis O Mundo do Varejo e o Varejo do Mundo, para contribuir para a revisão do pensamento estratégico e operacional das empresas participantes do evento, em mais de 120 horas de conteúdo condensadas em três dias.

 

 (*) Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral do Grupo GS& Gouvêa de Souza, membro do IDV – Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, do IFB – Instituto Foodservice Brasil, presidente do LIDE Comércio e membro do Ebeltoft Group, aliança global de consultorias especializadas em varejo em mais de 25 países.

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