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Reciprocidade, a evolução da Privacidade
O desafio de gerar valor na relação de marcas e usuários como contrapartida à coleta e uso de dados.
O desafio de gerar valor na relação de marcas e usuários como contrapartida à coleta e uso de dados.
ProXXIma e João Carvalho
3 de janeiro de 2019 - 8h02
Por João Carvalho (*)
Nos últimos anos a quantidade de novos devices com a possibilidade de coletar dados, bem como o volume de dados disponibilizadas pelos usuários cresceu de forma exponencial.
O reflexo mercadológico disso é que diversas empresas e marcas começaram a buscar novas fontes de informação para otimizar seus negócios.
O avanço na busca por dados e a discussão sobre qual o limite, sobre a transparência, qual a dinâmica e quais os cuidados que devem ser tomados com esses dados, trouxe à luz um assunto já discutido a muito tempo e, recentemente, reforçado por novas Leis, a Privacidade.
GDPR (General Data Protection Regulation) e LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), leis que regulam esse assunto na Europa e Brasil, respectivamente, são temas de extrema importância e já abordados em diversos textos e artigos. Mas o mais relevante é que esses novos códigos têm por objetivo, “apenas”, proteger o usuário no que diz respeito ao seu direito de saber por quem, quando e como seus dados são capturados, para qual uso, e ter a “tranquilidade” de que estão bem guardados e protegidos.
O que as leis não garantem, e nem seria seu papel garantir, é que os usuários tenham algo em troca, melhorando sua experiência. E, quem sabe, suas vidas.
Existe um termo jurídico chamado “legítimo interesse”, que tem como objetivo separar quais tipos de dados são necessários a certos tipos de prestação de serviço (cito como exemplo os serviços bancários, os da área da saúde ou até de Governo), que muitas vezes se utilizam desse aparato legal, que lhes faculta o uso dos dados privados do cidadão, sem que, no entanto, isso signifique efetivo e claro benefício aos interesses dos usuários, clientes ou consumidores.
Então, o que devemos buscar daqui por diante? Qual o futuro da relação de empresas e usuários no que diz respeito à coleta de dados?
Acredito ser a evolução do “está tudo dentro da lei” para “estamos melhorando a experiência”, ou, em outras palavras: é dando que se recebe.
Até porque, com o assunto Privacidade possibilitando uma maior clareza sobre os dados, formando usuários cada vez mais críticos e cuidadosos, com maior conhecimento sobre como restringir ou mesmo proibir o compartilhamento de seus dados, ter acesso a essas informações se tornará mais desafiador.
O desafio para o marketing, as marcas e as empresas em geral passa a ser então mostrar porque vale a pena esse compartilhamento.
Nesse momento, é preciso ter bons argumentos. E é aí que começa o que acreditamos ser o ponto chave: a Reciprocidade.
Na psicologia social, é ela que garante a conservação de normas sociais, assegurando relações mútuas entre as pessoas e os seres sociais.
No nosso mundo digital, é ela que vai garantir que a matéria prima para inúmeros negócios se reverta também em melhorias claras, significativas e práticas para a vida de todos.
Idéias e possibilidades não faltam. Algumas já são , inclusive, realidade. E aí caberá aos usuários julgarem se as contrapartidas já lhes são ou não suficientes.
Um dos modelos propostos por algumas empresas é o que tem sido chamado de novo Freemium. Esse modelo de negócios nasceu em aplicativos que abriam parte dos seus serviços de forma gratuita, mas cobravam um valor para o desbloqueio da totalidade de suas funcionalidades.
No novo cenário, ele tem sido utilizado por empresas que abrem a possibilidade do usuário restringir totalmente o acesso aos seus dados, ou abri-los, desde que se pague um valor por isso. Viabilizando, assim, a existência de uma série de projetos e negócios que possuem nos dados uma boa parte, se não sua única, fonte de receita.
Indo mais além, e com a difusão de Blockchain por inúmeros mercados, algo que começa a surgir também é o modelo de recompensar os usuários, em cash, pela cessão e uso dos seus dados, cada vez que eles forem utilizados pela empresa que os coletou e gerou receita a partir deles.
Em ambos os casos, o desafio é definir a paridade dessas “moedas”. Dinheiro é dinheiro, todos sabem quanto vale. E o dado? Quanto vale abrir seu registro de dados para alguém? E quanto as marcas ou empresas estariam dispostas a pagar por essa informação?
Por isso acredito muito na reciprocidade através da melhoria de produtos, serviços e experiência.
Quanto vale ter um app que te ajuda a melhorar sua qualidade de vida, mostrando como você pode se movimentar mais em suas atividades do dia-a-dia? Quanto vale ter bikes, patinetes etc, sempre disponíveis nos locais certos, na hora certa, de acordo com os hábitos dos seus usuários? Quanto vale a sua seguradora avisar que você está entrando numa região de altas taxas de criminalidade? Ou algo até mais simples, como um app de delivery avisar sempre que um restaurante que você frequenta entrar para o serviço? E receber playlists específicas para cada momento em que você estiver? Quanto vale tudo isso?
Uma bandeira de cartão de crédito diria que certas coisas na vida são priceless e talvez esteja aí a melhor moeda para comprar algo que “não tem preço”.
Como dizemos por aqui, a Reciprocidade é a melhor forma de usar o “Data Driven” em prol de uma melhor “Mobile Experience” 🙂
(*) João Carvalho é fundador e CEO da Hands Data Driven Mobile Experience
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