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25 de julho de 2017 - 7h34
Por Pierre Schurmann (*)
Você tem filho pequeno? Então vai aqui um conselho grátis: matricule-o num curso de mandarim assim que possível. Não tem, mas conhece alguém que é pai ou mãe de uma criança ou adolescente? Sugira a ideia. Essa é a primeira coisa que me vem à cabeça depois de viajar novamente à China, onde acompanhei nos últimos dias o Rise, maior evento de tecnologia, inovação e empreendedorismo na Ásia, realizado em Hong Kong.
Digo isso porque, se dominar o idioma chinês e um dia virar empreendedor, seu filho vai poder se relacionar de modo mais fácil naquele que se tornará o principal mercado do mundo em alguns anos. E, se vier a trabalhar em alguma grande companhia de TI, mesmo no Brasil, a chance do chefe dele ser chinês será grande.
A recomendação para as novas gerações mira a sobrevivência no mercado global do futuro, mas fundos, empresas e startups da atualidade têm diversas razões para olhar para a China hoje mesmo: há uma revolução em curso no gigante asiático, não cultural ou política, como a que foi liderada por Mao Tsé-Tung, mas sim econômica.
Para ser mais preciso: a nova revolução chinesa tem a ver com tecnologia e investimentos em startups. Minha intenção neste artigo é explicar por que você deve prestar tão ou mais atenção ao que vem da China do que ao que acontece no Vale do Silício. E também contar por que resolvi participar diretamente dessa nova revolução.
Ecossistema chinês
São vários os sinais das profundas transformações provocadas pelos chineses no ecossistema global de investimentos. O maior exemplo é a mudança gradativa do pêndulo do mercado de venture capital, que está se deslocando da Califórnia para Pequim.
Só para dar uma ideia, o volume de capital investido em startups asiáticas já ultrapassou o montante aplicado nos Estados Unidos.
Quem disse isso em sua palestra no Rise foi Jager McConnell, CEO da Crunchbase, plataforma global de inteligência de mercado que agrega investidores e startups. A apresentação dele abordou justamente o avanço do ecossistema de investimentos na China, país que tem investido constantemente na formação de profissionais de tecnologia e engenharia.
Além disso, grandes estrelas do capital de risco do Vale despejam mais e mais dólares nas startups da China. É o caso da Sequoia e da ACCEL Partners. A primeira ampliou em 316% os recursos investidos em companhias chinesas nos últimos cinco anos e a segunda 177% no mesmo período.
“Há um importante movimento no mundo. Pela primeira vez a Ásia ultrapassou o Vale do Silício em captação de investimentos”, disse McConnell.
Injeção de dinheiro
É evidente que esse movimento todo não acontece no vácuo. Ele acompanha a dinâmica da economia global, que vêm assistindo ao rápido fortalecimento da indústria chinesa há muito tempo.
Mas há outros aspectos que colaboram diretamente para o fenômeno. O governo chinês, por exemplo, tem como estratégia apoiar o surgimento de startups no país.
Segundo uma reportagem da Bloomberg, empresas de capital de risco financiadas pelo Estado administram cerca de US$ 2,2 trilhões de yuans (algo como US$ 339 milhões). O estímulo também contempla medidas que facilitam a abertura de empresas, como conceder licenças de funcionamento antes mesmo de determinadas aprovações.
O resultado disso é que, em 2015, 4,4 milhões de novas empresas foram criadas no país, um aumento de 21,6% em relação a 2014. Você não leu errado: foram 4,4 milhões de companhias abertas na China só naquele ano.
Um reflexo disso é que mais startups chinesas começam a se globalizar, seguindo o exemplo da Xiaomi e da DiDi Chuxing, o “Uber chinês”, entre outras.
E isso tem reflexos no Brasil. Não custa lembrar que a DiDi anunciou recentemente investimento de US$ 100 milhões na brasileira 99. Além disso, o Baidu, o “Google da China”, divulgou no ano passado que vai destinar US$ 60 milhões para acelerar startups brasileiras em estágio inicial, com aportes entre 10 e 15 empresas em até cinco anos.
Como se vê, o mercado chinês de startups se agigantou e abre uma série de oportunidades. A questão é que, por diferentes fatores, como culturais, jurídicos e de negócios, operar na China é um grande desafio.
E o que eu tenho a ver com isso? Tudo.
Como investidor que já atua no mercado internacional, estudava esse cenário havia muito tempo e analisava as oportunidades na Ásia. Foi assim que identificamos, pela Bossa Nova Investimentos, a melhor maneira de ingressar no país.
Depois de abrir um escritório nos Estados Unidos, em 2016, e também na Argentina, Uruguai, Chile e México, avaliamos que havia chegado o momento de fincar bandeira no mercado chinês.
Assim, há alguns dias, inauguramos nossa operação asiática por meio de investimento na EveryDay People, empresa de Micro Venture Capital que auxilia usuários a obter receitas por meio de suas interações sociais.
A expansão internacional iniciada nos Estados Unidos – seguida de uma análise cuidadosa do poderoso mercado chinês – nos levou quase que naturalmente a definir a estratégica de uma operação na Ásia.
Essa avaliação se fortaleceu a partir do momento em visitamos a região e conhecemos de perto o mercado, algo que a participação no Rise, em Hong Kong, contribuiu diretamente.
Em minha visão, trata-se de um passo importante não apenas para nossos negócios, mas também para o ecossistema brasileiro de venture capital e de startups. É uma nova oportunidade para compartilhar experiências, trocar informações e aprendizados com players do mercado que, muito em breve, irá liderar a economia global.
Com esta iniciativa, esperamos ajudar a pavimentar o caminho para que todo cenário brasileiro – fundos, investidores e startups – se beneficie do intercâmbio com essa nova potência global da tecnologia e dos negócios digitais.
Abra os olhos para nova China e, enquanto isso, comece já seu aprendizado de mandarim. Abrir negociação é simples. Basta dizer 给我你最好的价格 (pronuncia-se Gěi wǒ nǐ zuì hǎo de jià gé), que, em bom português, quer dizer “Me dê um desconto!”.
(*) Pierre Schurmann é Sócio da Bossa Nova Investimentos