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A recessão contribui para o aumento da economia compartilhada

Esse novo cidadão conectado, seja ele um baby boomer, yuppie ou millennial, é capaz de transacionar em um e-commerce como um consumidor e em minutos tornar-se um vendedor de produtos e serviços por meio de marketplaces.


5 de outubro de 2017 - 8h26

Por Davi Guedes Neves (*)

A população brasileira vive uma situação na qual, infelizmente, a taxa de desemprego nunca esteve tão alta, considerando-se a série histórica iniciada em 2012. Em março deste ano alcançou 13,7% da população brasileira, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da pesquisa Pnad Contínua. Apesar de sinais de melhora na economia, os números ainda são crescentes e, num futuro próximo, não é possível imaginar uma reversão capaz de tirar os milhões de brasileiros desempregados do desespero em que se encontram com a falta de dinheiro para comprar o básico.

Por outro lado, de 2014 pra cá, diante do agravamento dos indicadores econômicos, a população vem se reinventando para manter uma renda ao final do mês. O número de microempreendedores individuais, segundo o Portal do Empreendedor, deu um salto de 3,65 milhões de inscritos, em 2013, para 6,64 milhões no ano passado, revelando que em tempos de crise o brasileiro não se acomoda, mas se reinventa.

Paradoxalmente, em outubro deste ano, mesmo com tamanha recessão, o número de smartphones em uso no Brasil vai igualar o de habitantes, segundo projeção da Fundação Getúlio Vargas (FGV), alcançando a marca de 208 milhões de aparelhos. Esses poderosos aparelhos eram a grande novidade no mundo há apenas 10 anos, quando ainda se questionava a capacidade de termos computadores na palma da mão conectando-nos uns aos outros com apenas um clique.

Estudar a história de outros países é um excelente meio para prevermos o que pode acontecer por aqui. Analisando a crise econômica mundial de 2008 vemos que a junção de três fatores, crise econômica, popularização de tecnologias móveis e sociedade em rede geram a força necessária para criação de uma economia baseada na descentralização econômica a partir do empoderamento do cidadão comum, agora capaz de ter um CNPJ, encontrar clientes e montar uma cadeia de fornecedores em um aparelho na palma da sua mão conectado a uma rede mundial.

Esse novo cidadão conectado, seja ele um baby boomer, yuppie ou millennial, é capaz de transacionar em um e-commerce como um consumidor e em minutos tornar-se um vendedor de produtos e serviços por meio de marketplaces. E nesse cenário de uma nova economia compartilhada e descentralizada, estamos indo além de transações monetárias, podendo o seu tempo ser o fator de compra de produtos e serviços, como na plataforma Bliive.

Sem utopia, hoje é possível falar que compartilhar é o novo possuir. A transação do momento é o compartilhamento, seja de um quarto, experiências, tempo, produtos ou serviços. A nova ordem é que cada cidadão seja uma empresa e que suas habilidades, posses e conhecimento passem a gerar valor para sua subsistência, necessidades e desejos, tornando-o parte de uma economia regida por indivíduos e sua liberdade em gerir o próprio tempo e escolhas profissionais.

É visível que uma nova ordem econômica mundial está sendo estabelecida, inclusive com o enfraquecimento de bancos e de nações baseados na economia do papel moeda a partir do surgimento das chamadas moedas virtuais. Entramos na era da economia em rede, descentralizada e compartilhada.

Como em todo mercado emergente, é natural que grandes players surjam a partir do empreendedorismo de jovens visionários. Um exemplo clássico dessa nova economia, e quase impossível de não citar, é o unicórnio dos hotéis Airbnb, um serviço que no início quase fechou as portas por falta de investidores e hoje vale US$ 31 bilhões. A startup iniciou as atividades com a ideia de conectar pessoas que precisam de hospedagem a quem tem espaço disponível para acomodá-las e, hoje, pode ser considerada a maior rede hoteleira do mundo sem possuir um imóvel em carteira. Existem viajantes que nunca mais se acomodaram em hotéis tradicionais e do outro lado locadores que não precisam mais trabalhar com renda 100% proveniente do aluguel de seus cômodos.

O ato de compartilhar gera recursos para o ofertante e economia para demandantes. Citando o caos do trânsito urbano é inevitável pensar em compartilhamento de carros, como a pioneira Zipcar, e o outro unicórnio americano Uber. É possível dizer que esses serviços estão mudando a forma como os habitantes de San Francisco – Califórnia, se locomovem, trazendo uma nova perspectiva de mobilidade a esse grande centro urbano. Por lá, metade das viagens na Uber são realizadas pelo UberPOOL, serviço que permite compartilhar seu carro com desconhecidos e reduzir o valor da corrida, evitando a emissão de 120 toneladas de dióxido de carbono anualmente.

Em se tratando de gerar eficiência, economizar recursos materiais e tempo, o setor de logística aparece como a principal categoria já existente que necessita de mudanças. Consumidores exigem entregas em tempos cada vez menores e empresas de transporte se veem num cenário de sufocamento do trânsito e aumento incessante de custos, principalmente dos combustíveis. A solução clara é chamar autônomos para o jogo, gerar renda descentralizada, utilizar tecnologias para definir rotas inteligentes e atingir grandes territórios com serviços individualizados, ou seja, utilizar-se da economia do compartilhamento.

Nesse segmento empresas já começam a desenvolver soluções que cobrem todos esses pré-requisitos, como a Pronto Rush, aplicativo que conecta negócios locais a motoristas para entregas imediatas e sob demanda. A startup tem menos de um ano de mercado e já está jogando em alto nível. Com o aplicativo, restaurantes, por exemplo, cortam custos por entrega em mais de 20% e reduzem o tempo de delivery de 50 para 25 minutos em média. Por outro lado, motoristas chegam a faturar mais do que o dobro da categoria, trabalhando sem horários fixos e necessidade de bater ponto.

Analisando de uma forma breve, a nova economia tem três lados envolvidos. São eles: as empresas, que são responsáveis por criar e manter a plataforma tecnológica que permite conectar todos os envolvidos; os colaboradores, que são as pessoa dispostas a compartilhar seus recursos, sejam eles carros, quartos, gastronomia etc; e os clientes, que são os que estão dispostos a pagar para usar recursos disponibilizados pelos colaboradores.

Essa é a era da autonomia e autossuficiência, a era que humanos compartilham de tudo entre si à mão livre, em busca de abundância coletiva e da liberdade por meio da obtenção dos recursos mais escassos ao homem: tempo e dinheiro.

(*) Davi Guedes Neves, COO da Pronto Rush

 

 

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