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Afinal, quem é o Brasil digital? Por Jonatas Abbott

A realidade do mercado brasileiro está mais próxima do comércio popular da rua 25 de Março do que do Vale do Silício


14 de abril de 2014 - 8h00

POR JONATAS ABBOTT
Presidente da Associação Brasileira dos Agentes Digitais (ABRADi)

Dimensões continentais, colonização que contou com a participação de povos de diferentes cantos do planeta, mais de 200 milhões de habitantes e uma classe C dominante. O Brasil é um país único. É dono de um mercado único formado por mais de 12 milhões de empresas.

Trabalho há 18 anos com internet comercial no Brasil e, nos últimos 15 anos, viajei de norte a sul do País visitando empresas de tecnologia. Mais recentemente, como diretor de integração nacional da Associação Brasileira dos Agentes Digitais (ABRADi) e também como seu presidente, pude visitar cada uma das 13 unidades da entidade, regiões que representam o digital brasileiro. Estive na Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Distrito Federal.

Especificamente nos últimos dois anos, assisti a um boom no número de associados na ABRADi, o que foi consequência de uma explosão na quantidade de empresas fornecedoras de soluções digitais no Brasil. O último Censo Digital da ABRADI apontou mais de 3 mil agências digitais no País. Mais de 80% dos nossos 700 associados são agências pequenas, que por sua vez atendem a pequenas e médias empresas.

Pequenos grandes negócios
Paradoxalmente, no entanto, vivemos de estudar os grandes cases brasileiros e mundiais. Olhamos para as grandes empresas atendidas pelas grandes agências. Veneramos também as grandes empresas americanas de internet. Mais do que isso, replicamos nas redes sociais cada novidade e cada aquisição dos gigantes. É duvidoso, porém, que elas possam ensinar algo de novo para quem quer ter sucesso com internet no Brasil.

Falamos e olhamos pouco para o que de fato representa o mercado brasileiro. Nossa internet explodiu nos últimos anos graças à classe C, que tem mais de 90 milhões de brasileiros e que chega a representar mais de 80% do consumo no varejo brasileiro. É essa classe C – que pulou o telefone fixo e foi direto para o celular, assim como não experimentou o computador e adotou o smartphone – a responsável pela incrível evolução da cultura de internet nas pequenas e médias empresas brasileiras. As companhias são sempre pressionadas pelo consumidor. As demandas dos clientes regem o crescimento e evolução das empresas fornecedoras.

Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação, dos quase 13 milhões de empresas existentes no Brasil, 85% são de micro e pequeno portes. E apenas 2% são de grande porte e 13% de médio porte. Ou seja, 98% das empresas brasileiras são de micro, pequeno e médio portes. E estão espalhadas por um País continental e rodoviário no qual a comunicação a distância é fundamental.

Classe C e PME’s
E aqui chegamos talvez a um desenho mais claro do mercado brasileiro digital que temos na mão. Trata-se de um mercado de classe C e de PME’s. Os dois são contumazes consumidores de tecnologia. Eles fomentam um setor brasileiro digital que cresce sem parar para atender uma demanda altamente fragmentada, especialmente nas capitas e no interior dos estados do sudeste e do sul. Só para dar uma dimensão, existem no País mais de quatro mil provedores de internet, um exemplo da pulverização do setor.

Mas não estudamos esse segmento. Não assistimos a nenhum evento com cases de micro e pequenas empresas e menos ainda notamos players de tecnologia que desenvolveram soluções para grande escala. Falta-nos uma identidade nacional. No digital busca-se ser cool, como uma empresa nova-iorquina. Inovadores como as empresas californianas. Queremos ter uma elegância britânica e por vezes acabamos com uma certa afetação francesa. O resultado é um ego do tamanho de um publicitário bem-sucedido da década de 1970.

Pelo menos paramos um pouco de atacar a televisão e as agências de propaganda. Isso talvez tenha ocorrido por amadurecimento, talvez pelas aquisições a granel das grandes agências digitais brasileiras por, vejam só, grandes grupos da propaganda mundial.

Talvez seja o momento do digital brasileiro encontrar a sua vocação e seu desafio. Sua cara. Algo me diz que ela não tem muito a ver com o Vale do Silício. Tampouco tem feições britânicas e sotaque francês. O desafio é continental. O verdadeiro pote de ouro do mercado brasileiro é popular e, geograficamente, se aproxima da 25 de março. Ele está na batida dos ritmos baianos, sertanejos e muito samba. O Brasil não é cool, é hot. É classe C, é PME, pulverizado. É um mercado de ticket médio baixo e de escala alta. Fala português e paga a prazo.

O Brasil Digital é, definitivamente, brasileiro.

 

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