Assinar

Com novas funções, comunicadores mudam mercado telecom

Buscar
Meio e Mensagem – Marketing, Mídia e Comunicação

Com novas funções, comunicadores mudam mercado telecom

Buscar
Publicidade

Notícias

Com novas funções, comunicadores mudam mercado telecom

WhatsApp, Viber e WeChat transformam o poderoso segmento de telecomunicações e escancaram o incômodo momento vivido pelas operadoras de telefonia móvel


15 de abril de 2014 - 2h20

POR JOSÉ SAAD NETO
jsaad@grupomm.com.br

O atual momento do mercado de telefonia móvel é comumente associado às vendas crescentes de smartphones e tablets e, em menor proporção, de pacote de dados estabelecidos em redes 3G e 4G. Boa notícia, certo? Errado. Pelo menos para as operadoras mobile. Nas entrelinhas desse cenário, há uma verdade incômoda criada em parte pelas próprias empresas do setor e anabolizada pelas inovações das redes sociais e dos comunicadores instantâneos. Quanto mais aparelhos conectados são vendidos e redes ampliadas, aumenta o número de usuários de aplicativos que permitem a realização de chamadas de voz e o envio de mensagens instantâneas que substituem gradualmente o SMS. E quanto o usuário paga por isso, além do plano já contratado? Na maioria absoluta dos casos, nadinha de nada.

Enquanto as mensagens instantâneas decolam, o SMS, importante fonte de receita das operadoras, despenca. Um recente estudo da Deloitte prevê que, neste ano, serão entregues cerca de 50 bilhões de mensagens instantâneas por dia no mundo inteiro, enquanto que os SMS ficarão na margem dos 21 bilhões. E como analistas apontam que o SMS represente hoje cerca de 10% do negócio das operadoras de telefonia móvel, dá para imaginar o tamanho do rombo. Entre os diversos serviços de mensagens instantâneas disponíveis hoje, o WhatsApp está no topo com 450 milhões de usuários ativos por mês. A sul-coreana Line reporta mais de 350 milhões de contas registradas, enquanto o Viber e a chinesa WeChat fecham em 300 milhões.

E motivos para as pessoas preferirem os aplicativos não faltam: além do custo ser mínimo ou inexistente, eles permitem que seus usuários se comuniquem de diversas formas, promovendo a tendência de uma cultura de comunicação cada vez mais visual. E mais: os apps estão se tornando um canal alternativo de distribuição. Quer um exemplo? A Rakuten já anunciou que irá combinar sua plataforma de e-commerce com o sistema de mensagens do Viber. Quanto mais recursos esses serviços oferecerem, mais dados eles poderão coletar e, potencialmente, vender aos anunciantes.

O WeChat, da TenCent, já possui uma função de pagamento integrada com a plataforma de e-commerce Yixun, que permite que o usuário realize diversas atividades – desde uma solicitação de táxi até investimentos em produtos financeiros. Resultado de uma parceria com a Burberry, os fãs chineses puderam acompanhar a London Fashion Week por meio do app, além de personalizar versões digitais de peças do desfile e ter acesso a conteúdo exclusivo.

Nem céu, nem inferno
O impacto dos comunicadores instantâneos já existe no negócio das operadoras, especialmente no que se refere ao SMS. No entanto, há dois componentes que devem ser considerados. “Primeiro, o negócio de dados das operadoras (tudo o que não é voz) deixou há muito tempo de ser SMS baseado ou dependente. Os planos de dados, esses sim têm cada vez peso e importância estratégica para operadoras”, analisa Léo Xavier, CEO da Pontomobi. Para ele, se por um lado há impacto negativo sobre tráfego do SMS, estimula-se o acesso à internet móvel.

O segundo componente é uma característica do próprio mercado brasileiro. “Temos um número espetacular de smartphones no Brasil (cerca de 80 milhões, a quarta maior base do mundo), mas ainda uma massa enorme de uma centena de milhões de linhas que ainda não têm plano de dados e para a qual, portanto, SMS ainda é algo importante e relevante para comunicação entre pessoas”, explica Xavier.

Mas se o inimigo é forte e a adesão dos usuários é crescente, há alguns sinais de reação – ou pelo menos tentativa – por parte das operadoras. Desde o início do ano passado, a Claro trouxe ao Brasil o Joyn, que possui funções de compartilhamento de arquivos (fotos, vídeos, links), chamada de vídeo durante uma ligação de voz e envio de mensagens instantâneas pelo chat. Os clientes da operadora navegam no aplicativo sem cobrança de dados. “Ainda que exista a tendência pelo consumo de dados, as chamadas de voz continuam sendo utilizadas pelos usuários e, portanto, um serviço não invalida o outro, mas sim se complementam”, diz o diretor de serviços de valor agregado da operadora, Alexandre Olivari.

A TIM vai na mesma linha. A operadora lançou recentemente o Blah, um aplicativo que funciona como um comunicador instantâneo e pode ser usado por clientes de outras operadoras, inclusive. Em nota, a operadora informou à ProXXIma que, apesar da popularização dos aplicativos de comunicação, acredita que ainda há espaço para os serviços tradicionais de SMS e voz. “Recentemente, lançamos uma oferta que consegue atingir os dois públicos: tanto quem envia torpedos quanto quem usa internet móvel e apps como Whatsapp, Viber, Facebook Messenger e afins”, informou a operadora.

Plataformas globais
O movimento de transformação do mercado de telecomunicações é global. E a prova mais recente foi a aquisição do WhatsApp pelo Facebook por US$ 19 bilhões. Em outras palavras, o Facebook comprou o futuro do mobile por 10% do valor de mercado da AT&T, 5% da Verizon, metade do valor da Orange e 75% do preço da T-Mobile. O que o Mark Zuckerberg entende e fez questão de explicar durante a participação no Mobile World Congress, nesta semana, em Barcelona, é que, em cinco anos ou menos, todas a empresas desse setor de telecom, da forma como as conhecemos hoje, serão relegadas a redes obsoletas. O mesmo acontecerá com as empresas de TV a cabo.

Nos Estados Unidos, a única coisa que as pessoas odeiam mais do que telecomunicações são as empresas de TV a cabo. Por enquanto, elas estão fazendo de tudo para limitar o conteúdo e manter seus clientes – assim como as telecomunicações. A Comcast acabou de anunciar planos para comprar a Time Warner Cable a fim de aumentar sua base de assinantes. Entretanto, a empresa deve enfrentar o Google Fiber e empresas de telecomunicações, como AT&T e Verizon.

A curto prazo, todos esses concorrentes se tornarão iguais, incluindo o Google Fiber. Empresas como Netflix e Amazon Prime, porém, estão a um passo à frente com seus aplicativos. Sony e Microsoft estão construindo seus modelos de negócio em torno dos consoles. Outras empresas, tanto startups como as grandes marcas, vão manter o ritmo. A grande perturbação que o WhatsApp trouxe para o SMS e que ameaça as telecomunicações também está sendo forjada pela indústria de TV à cabo.

Nesta semana, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o co-fundador do WhatsApp, Jan Koum, reafirmou que não pretende inserir publicidade na plataforma e que sua operação seguirá indepentende do Facebook. No entanto, há o desafio da monetização. E, por isso, o downloado do aplicativo que hoje pode chegar a US$ 0,99, dependendo do sistema operacional, pode sair mais caro para o usuário.

Independentemente do que acontecer, o fato é que o WhatsApp provou que o poder de um aplicativo e sua infraestrutura pode, por um baixo preço e em um período relativamente curto, romper completamente o que muitos acreditavam ser um pedaço inviolável de um poderoso mercado de telecomunicações.
 

Publicidade

Compartilhe

Veja também