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Direto do Vale: outro dia, almocei com o inventor do e-email!

O "momento Eureka" foi como fazer cinquenta cartas chegarem a cinquenta destinatários ao mesmo tempo, sem ter que escrevê-las cinquenta vezes.


8 de fevereiro de 2017 - 6h26

Por Natasha de Caiado Castro (*)

Moro no Vale do Silício, ao lado de Stanford há dois anos, mas bebo dessa fonte de inovação há vinte e dois anos, quando fiz pós graduação em UCBerkeley.

Conheci tudo aqui ainda na fase “Vale-Fazenda”, quando não tinha nada em volta além de campos, verduras e alguns prédios/galpões quadrados e sem graça. Ao longos dos anos, fui vendo tudo se transformar em um alucinante corredor de empresas disruptivas, investidores que buscam freneticamente oportunidades, institutos de ensino diariamente transformando “geninhos” em grandes empresários, um ecossistema magico, que só existe por aqui na chamada Bay Area de San Francisco.

Cruzo com protagonistas e figurantes dessa história toda todos os dias. Esse é meu cotidiano. E as vezes passo por situações interessantes como esta …

Um dia, durante um almoço, me colocaram sentada entre meu amigo Arno Penzias, prêmio Nobel de Física, e o recém apresentado a todos, Rich Miller, ninguém menos que o inventor do e-mail.

Por ser uma deslumbrada diante desses caras que são exponenciais de intelectualidade ambulantes, depois de segurar por horas a vontade de tietar, resolvi soltar a pergunta: “Como é mudar o mundo?”. Quantas vezes afinal nesta vida temos a chance de fazer essa pergunta ao vivo, para quem, de fato, mudou o mundo?

Miller estudava em Stanford em 1971, quando recebeu um convite da DARPA (agência do governo Americano que financiou e desenvolveu a internet, GPS, Cloud entre outros avanços) para trabalhar em projeto que unia comunicação humana e computadores, suas duas áreas de estudo. Havia somente nove grandes computadores na época … não no Vale, mas no mundo!!!

Sete desses estavam envolvidos no projeto de universidades espalhadas pelos USA. Naquela época, só para situar, só havia telefone fixo discado, correio com selos e fax era o equipamento mais avançado para o compartilhamento de dados. Difícil lembrar ou imaginar, certo? Mas era assim.

Pois Miller encasquetou que precisava desenvolver uma solução que acelerasse a troca de informações, dados e que, de alguma forma, ele pudesse ter acesso a todos os outros computadores existentes, só que a distância.  Acesso remoto ainda não existia.

Foram dois anos de trabalhos intensos até as dezoito pessoas envolvidas no projeto chegarem a uma solução relativamente segura e rápida. O avô do e-mail que temos hoje.

A dificuldade seguinte seria escalonar. O sistema foi criado e deveria ser usado unicamente dentro do governo e em instituições acadêmicas. Usando uma analogia para o leitor entender: para enviar a tal “carta eletrônica” que eles estavam criando, era necessário escrever não só o endereço, mas todas as instruções para o “carteiro” achar o destinatário. Desce, sobe, vira … tudo, cada detalhe do caminho eletrônico.

Miller conta que o primeiro momento Eureka foi desenvolver uma forma de fazer com que uma mesma “carta” chegasse a cinquenta pessoas ao mesmo tempo, sem ter que escrever cinquenta cartas separadas, nem explicar para o carteiro como entregar as cinquenta cartas nas “casas” em que elas precisavam ser entregues. A lista de distribuição, que hoje é a base de toda a lógica da estrutura de e-mails que usamos cotidianamente hoje, passou então, nesse momento da história, a ser uma realidade. Projeto do cara.

Momento seguinte foi ele perceber que havia potencial comercial no invento. Ele dizia para si mesmo na época … “quem sabe meio milhão de pessoas possam ter interesse nesse tal de e-mail”.  Hoje, somos quase 5 bilhões de contas internacionalmente, segundo pesquisa recente da Radicati Group.

Próximo leão: batalha para definição de legislação, regras de privacidade e política comercial.

Imagino como era na época brigar por regras de privacidade antes da invenção da quebra de privacidade. Não sabemos o que não sabemos, certo? Pois um grupo de jovens liderados por Miller estava nessa fase desenhando exatamente os hábitos e permissões, sem entender a extensão do que seria posteriormente o mundo digital.

Na sequência, Miller começou a trabalhar em sistemas de conferência a distância. Ele queria colaborar com pesquisas deixando “recados” para colegas e também que esses colegas pudessem deixar outros recados para ele, na sequência. Um “chat board” digital. Um dia ele e um amigo de pesquisa conseguiram finalmente estar ao mesmo tempo trocando textos entre si, tudo simultaneamente e em tempo real.  A experiência foi tão intensa, que os dois, famintos e ensopados de suor dormiram por doze horas de experiência, foram dormir imaginando se as pessoas estariam preparadas para o desgaste de experimentar uma conversa digital como aquela. Estamos falando do chat.

Pois foi assim que, numa série de experiências memoráveis e historicamente disruptivas para a vida de todos nós, Millher, criou o e-mail, o protocolo das listas de distribuição, o chat. E amparando tudo isso, a ideia de troca de conversas e informações remotamente, via web, em tempo real. Gênio ou não?

Miller foi chefe dos fundadores do e-bay, do desenvolvedor do Android, de diretores do Google e do Facebook. É o inventor do email, que por sua vez é pai do Twitter e avô do Snapchat. Hoje ele é o CEO da Telematica Inc., que desenha soluções de comunicação corporativas globais. Rich Miller, o cara com quem almocei outro dia.

E olha que tenho muitos outros “almoços” para contar.

 

(*) Natasha de Caiado Castro é sócia fundadora da Wish!

 

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