Diariamente estamos noticiando uma grande quantidade de aportes milionários em startups brasileiras, o que prova que existe muito dinheiro disponível no mercado para este tipo de investimento. Importante ressaltar também que a qualidade das startups que procuram investimento melhorou muito. Só em 2018 o Brasil ganhou 3 unicórnios, a primeira foi a 99, em janeiro, ao ser comprada pela empresa chinesa de transportes Didi Chuxing. Logo em seguida a PagSeguro abriu seu IPO em Nova York e esta semana também foi anunciado que o Nubank, líder em tecnologia de serviços financeiros na América Latina, levantou US$150 milhões em sua Série E – que foi liderada pelo DST Global, com a participação de Founders Fund, Redpoint Ventures, Ribbit Capital e QED, passando a ser avaliada em mais de 1 bilhão de dólares.
O mercado de investimento em startups está passando por um excelente momento e esse foi um dos temas abordados durante o primeiro encontro presencial de um grupo de Investidores-Anjo e VC’s criado no WhatsApp na metade de 2016 e que hoje conta com mais de 200 participantes, quase o limite permitido pelo aplicativo de mensagens. Bruno Dequech Ceschin, organizador do Encontro e cofundador da Jupter, empresa focada em encontrar, financiar e cocriar a próxima geração de empresas do país, teve a ideia de criar o grupo no aplicativo para que investidores e gestores de fundos de capital de risco se conhecessem e trocassem experiências. Ele só não esperava que esse grupo crescesse tanto a ponto de se tornar uma rede descentralizada de investidores com o objetivo de compartilhar mais informações e negócios.
Bruno Ceschin – criador do grupo
Em entrevista ao Startupi, Bruno conta que nos últimos doze meses o grupo dobrou de tamanho e nele todos são administradores e podem convidar outros investidores para discutir temas relevantes do ecossistema de empreendedorismo e investimento nacional. “Tudo começou com uma ação despretensiosa, mas tomou uma proporção muito grande e relevante. Hoje contamos com os maiores players e os investidores mais ativos do mercado no grupo”, destaca. A grande maioria dos participantes são investidores de estágio inicial, fundos de capital semente e fundos de série A,B,C.
E essa semana aconteceu o primeiro encontro presencial do grupo que se reuniu para um Happy Hour no S.Match, clube de inovação global no WTC em São Paulo, para se conhecer pessoalmente, já que muitos participantes são de fora de São Paulo, conversar sobre mercado, investimentos e também compartilhar negócios.
Geraldo Santos, Diretor Geral do S.Match, conta que este é um dos grupos mais ativos que ele participa no WhatsApp, e que, além de exclusivo para investidores, trata de assuntos extremamente relevantes para o ecossistema. Segundo ele “apesar de vivermos em uma época totalmente conectada, o contato olho no olho ainda é importante para a troca de conhecimento e negócios, por isso esse Encontro foi fundamental e deverá acontecer com certa recorrência para fortalecer o ecossistema e gerar mais deals com startups”.
Investimentos no Brasil
Temos visto diversas iniciativas em prol do investimento em startups como a lei que regula o investimento-anjo no Brasil, que intitula que quando se aporta um capital em uma iniciativa como uma startup, e esta iniciativa não dá certo, o investidor não tem contaminação dos débitos trabalhistas e tributários deixados por esta empresa.
Também foi criado o Exits Anjo, iniciativa da Anjos do Brasil e da Bossa Nova Investimentos, que prevê que os investidores brasileiros tenham uma alternativa de saída de seus aportes e usem parte deste valores para apoiar mais startups. Com o programa anunciado, até 90% da participação poderá ser comprada pela Bossa Nova, no caso de haver somente um investidor-anjo na startup. O programa prevê também que metade da quantia resgatada pelo anjo seja reinvestida em outras startups do portfólio da Anjos do Brasil, em até três meses após o retorno.
Segundo o investidor Fábio Póvoa, vários dos elementos básicos para o investimento estão acontecendo: os empreendedores estão se capacitando melhor, as aceleradoras trabalhando cada vez mais forte e ambientes de inovação como o S.Match, Cubo e Habitat, não param de surgir. Outro ponto que ele destaca é a queda da taxa selic, que faz com que investidores comecem a olhar mais para ativos de risco, como a bolsa de valores e as startups. “Tenho visto de forma muito positiva o crescimento desse mercado e tenho notado um aumento significativo da procura dos investidores pelo coinventimento“.
Essa é uma prática bastante utilizada no mundo e que consiste em criar um grupo de investidores para realizar um aporte em conjunto. A operação costuma ter um investidor líder, que fica responsável em fazer a maioria dos contatos com o empreendedor e a análise inicial. Ele também é responsável por acompanhar a evolução da startup para compartilhar com os demais investidores. Segundo Cassio Spina, da Altivia Ventures, “efetuar investimentos em grupo traz benefícios tanto para o investidor quanto para o negócio. Os investidores diminuem seu risco, podendo efetuar aportes menores em cada projeto e assim facilitando a criação de um portfólio de startups. O coinvestimento também agrega experiências diferentes na análise do investimento e no apoio ao empreendedor, considerando a ampliação da rede de relacionamento que ocorre nesse tipo de investimento”, afirma.
Temos visto também o interesse cada vez maior das grandes empresas e corporações olhando para as startups como uma oportunidade de ganhar competitividade utilizando os benefícios do ecossistema de inovação, fazendo negócios através do Corporate Venture, prática que consiste no investimento sistemático em startups ligadas à atuação da companhia ou não. A Ford, por exemplo, lançou um programa de aceleração para apoiar soluções inovadoras com potencial de impacto social.
E, falando do mundo corporativo, durante o Encontro conversamos com Fábio Iunis de Paula, que saiu da Intel direto para o universo do investimento no Indicator Capital. Ele conta que o grupo no WhatsApp criado por Bruno é muito importante pelas conexões e no seu caso foi fundamental para retomar contatos e se conectar com os novos empreendedores. “A troca de experiência e informação é o que vai ajudar a mitigar os riscos e aumentar a probabilidade de sucesso dos investidores, empreendedores e das empresas que estão engajadas nesse processo de transformação”.
Para Geraldo Santos, um dos grandes desafios para os investidores é obter a saída, com retorno dos investimentos. Segundo ele “para isso, o amadurecimento do ecossistema é fundamental. Empreendedores, investidores, principalmente os anjos, e os executivos de grandes empresas precisam entender que é necessário se capacitar, criar cultura interna, no caso do mercado corporativo, se preparar para que mais e mais casos de sucesso aconteçam no Brasil, para que as grandes empresas tenham cada vez mais ROI com aquisição de produtos e/ou startups e consequentemente os investidores tenham seus exits, para continuar injetando cada vez mais em startups”.
Já vimos que esse mercado está super aquecido, mas o que o empreendedor precisa fazer para conseguir um investimento? Antes de tudo é preciso se preparar muito antes de procurar investimento. Segundo João Kepler, da Bossa Nova Investimentos, um investidor não investe em um ponto, mas sim em vários pontos, investe em uma barra de progresso na linha do tempo de um negócio. “O ideal é apresentar sua startup quando ela estiver pelo menos em estágio de validação ou pronta para se manter e crescer. Mas uma coisa é certa, o melhor momento para buscar investimento-anjo é quando você não precisa dele. Além disso, uma boa equipe de founders e de desenvolvimento do projeto é fator fundamental para essa escolha, isso porque os investidores investem em pessoas e não somente em negócios”.
Osvaldo Barbosa, da OpenVC, gestora internacional de Venture Capital com foco no investimento em potenciais líderes globais de mercado, frisa na importância dos empreendedores desenvolverem o mindset global. Ele cita Israel e a China como exemplo, apesar das suas diferenças culturais e sociais, ambas estão no topo da lista com o maior número de empresas com capital na bolsa americana NASDAQ. Para isso, os empreendedores precisam ter uma boa operação local e estudar desde o “day one” sobre outros mercados, cavar informações de dados públicos e privados, informações sobre o tamanho do mercado e principais competidores, é preciso conhecer as leis e claro, o idioma e a cultura de negócios do local.
Rodrigo Quinalha da KICK Ventures e Anderson Thees da Redpoint eventures, também marcaram presença no evento e se mostraram animados com o movimento dos investimentos no Brasil. “Além da qualidade dos deals e o volume de capital envolvido, cresceu a sua densidade, ou seja, ele cresceu não só no valor econômico, mas as empresas estão tendo condições suficientes para elaborar um planejamento estratégico mais longo”. Segundo Rodrigo, antigamente haviam captações muito pontuais, o empreendedor estava sempre correndo atrás do próximo round e isso tirava a atenção do core business.
Para Anderson Thess, o cenário do investimento em startups mudou muito em comparação aos anos anteriores e conta hoje com muita gente nova e bons investidores. “O ecossistema também amadureceu muito, as condições para empreender no Brasil também melhoraram bastante, ou seja, não existe mais desculpa para não empreender no Brasil e existem oportunidades em todas as áreas como saúde, transporte e educação”.
Rodrigo foi um dos primeiros participantes a entrar no grupo e conta que ele facilitou a sua vida. “Como o Brasil é muito grande, é difícil manter contato e se conectar com pessoas de outras regiões, mas o grupo tem proporcionado esse match”. Ele conta que o grupo serve também como um canal de comunicação para divulgar notícias e eventos que passam por uma espécie de filtro pelos investidores que compartilham dos mesmos gostos e interesses.
Osvaldo Barbosa, da OpenVC, finaliza dizendo que esse encontro é fundamental, pois essa turma é que está levando a bandeira do investimento para frente, que está em contato com os nossos legisladores para criar melhores condições para que esse ecossistema cresça no Brasil e para ajudar na economia e colocar o país em um patamar melhor.
Para Bruno, organizador do Encontro, com certeza essa primeira edição do evento gerou muito networking e portas abertas para possíveis negócios e investimentos. “Essas conexões podem gerar muito valor e aprendizado para o seu negócio, gerar “smart “para o seu money. Também é possível fazer uma validação cruzada e checar a opinião de outros investidores sobre determinada startup, podendo compartilhar o risco e o retorno do negócio”. Só tenho a agradecer a presença dos investidores e ao apoio da S.MATCH e da Bossa Nova, que nos receberam em sua sede no WTC em São Paulo”, acrescenta Bruno.