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Só criatividade não basta para inovar, diz especialista da Caltech
Em entrevista exclusiva à ProXXIma, Mory Gharib, vice-reitor do Instituto de Tecnologia da Califórnia aborda como a inovação pode ser útil para as estratégias das empresas
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7 de outubro de 2013 - 7h10
Por ARTHUR QUEZADA
aquezada@grupomm.com.br
É possível ser inovador sem correr riscos. Pelo menos em parte do processo de inovação. É o que defende um dos maiores especialistas do mundo no tema, o professor e vice-reitor do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), Mory Gharib. Em entrevista exclusiva à ProXXIma, durante passagem por São Paulo, em julho último, para participar do I Seminário Nacional de Inventivo à Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento, o estudioso fez uma análise sobre os caminhos da inovação no Brasil e no mundo, e comentou como as novas tecnologias aliadas ao conceitos inovadores podem ser uteis para as empresas. O professor diz que criatividade é fundamental para inovar, mas não é o único elemento nessa fórmula.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
Inovação: conceito e prática
“Inovação está em tudo o que vemos hoje em dia. Na mídia, na tecnologia e na ciência. É o conceito de tudo que introduz novas ideias, que não tinham sido pensadas antes. Com isso, a inovação pode ser útil ou não, mas a inovação por si só, significa criar algo novo”.
Os riscos de inovar
“Eu posso ser inovador, sem correr riscos, porque enquanto você não está investindo, não existe risco. Você pode ter um carro, mas se não o dirigir, não há risco, certo? Mas o carro existe. A inovação pode existir. Quando tenho essa ideia inovadora, preciso avaliar se ela resolverá um problema em uma situação real, para então começar a correr os riscos.
Se você recorre à inovação e espera criar riqueza e capital, isso é um risco. Se você recorre à inovação e a biotecnologia para tentar resolver um problema médico, isso é um risco. Portanto, o risco está sempre lá, é inerente, porque a inovação é algo novo. O desconhecido é prematuro, sempre ligado com a inovação. E é isso que torna o tema excitante, porque você sempre pode encontrar uma solução surpreendente”.
Empresas inovadoras
“Sem citar nomes, todas as empresas possuem geralmente duas estratégias, ou investem dinheiro na própria empresa, para criarem algo novo, ou buscam em outras empresas a inovação. Na minha opinião, as empresas mais bem vistas são aquelas que permitem uma combinação do que é próprio, com o que é exterior, trabalhando em conjunto. Com isso, conseguem, trazer ideias frescas e criam as suas próprias soluções para situações. E esse eu penso ser o modo de inovação mais completo para as empresas”.
Estratégias publicitárias
“Eu não sou um expert em agências de publicidade, mas é preciso olhar para os aspectos sociais e econômicos do público alvo na população. Porque a inovação apenas pode ser criada em conjunto com as características da população. A comunidade possui certos valores, e a inovação surge trazendo novidades que agreguem esses valores. Portanto, as marcas precisam ter em mente o target para poder oferecer soluções inovadoras. E não apenas inovar por inovar.
Eu acredito que a inovação pode ser um bom parceiro para os anúncios ou para publicidade. As coisas tornam-se muito usuais e normais se você não trouxer novas ideias. Portanto, novas ideias são sempre bem-vindas, especialmente em publicidade. Hoje observamos ideias tão criativas na publicidade que é como se fosse uma grande descoberta. E as agências geralmente sabem que estão usando abordagens realmente inovadoras”.
Diferenças entre inovação e criatividade
“Para você ser inovador, você precisa ser criativo, é necessário, mas não é suficiente. Um elemento necessário para a inovação é a criatividade, mas isso não é suficiente também. Por isso, não significa que algo que você tenha criado é bom o suficiente para funcionar seguramente com o alvo que você deseja acertar. Muitas dezenas de pessoas são criativas, mas não seguem essa criatividade para realmente criarem algo inovador. Então, os termos estão ligados, mas não significam a mesma coisa”.
Redes sociais
“Eu acredito que os novos meios de comunicação já são por si só ferramentas inovadoras, como Twitter ou o Facebook. Antigamente nós não nos surpreendíamos mais em ver anúncios em TV ou outras mídias tradicionais, hoje com a inserção do social na vida das pessoas, a publicidade passou a ser personalizada e interativa. Isso é uma inovação. Acredito que as campanhas de publicidade ganharam um novo formato com as novas tecnologias e os novos canais de comunicação”.
Investimentos no Brasil
“No meu entendimento limitado, existe uma pequena confusão sobre o que é a inovação no Brasil. Inovação traz um risco. Pode aparecer alguém e dizer “Eu quero investir na sua inovação, mas eu quero que os resultados sejam desta forma”, isso não é inovação, ok? No Brasil parece que os investidores brasileiros não estão acostumados a lidar com riscos, eles querem sempre resultados antes de investirem, querem garantias demais. É um pouco diferente do que nos EUA, onde de cada dez investimentos apenas dois funcionam, mas mesmo assim os investidores ficam satisfeitos, porque esses dois resultam em inovações esplendidas. Essa mentalidade precisa mudar no Brasil. De fato, é preciso assumir mais riscos para conquistar mais resultados”.
Soluções à vista
“Para o Brasil, é uma questão de quebrar a tradição de nunca arriscar. É preciso trazer novas ideias e as grandes empresas precisam investir nisso sem medo de perder dinheiro. Isso vai muito além das empresas também, ou seja, precisa haver uma mudança no sistema de educação, ensinar os jovens a correrem riscos. É assim que você constrói um ambiente propício para inovações”.
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