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SXSW, direto de Austin: David Carr, do NYT, analisa Pay-walls e o novo jornalismo da Era Digital

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SXSW, direto de Austin: David Carr, do NYT, analisa Pay-walls e o novo jornalismo da Era Digital

Aclamado colunista do NYT, Carr analisa os desafios de se estabelecer um modelo de negócio para consumo de conteúdo na mídia online


11 de março de 2013 - 4h11

Por Pyr Marcondes
De Austin, Texas

 

David Carr está entre aqueles nomes do jornalismo internacional ao redor do qual se cria uma espécie de aura. Primoroso autor de textos memoráveis, polemista sempre que necessário, criativo sempre, Carr atua no The New York Times tempo suficiente para ser identificado como prata da casa do mais destacado jornal do mundo. E a questão dos conteúdos de qualidade e da construção de muros pagos em torno deles tem sido uma das questões que Carr resolveu abraçar, tendo se transformado numa espécie de porta-voz do NYT quando se fala no tema.

 

Para Carr e para o NYT, a questão é bem simples: notícias de dia a dia viraram commodities mais rapidamente captadas e distribuídas pelo mundo online nem sempre ligado aos grandes grupos de mídia produtores de conteúdo jornalístico. Ele chama isso de batatas fritas sem gosto. Batatas fritas porque tem por aí em todo lugar e é fácil de fritar, qualquer um consegue. Sem gosto porque em boa parte das vezes não passam por uma curadoria profissional que poupe o leitor de barbaridades informativas não investigadas, apenas distribuídas na rede sem critério técnico feito…bem… feito batatas fritas sem gosto.

 

Ele tem total razão, só que essa é a realidade e o pessoal do NYT não tem nenhuma intenção de mudar isso. Mas de construir um modelo que dê uma volta nesse cenário, criando mais e mais jornalismo de qualidade premium, sobre o qual possa cobrar alguma coisa de leitores que ainda prezam qualidade, curadoria e, porque não, a arte do jornalismo moderno, que Carr domina tão bem.

 

O jornal tem sido bem sucedido em buscar em seu modelo de pay-wall uma boa receita adicional para compensar a fuga da receita publicitária, que de alguma forma migrou dos jornais diários tradicionais para as milhões de outras alternativas de distribuição de notícias nascidas com a Era Digital.

Produzir esse conteúdo premium custa muito caro e a luta do NYT é fazer essa conta fechar. Até hoje, é possivelmente o melhor exemplo de pay-wall. Carr jura que sim. Mas alerta que estamos falando do NYT e que não é exatamente um modelo replicável para qualquer jornal do mundo. Ele não se estendeu no tema, mas a verdade é que de fato dificilmente muitos outros que não sejam o NYT conseguirão replicar com igual sucesso o modelo. É o que temos visto na vida real.

De qualquer maneira, Carr explica que os investimentos de publicidade para públicos específicos podem retornar e crescer em torno de um público qualificado, que paga para ler seu conteúdo igualmente de qualidade e que esse é um bem-vindo efeito colateral do modelo de pay-walls. Agora ainda em teste.

Para o auditório presente em sua palestra no SXSW, publishers ou profissionais de alguma forma ligados ao mundo da produção de conteúdo editorial, ficou a incômoda sensação de que NYT e David Carrs existem poucos e … o que fazer então? Perguntinha ainda sem resposta.

Os tablets e a força do mobile na distribuição editorial
Mario Garcia, consultor de gestão de conteúdos e de usabilidade especializada em mobilidade, CEO da Garcia Media (ele dá consultoria sobre tablets para jornais e revista do mundo todo) e Sara Quinn, editora e diretora de arte editorial do Poynter Institute, todos os anos realizam juntos, através do instituto, uma pesquisa e um estudo que analisa o comportamento dos leitores diante dos tablets. Por onde caminham seus olhos, de que forma usa o aparato, de que forma percorre os menús de navegação, de que forma escolhe e com que critérios e escolhe os conteúdo que vai ler ou a propaganda na qual vai clicar. Entre outras muitas coisas.

O estudo é um mapa da mina para publishers diante da questão de como criar, gerir e distribuir conteúdos atraentes para o leitor do tablete, cativando-os, fazendo-os voltar e criando uma audiência fiel recorrente.

Entre algumas das dicas e achados dos dois, ficam aqui algumas:
– Tablets devem ser entendidos como aqueles livros com dobraduras para crianças, que aparecem quando se vira a página (pop-ups books), trazendo a cada interação uma surpresa que promova o interesse do leitor;
– O interesse pela leitura no tablet cai a partir dos 60 segundos. Se você não criar algo editorial ou visualmente interessantes nesse momento, a probabilidade aumenta do leitor sair da notícia ou abandonar a publicação;
– As pessoas hoje preferem mais e mais navegar por imagens e não mais por títulos, manchetes, headlines;
– Uma imagem deve sempre ser a âncora principal em cada página no tablet, cerca de cinco vezes maior que a segunda imagem em importância no mesmo espaço, ou o leitor ficar perdido e não sabe para onde olhar, podendo perder o interesse;
– Um leitor médio de tablet olha antes para oito temas diferentes antes de escolher aquele que vai de fato ler;
– O leitor de tablet não se incomoda de ler em profundida textos mais longos, o aparato facilita esse hábito;
– Os conteúdos editorias de modo geral são mais consumidos depois das seis da tarde, os tablets tendem a promover uma leitura noturna e não na correria do dia a dia.

Os temas que não querem calar, ainda novos para nós
O mercado brasileiro de produção de conteúdo jornalístico é bastante evoluído e tem momentos de rara qualidade, comparáveis ao que de melhor se produz em qualquer lugar.

Mas caminhamos a passos lentos, quando o tema resvala para ao avanços tecnológicos, o impacto das redes sociais na produção e distribuição de conteúdo editorial, a gestão de dados como hoje parte da planilha do novo jornalismo, coisas dessa natureza, e como fazer para não só entender esse novo cenário, mas para também incorporá-lo de forma inteligente, rentável e produtiva ao dia a dia das redações e dos grupos de mídia em geral.

É o maior desafio do jornalismo e do setor editorial brasileiro no momento, face ao que pode vir a se configurar como uma distribuição das verbas de mídias dos anunciantes cada vez mais pulverizada entre outros canais de conteúdo nascentes.

Alguns dos temas tratados no SXSW deverão passar a fazer parte do nosso cotidiano como Publishers daqui para a frente, como o uso das tecnologias emergentes para cativar leitores, a geolocalização na prestação de serviços da mídia editorial, o domínio das novas linguagens evoluídas a partir das novas plataformas de distribuição de conteúdos, a incorporação do big data como ferramenta de pesquisa e gestão de conteúdos online, a fórmula ideal de relacionamento com o crowdsourcing como canal provedor de informação, o impacto do Twitter, o impacto dos blogs, o poder do stroytelling, o copyright num mundo digital sem autoria reconhecida, as ferramentas digitais que criam textos com princípios avançados de robótica, dispensando o ser humano (para análises isso obviamente não funciona, mas para produzir as notas de hard news pasteurizadas e sem personalidade que vemos hoje em toda na mídia todos os dias, os robôs poderão dar conta do recado sem problema… e aí?), enfim, a lista é gigantesca e todas as principais questões nesse âmbito foram de alguma forma debatidas aqui, no SXSW.

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