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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Acabou, mas e agora?

Falamos de ideias e projetos entre um passo e outro de dança country no Broken Spoke, e isso também conta para a sensação de um SXSW concluído com sucesso


20 de março de 2023 - 11h15

(Crédito: Divulgação/SXSW)

Na semana passada falei sobre minhas expectativas sobre o festival. Dez dias, muitas palestras, ativações, encontros e happy hours depois; posso confirmar que parte do que eu esperava realmente rolou por aqui. Vou começar pelo fato de que temáticas relacionadas a propósito ganharam grande espaço na agenda e lotaram, por algumas vezes, o principal auditório do centro de convenções.

Essas apresentações não relevaram nenhum modelo claro a ser seguido por marcas ou empresas para continuarem em suas missões de terem e agirem em um propósito que possam chamar de seu. No lugar disso, esses talks nos fizeram lembrar que sabemos exatamente o que precisa ser feito, como pessoas civis e também como marcas, só é preciso agir.

José Andres, fundador do Global Central Kitchen, fez o discurso mais inflamado que escutei em Austin. Com a voz trêmula e olhos marejados, ele falou do poder que a comida tem de mudar o mundo. Quando evitamos o desperdício de alimentos, estamos, na verdade, evitando o desperdício de vidas.

O seu projeto chega em áreas de necessidade depois de 24 horas de desastres como o terremoto de fevereiro na Turquia. Segundo José, ao lidar com os efeitos da tragédia, o melhor da humanidade aparece, e a Global Central Kitchen usa isso a seu favor na montagem de suas operações. Toda cozinha doméstica pode ser um centro de produção de refeições, assim como todo proprietário de carro pode ser um apoio logístico. Ao montar uma nova operação, a população local é rapidamente escalada. Eles fazem parte da solução e trazem para a operação profissional do projeto a cultura da comunidade apoiada. Ao ser questionado sobre como fazemos a nossa parte, José responde que quando a necessidade aparece, todos sabemos o que devemos fazer, a questão está em tomar ou não uma ação.

A voz de Ryan Geller, CEO da Patagônia ecoou o chamado de José. O shift interessante aqui foi entender que, apesar da companhia ter tomado a decisão de reverter 100% do seu lucro a causas ambientais, ela ainda é uma empresa com fins lucrativos, só que agora para o planeta, segundo Ryan. Ele explica que a operação da empresa não mudou depois da decisão e que seguem o foco em gerar lucro garantindo responsabilidade social e ambiental. E nesse ponto, mais uma vez somos convidados à ação. O executivo reforça que conhecemos o caminho para construção de uma marca com propósito, mas hesitamos em traçá-lo pelo efeito que isso pode gerar no resultado de curto prazo.

O segundo-cavalheiro dos EUA, Douglas Emhoff (marido de Kamala Harris para aqueles que como eu ainda não conheciam esse termo), também esteve no festival e sua fala me tocou profundamente. Logo no começo de sua entrevista, ele evidenciou seu propósito de aumentar o número de mulheres na política para que então possamos pensar em leis sendo feitas para mulheres e, finalmente, em equidade.

Eu senti as consequências dessa falta de representatividade quando trabalhei com Always na campanha #MeninaAjudaMenina pelo fim da pobreza menstrual. A marca descobriu que no Brasil 1 em cada 4 meninas falta às aulas por falta de absorvente e o caminho para reverter essa trágica realidade foi a mudança de políticas públicas que poderiam já existir se houvesse uma representatividade maior no poder. Então, se Douglas seguir em sua missão, problemas como a pobreza menstrual podem não fazer parte do nosso futuro.

Vou terminar sendo justa e falando daquela expectativa que não se concretizou. Eu não participei de mais meet ups do que de palestras; na verdade, aproveito o ambiente seguro para dizer que não participei de nenhum meet up. Dá para dizer que o trabalho colaborativo que imaginei fazer parte dessas reuniões aconteceu, sim, o tempo todo com meus colegas de trabalho e de viagem e com os parceiros e clientes que encontramos por aqui. Falamos de ideias e projetos entre um passo e outro de dança country no Broken Spoke, e isso também conta para a sensação de um SXSW concluído com sucesso.

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