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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Novas rotas para a ficção científica na mobilidade

Mary Barra, CEO da General Motors, se juntou a Kyle Vogt, CEO da Cruise, para discutir o futuro dos veículos elétricos, barreiras para sua implantação e concorrência com a China e Tesla


14 de março de 2023 - 20h08

Imagine-se em uma sala de estar, conversando com outras pessoas sob um teto panorâmico. De repente, você chega ao seu destino. Apesar de o espaço soar muito como a classe executiva de alguma companhia aérea, falamos aqui de veículos terrestres — mais especificamente de um carro autônomo. A proposta futurista não é novidade em filmes de ficção científica, mas no mundo real, ainda pode parecer improvável.

Veículos elétricos

Mary Barra, CEO da General Motors (à direita), e Kyle Vogt, CEO da Cruise, participaram da featured session nesta terça-feira, 14 (Crédito: Giovana Oréfice)

Mas não para a Cruise. A companhia de carros autônomos norte-americana está trabalhando para tornar essa peculiaridade amplamente popular com a ajuda de um nome de peso. Em 2016, a General Motors anunciou a aquisição da Cruise como forma de endossar sua participação neste segmento, rumo ao investimento em massa dos carros elétricos. Representantes da parceria – Mary Barra, CEO da GM, e Kyle Vogt, CEO da Cruise – estiveram presentes no painel Self-Driving Cars: From Science Fiction to Scale, no Ballroom A, do Austin Convention Center.

“Vamos migrar do ‘dirigir’ para sermos conduzidos”, previu Vogt. Tirar a ideia do papel e trazê-la para a realidade demorou, em média, oito anos. Hoje, já existem mais de 100 projetos pilotos em cidades como São Francisco, na Califórnia, onde a empresa fica baseada, em Austin e em Phoenix, por exemplo. “O que estamos vendo agora é a fase de expansão e realmente acho que estamos entrando nos anos dourados das pessoas experimentando a tecnologia dos carros autônomos”, explicou.

Mary Barra corroborou, apontando que a tecnologia é “parte do futuro”, portanto, não encarou a aposta como “arriscada”. “Minha grande mensagem é: dê uma volta nos nossos veículos e você estará convencido de que pode confiar neles. Eles prestam atenção e conhecem todas as leis de trânsito locais e limites”, declarou a CEO. De fato, o grande assunto da vez – a inteligência artificial – veio à tona quando questões práticas acerca da produção dos carros autônomos foram colocadas em pauta.

Os testes do Cruise tiveram início em áreas urbanas mais densas, conforme relembrou Vogt. Esta foi uma maneira que a companhia encontrou para, de fato, solucionar os problemas que surgem com a produção de um veículo tão sofisticado em termos tecnológicos que, pelo menos no médio prazo, deverão conviver nas ruas com motoristas humanos. Neste sentido, a tecnologia opera em predições desenvolvidas com base no estudo de tudo o que as pessoas fazem no trânsito. “Uma vez que as barreiras técnicas e críticas para fazer um produto seguro e atraente saiam do caminho, elas se transformam em um problema de P&D, execução e dimensionamento”, delineou o CEO da Cruise.

Ademais, carros estão evoluindo para tomar um espaço que não se limita mais apenas à mobilidade. Com soluções de IA cada vez mais sofisticadas, poderão se tornar quase como assistentes virtuais, a partir da integração com plataformas de mídia digital e softwares que atendem às necessidades pessoais dos motoristas.

O futuro é elétrico

A GM firmou a meta de ter, até 2035, apenas carros elétricos em seu portfólio. Até o final deste ano, terão nove veículos do tipo disponíveis para compra. Uma vez que muitas pessoas têm carros elétricos como secundários, o desafio é fazer com que eles sejam o principal automóvel e primeira escolha dos indivíduos. Para se ter uma ideia, a maior parte dos veículos elétricos disponíveis no mercado atualmente têm autonomias limitadas.

“Se realmente desejamos alcançar 50% do mercado dirigindo veículos elétricos, é preciso conquistar aquele cliente que possui apenas um veículo e depende dele para seu sustento”, declarou Mary. Um dos caminhos para alcançar a ambiciosa meta de vender um milhão de EVs (electric vehicles, “veículos elétricos”, na tradução), é que a GM tem uma joint venture batizada de “Ultium Cells LLC”, destinada a criar as melhores baterias para que não só a GM, mas os Estados Unidos, tenham a liderança neste segmento.

Há também uma discussão sobre receitas recorrentes, já que, segundo a CEO da GM, automóveis duram entre 11 e 12 anos, em média. “Estamos chegando em um ponto em que, normalmente, compramos um veículo e ele perde valor. Os elétricos poderão ficar cada vez melhores à medida que o tempo passa, porque será possível fazer novos downloads para ter uma direção mais intuitiva e menos distrativa”, disse, salientando que EVs são “plataformas de softwares”.

Oceano vermelho

Mesmo que represente uma oportunidade iminente, o mercado de carros elétricos já está, de certo modo, bastante ocupado. Quando questionadas sobre a concorrência de um dos principais atores no mercado atual, a Tesla, o CEO da Cruise rebateu: “Queremos trabalhar para os carros ou fazer com que eles trabalhem para nós?”. Para ele, há uma distinção ainda confusa do que são carros autônomos e as soluções que alguns veículos já têm, como assistentes de direção, por exemplo. Ou seja, quem assume a responsabilidade no volante: o ser humano ou a tecnologia?

Além disso, a mediadora Emily Chang, da Bloomberg, assumiu que Elon Musk perdeu alguns fãs ao longo do caminho devido às decisões recentes que tem feito, como a compra do Twitter. Neste sentido, a General Motors mantém a confiança em sua força de marca, e continua apostando na qualidade de seus produtos, que é o que garante a fidelização dos consumidores. Ainda que a quantidade de Teslas pelas ruas de Austin surpreenda, pelo menos a partir de uma visão brasileira, a GM continua se consolidando como uma das líderes na venda de veículos nos Estados Unidos.

Há também uma nação inteira a ser enfrentada como concorrente. A China vendeu, em apenas um mês, 500 mil EVs, segundo informações de emplacamento da China Passenger Car Association (CPCA). Mary explica que é necessário traçar estratégias específicas para o mercado chinês, e que existe uma questão maior no que diz respeito às perspectivas de segurança nacional envolvendo ambos os países.

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