Sete tendências que vão mudar o consumo na próxima década
Deslocamento populacional, design intergeracional, consumo slow e saúde holística estão entre os destaques do relatório da Bain & Company
Deslocamento populacional, design intergeracional, consumo slow e saúde holística estão entre os destaques do relatório da Bain & Company
Taís Farias
12 de março de 2024 - 15h17
Com as mudanças acontecendo em ritmo cada vez mais acelerado, olhar para o futuro pode ser um desafio. Para ajudar as empresas nessa jornada, a empresa de consultoria Bain & Company criou o relatório “Além das tendências atuais: o futuro das economias de consumo”.
O estudo combinou dados sobre macro forças globais e comportamento do consumidor para entender como a maneira como as pessoas vivem, trabalham, socializam e cuidam de si deve mudar na próxima década. “O que vai permanecer constante são as necessidades essencialmente humanas”, adiantou Leah Johns, head do Global Consumer Lab da Bain & Company. Confira as tendências apresentadas pela consultoria:
Na próxima década, as pessoas estarão, cada vez mais, em movimento. Seja por vontade própria em busca de outras maneiras de trabalhar e viver, ou por questões macro como instabilidades econômicas e conflitos geopolíticos. Essas mudanças afetarão como a população mundial estará distribuída ao redor do globo. A Bain & Company aponta, por exemplo, que mercados como Índia e China deverão experimentar um crescimento populacional mais lento que nos últimos anos.
Já o Japão pode viver um declínio de sua população. As mudanças serão aceleradas pela crise climática. Segundo o estudo, na próxima década, serão pelo menos 1,2 bilhões de indivíduos em deslocamento por conta do clima. Além disso, com os altos custo imobiliários no mundo, o conceito de casa própria estaria perdendo força. Enquanto isso, o nomadismo digital ganha popularidade. Nos EUA, o número de profissionais que adotam essa dinâmica dobrou de 2019 para 2023.
Com essas mudanças em vista, a consultoria prevê uma reestruturação do varejo nas cidades centrais e um reposicionamento do mercado imobiliário, com foco em soluções mais acessíveis para moradia e estrutura para o trabalho remoto e o nomadismo. A disseminação de itens multiculturais em lojas e mercados também deve ser uma alternativa para atender aos paladares globalizados.
As casas com um único morador são as que mais crescem no mundo e a diversidade no núcleo familiar é uma realidade desde os tempos mais remotos. No entanto, os produtos e serviços ainda são desenhados para os modelos familiares tidos como tradicionais. “No futuro, estaremos focados em criar rituais para famílias, independente de seus formatos”, defendeu Johns.
Entre as soluções emergentes para essa problemática estariam, por exemplo, a criação de comunidades para mães solo e a arquitetura de casas multigeracionais. Isso porque, em 2050, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo terão mais de 60 anos. “Eu sei que nós adoramos falar sobre a Geração Z, mas essas pessoas não podem ser ignoradas”, afirmou a head do Global Consumer Lab da Bain & Company.
Para a executiva, as empresas precisam encarar de frente o paradoxo do envelhecimento e o fato de que todas as gerações, sem exceção, podem ser valiosas para os negócios. A criação de aplicativos de relacionamento para pessoas com mais de 60 anos, soluções em turismo e viagens e de universidades focadas nessa faixa etária estão entre as oportunidades apontadas.
A sustentabilidade também apareceu entre as tendências da Bain & Company. Mas o que, no passado, foi uma tomada de consciência. Hoje, a companhia apresenta como urgência. Segundo o estudo, globalmente, 64% das pessoas se declaram extremamente preocupadas com a sustentabilidade. Além disso, a ecoansiedade, medo crônico da destruição ambiental, também estaria ganhando força.
O padrão, daqui para frente, seria uma disrupção dos modelos vigentes e um resgate de práticas antigas como a troca com vizinhos e as produções caseiras. Se antes o ciclo do consumo consciente, incluia a redução, o reuso e a reciclagem. Hoje, a consultoria aponta um novo comportamento : o evitar.
Ele seria sustentado, primeiro, pela prática das companhias de venderem produtos orientados à sustentabilidade com preço premium e a popularização de ativistas e influenciadores que divulgam seu estilo de vida evitando marcas e produtos que criam impacto negativo no planeta.
As pessoas estão, cada vez mais, sobrecarregadas e automação será um caminho para tudo aquilo que possa poupar tempo e seja considerado desimportante, segundo a Bain & Company. Os dados corroboram para essa percepção. No Reino Unido, as pessoas checam o celular cerca de 80 vezes ao dia. Já nos Estados Unidos, 42% das pessoas declaram sentir que não têm nenhum tempo livre para o lazer.
Outros fatores também corroboram com a sobrecarga. Pelo menos 65% do trabalho doméstico, nos EUA, seria feito exclusivamente pelas mulheres. “Vamos chegar em um lugar em que, ao invés de ser escravizados pela tecnologia, a teremos como um parceiro para a produtividade”, aponta Joëlle de Montgolfier, VP executiva de práticas de varejo e consumo da Bain.
Nessa linha, estariam o assistente pessoal baseado em IA, apresentado pela Samsung, e o Rabbit R1, gadget de bolso com inteligência artificial lançado na CES 2024, que vem sendo citado por uma série de painelista durante o South by Southwest.
Na análise da Bain & Company, os empregos, da maneira como os conhecemos, estão se tornando obsoletos. A tradicional e privilegiada convenção, de concluir o ensino superior com uma graduação e ter um trabalho único ao longo da vida já não atende mais a realidade. “Os jovens estão priorizando suas escolhas para a vida. E isso não é necessariamente sobre trabalho”, definiu Johns.
Na prática, 65% dos empregos que a Geração Z quer para o futuro ainda não existem. Além disso, cerca de 50 milhões de pessoas se consideram creators. “Os consumidores, hoje, têm todas as ferramentas que precisam para serem suas próprias empresas”, concluiu a executiva. Isso aparece não só na crescente da Creator Economy, mas em empresas do varejo tradicional, como a norte-americana Claire’s, desenvolvendo collabs com jovens influenciadores. Escolas primárias no Reino Unido também estariam revendo suas grades para atender a diferentes necessidades.
As pessoas sempre se preocuparam com a saúde, mas a maneira como elas fazem isso mudou. Se até agora a compreensão de uma saúde física, mental e espiritual já era considerada holística, daqui para frente, outros elementos começam a compor esse mapa, como a saúde do sono, a social e a financeira. Um dos motivadores desse avanço seria a democratização do acesso a informações sobre saúde.
No Reino Unido, 83% daqueles que compram casas dizem ser importante estar perto da natureza e 57% do público geral usa smart watchs ou fitness trackers. Um efeito colateral disso é o aumento no número de novas medicações e tratamentos em aprovação, mas também uma comida cada vez mais funcional, scanners para a detecção precoce de doenças, terapias com psicodélicos e mesmo o estudo de possíveis drogas e tratamentos que interrompam o envelhecimento do corpo.
Mas a head do Global Consumer Lab da Bain & Company faz uma ressalva: “Muito do que nós apresentamos só está disponível para a elite mundial” E acrescenta: “Os governos deveriam ir para além da saúde básica”.
A pandemia e a tecnologia teriam criado uma epidemia da solidão. Segundo o estudo, hoje, nos Estados Unidos, três em cada cinco adultos se sentem sozinhos. 70% dos usuários de redes sociais também afirmariam se sentir da mesma forma. No Canadá, uma em cada duas pessoas dizem confiar em poucas pessoas ou ninguém da sua vizinhança.
De modo geral, as pessoas estariam passando mais tempo sozinhas ou em atividades automatizadas. Há também um declínio do hábito de sair com amigos. Isso está conectado com o investimento público. Em Nova Iorque US$ 24 milhões foram cortados de livrarias públicas. Em 2021, o Japão nomeou seu primeiro Ministro da Solidão, para ajudar as pessoas em isolamento.
O mercado estaria respondendo a tendência de Moda Dopamina, com tons vibrantes, é uma aposta na moda. A Fiat também anunciou, ano passado, que fabricará carros com cores vibrantes. Mas há quem aposte em mais tecnologia, com os assistentes pessoais e virtuais de IA
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