Mais criativos querem deixar o Brasil
Economia em crise e exposição das agências em festivais podem ocasionar fuga de talentos
Economia em crise e exposição das agências em festivais podem ocasionar fuga de talentos
Meio & Mensagem
4 de fevereiro de 2015 - 10h07
Acostumada à exportação de talentos, a publicidade brasileira vivencia a intensificação desse fenômeno, que atinge patamares mais seniores de profissionais. A decisão de sair do Brasil não está atrelada apenas aos salários, que costumam ser maiores por aqui, mas a outras questões.
“Quando o cenário econômico é ruim, os anunciantes buscam a zona de conforto. Os investimentos ficam mais voltados a manter sua base de clientes, diminuindo a abertura para que os criativos tragam novas ideias. Isso não é bom para profissionais de indústrias criativas, que querem participar de coisas novas e, por não conseguirem, acabam pensando em novos mercados”, opina Fábio Cunha, gerente executivo da área de marketing da consultoria Michael Page.
Por outro lado, aumentou muito o assédio internacional pelos profissionais brasileiros, segundo relatos de recrutadores estrangeiros, alimentados pela exposição conquistada em festivais como o de Cannes.
Jennifer Novak, head global de recrutamento de talento criativo da DDB, confirma que os mercados internacionais estão mais atentos ao Brasil. “Trabalho com Amir Kassaei, CCO da rede DDB, e ambos acreditamos que o trabalho que sai do País é fantástico”, afirma.
Segundo ela, os brasileiros buscam a possibilidade de criar em diferentes mídias e clientes e participar de projetos que ganham repercussão internacional.
Marcos Kotlhar, ex-diretor de arte da AlmapBBDO e atualmente na BBH de Nova York, afirmou que alguns recrutadores lhe relataram que, em 2014, houve grande alta na procura de brasileiros por vagas no exterior. No caso dele, a decisão de sair do Brasil ocorreu por falta de opção no País e pela busca por novas experiências. “Eu estava na Almap há mais de nove anos e nenhuma outra agência do Brasil me despertou o desejo de trabalhar”, conta.
Para Fernando Musa, CEO da Ogilvy, uma das agências que mais sofreu perdas nos últimos anos, está mais difícil convencer os profissionais a ficarem no Brasil, por questões que não tem a ver com o mercado. O lado pessoal tem pesado, por conta de problemas como a falta de segurança e a economia em dificuldades.
Nesse momento, não há uma fuga de talentos do Brasil, mas o desejo de trabalhar fora cresce e alguns já tomaram essa decisão. Em novembro, Roberto Fernandez trocou a liderança executiva de criação da David São Paulo pela direção de criação da BBH Londres, mesmo cargo do espanhol Paco Conde, que liderava a Ogilvy Rio e tomou o mesmo rumo. Da mesma forma, Paola Colombo e Paulo Melchiori trocaram a R/GA de São Paulo pela de San Francisco.
Outro exemplo é Ícaro Dória, um dos fundadores da Wieden + Kennedy de São Paulo que, em março, assumirá como chief creative officer da DDB de Nova York.
Para Dória, o fato de a Copa do Mundo de 2014 ter oferecido aos profissionais brasileiros a oportunidade de fazer campanhas mais integradas e com escala internacional atiçou o apetite para trabalhar fora. “Os brasileiros acabaram se aproximando dos clientes globais e passaram a considerar a ideia de turbinar suas experiências”, afirma. “O que acontece no maior mercado de publicidade do mundo ganha uma escala gigantesca”, aponta.
Leia reportagem completa na edição 1645 de Meio&Mensagem, disponível para download em Android e iOS.
Confira abaixo uma reportagem da TV Meio & Mensagem sobre os novos desafios de Ícaro Dória:
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