Ponto de vista

O sentido da vida revelado ao acaso

i 18 de julho de 2011 - 8h46

Assisti um debate na Flip 2011 entre um gênio da neurociência cibernética e outro da filosofia de religião. O tema: "o humano além do humano". E o que seria isso?
para um, era o cérebro controlar um braço mecânico, um paraplégico controlar um exo-esqueleto com o pensamento, ou até uma rede social neural para outro, era a busca pelo sentido da vida, através da religião, da fé, da metafísica.

Dr. Miguel Nicolelis o neurocientista é mais do que um otimista ou visionário. É um realizador de utopias. Num célebre experimento, fez com que um macaco controlasse com o cérebro um braço mecânico. Sua maior realização, porém, talvez seja o Campus do Cérebro, em Macaíba um polo de tecnologia num dos lugares mais miseráveis do Brasil. Projeto que ele imaginou, convenceu o presidente, conseguiu investimento internacional, realizou e cultiva seu progresso. Uma lugar que está inventando um jeito de ensinar que mistura metodologia Paulo Freire, com o ”inventismo prático" de um Santos Dumont, e estudos científicos sobre como o cérebro aprende. A próxima utopia desse cientista: fazer um garoto tetraplégico dar o primeiro chute na bola na Copa do Rio 2016.

Luiz Felipe Pondé o filósofo é provavelmente o maior pensador brasileiro contemporâneo sobre religiões. É autor de livros como "o homem insuficiente", "conhecimento na desgraça" e "contra um mundo melhor" um livro escrito "contra um mundo que mente sobre si mesmo". Quase se formou médico, mas não conseguia lidar com o fato da medicina não ter uma solução para tratar o "eu" de um paciente em estágio terminal, rumo ao nada. Um homem que estuda a sutileza desse sentimento de vazio que o ser humano sente. Renomado professor é um fomentador do pensamento crítico que confessa "não ver o tempo passar" quando está dando aula.

Foi uma dos debates mais lindos que vi: pontos de vista totalmente antagônicos, discordantes, e até ácidos. Extremamente complementares.

Mas o mais fascinante insight do debate, mal foi notado no diálogo dos dois. Assim como as grandes descobertas científicas geralmente são encontradas quando os cientistas estão pesquisando outra coisa, foi num breve comentário de Pondé que ele apontou o sentido da vida.

A discussão estava sendo travada sobre o Niilismo conceito filosófico que pôs em cheque a sociedade ao apontar que os valores de uma sociedade são escolhidos por ela mesma e indicar a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Pondé falava asobre a ausência da razão de existir, que em sua argumentação, não teria cura…. a não ser que vc seja alguém tão apaixonado pelo que faz como um neurocientista e que isso o complete.

Alguém tão apaixonado por realizar utopias ou alguém que ao dar aula não nota nem mesmo sua própria existência no tempo.

Talvez o sentido da vida seja apenas esse: seguir sua paixão. Uma verdade tão óbvia, mas tão óbvia, que faz-se passar desapercebida, a ponto de não identificarmos nossas motivações na vida e, por tantas vezes, fazermos escolhas erradas. Uma verdade que é sempre bom lembrar: seguir sua paixão.

Philippe Bertrand é diretor de conteúdo da DM9DDB