Uma atriz sem tempos mortos

Fabiana Zanelato
24 de novembro de 2011 - 11h36

Há tempos que não pareço por aqui: fim de ano deixa tudo mais corrido. Ainda assim, felizmente, consegui largar tudo na última sexta-feira para ir ao teatro. Uma boa peça, costumo dizer, é o alimento da alma e referência essencial para criativos. No caso, uma baita peça boa, resultado da parceria afinada de três gigantes da nossa cultura: Fernanda Montenegro, Felipe Hirsch e Daniela Thomas.

O monólogo Viver Sem Tempos Mortos é "essencial" mesmo, como muito bem definiu Fernanda, também responsável pelo texto. Para fazer, em 60 minutos, um retrospecto ora bem humorado, ora saudoso da vida afetiva e sexual de Simone de Beauvoir, a atriz usa um cenário simples. Há uma cadeira de madeira, ao centro, sobre um tapete preto. A luz faz um foco na cadeira e ilumina totalmente Fernanda. Não há grandes variações de luz: ela apenas aumenta o foco para as dimensões do tapete.

O cenário minimalista deixa o palco todo para Fernanda. Ela domina o público como se fosse 20 atrizes, e não uma. É impressionante sua atuação, que torna palatável e instigante temas espinhosos como amor livre e fidelidade – mesmo que ditos por uma atriz de 82 anos. Ela se senta ali com tamanha simplicidade (que se estende ao figurino) e envolve completamente a platéia. É possível viver intensamente cada suspiro, cada alegria e cada sofrimento de Simone de Beauvoir.

Com a alma lavada e alimentada, saí do teatro com a promessa e a recomendação de dedicar mais tempo para vivenciar (sem tempos mortos) este tipo de
espetáculo. E com o sentimento de felicidade por poder testemunhar tamanho talento. Além de relembrar, com carinho, momentos em que já dividi o palco (obviamente, eu na coxia e ela em cena) com esse talento da nossa dramaturgia. É de aplaudir em pé. Bravo!