Ricardo Fort
12 de janeiro de 2012 - 2h16
Um dos maiores problemas nas empresas russas, chinesas e indianas é a retenção de talentos. Se você acha que no Brasil as pessoas mudam de emprego rápido demais, você precisa ver o que está acontecendo nesses países.
Na Índia, entrevistei candidatos para posições de gerente de marcas que antes dos 30 anos já haviam passado por mais de dez empresas. Isso equivale a mudar uma vez a cada oito meses! E a melhor parte da entrevista era a tentativa (sempre frustrada) de explicar as motivações para tantas mudanças…
No caso dos indianos, russos e chineses (e logo dos brasileiros), a explicação é simples: acelerar a carreira e ganhar (muito) mais. Não importa que em algum momento quebrarão a cara e serão promovidos de vice-presidentes para assistentes de almoxarifado (eu vi currículos assim, mas preferi não perguntar o que aconteceu).
Mas numa situação normal, quais as motivações para mudar de empresa ?
Dinheiro é menos importante do que parece. Depois de uns meses, você se acostuma com o salário novo e tudo volta a ser o que era. Na maioria das vezes que vi mudanças com essa motivação, as coisas acabaram mal. Por isso, se você acha que aqueles 15% a mais que estão te oferecendo justificam o esforço, pense bem antes da troca.
Status é uma das motivações mais comuns. Um gerente aqui que vira diretor ali (geralmente numa empresa menor) sempre ajuda na decisão. Se a mudança vem acompanhada de mais responsabilidades e oportunidades de desenvolvimento, ótimo. Essa vale a pena.
O chefe é uma razão comum. Como muitas empresas estão povoadas de loucos, muitas pessoas optam por manter sua sanidade mental e se mandam. Apesar de a solução ser radical, no longo prazo é plenamente justificada.
Desenvolvimento: muito rara. Nos primeiros 20 anos de carreira o desenvolvimento é um benefício a mais no pacote, não a motivação principal para a mudança. Poucos têm o sangue frio de mudar de emprego apostando no longo prazo e no seu desenvolvimento. Isso é uma pena, pois este é o que paga os melhores dividendos.
Finalmente o mais difícil e mais nobre de todos: princípios. Quando você percebe que os valores, a forma de pensar e a visão da empresa são diferentes das suas. Quando você não acredita mais no que ela promete e isso se torna insuportável. Amigos trabalhando com tabaco decidiram mudar por não se sentirem bem em vender cigarros ou outros produtos de reputação questionável.
Por uma razão ou por outra, quando a hora da mudança chegar, você saberá. Algumas vezes você acerta, outras não. Mas sempre aprende algo novo, conhece pessoas interessantes e se torna um profissional melhor. Só não vá exagerar como o ex-vice-presidente (atual gerente jr.) que conheci em Nova Déli.
Ricardo Fort é diretor global de marcas da Danone Paris.
Compartilhe
Veja também
-
Prefeitura de São Paulo interrompe projeto do “Largo da Batata Ruffles”
Administração Municipal avaliou que a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana precisa dar um parecer sobre o projeto; PepsiCo, dona da marca, diz que parceria é de cooperação e doação e não um acordo de naming rights
-
Natal e panetones: como as marcas buscam diferenciação?
Em meio a um mercado amplo, marcas como Cacau Show, Bauducco e Dengo investem no equilíbrio entre tradição e inovação, criação de novos momentos de consumo, conexão com novas gerações, entre outros
-
-
-