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Ponto de vista

Reflexões de 20 anos da economia digital

O mundo digital nos abriu oportunidades fantásticas, mas trouxe também angustias assustadoras sobre as coisas não tão boas que essa nova era poderia nos trazer


28 de abril de 2015 - 3h09

Uma das palestras mais legais que vi no SXSW desse ano foi, do sempre inspirador, Don Tapscott. Vê-lo pessoalmente já foi uma experiência a parte, afinal, foi depois que li seu livro Wikinomics que entendi as transformações do mundo digital na vida das pessoas. Acho que foi por isso que nunca vi o digital como mais um canal de mídia, e sim como uma lente que coloca tudo sob uma nova perspectiva.

A palestra dele foi uma reflexão dos 20 anos desde o seu primeiro livro sobre a economia digital. O bacana foi ver uma palestra de hoje totalmente fundamentada por teses e teorias escritas há mais de uma década e que são ainda tão atuais.

Na verdade, o grande ponto da palestra “The Dark Side of the Digital Economy” é que de fato o mundo digital nos abriu oportunidades fantásticas, mas trouxe também angustias assustadoras sobre as coisas não tão boas que essa nova era poderia nos trazer – e que tem nos trazido. Perdemos a mão em algum ponto ou isso é um processo natural de evolução que temos que passar?

Da era agrária a era da inteligência em rede, tudo mudou tão rápido que não conseguimos acompanhar como seres humanos e nem como sociedade. Um dos pontos levantados no livro escrito em 1995 é um alerta sobre a quantidade de empregos que poderia decrescer à medida que a tecnologia transforma as habilidades profissionais e a forma como as empresas e o sistema operam.

É isso que temos acompanhado recentemente. Essa é a primeira vez na história que a economia cresce sem que os postos de trabalho cresçam significativamente. Segundo Eric Schmidt, do Google, a escassez de postos de trabalho será a grande temática nas discussões de política pública nos próximos anos.

E dentro de casa? A nova mídia trouxe uma promessa de resgatar hábitos familiares perdidos na sociedade industrial. Mas o que está acontecendo é o inverso: são conexões cada vez menos presenciais e mais individuais e tecnológicas, nas quais cada membro da família está no seu quarto conectado com seu próprio device. Antes, pelo menos tínhamos uma tela em casa que nos “obrigava” a assistir uma programação juntos da nossa família.

E falando de dentro de casa, Don reflete sobre o impacto da economia digital na nossa qualidade de vida. A quantidade de informações, o acesso em qualquer lugar, a qualquer hora, está nos deixando cada vez mais confusos de até onde nossa vida se separa em profissional e pessoal e o quanto podemos absorver. Isso poderia nos trazer flexibilidade, felicidade naquilo que estamos fazendo ou trazer uma sensação de isolamento e escravidão. Mas de fato estamos absorvendo mais conteúdo?

Segundo outra palestra de neurociência que assisti, essa historia de multitasking é balela. Estamos virando task switching, absorvendo cada vez menos conteúdo em profundidade, mudando de um canal para outro de uma forma mais rápida, e delegando nossa inteligência aos computadores.

Outro ponto sério que ele levanta é a destruição da privacidade de uma forma sem precedentes e sem volta. Estar conectado significa que seus dados estarão disponíveis na rede, e estão, para “qualquer um” acessar seus passos, sua vida, seus dados do banco. Estamos ainda longe de compreender e delimitar até onde tudo isso vai chegar.

Esses são somente alguns poucos pontos dos 12 mencionados por ele.

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E o grand finale: uma orquestra sinfônica ao fundo e uma cena de uma linda revoada encerraram a palestra do guru. Um desabafo de esperança de que as coisas agora evoluam para uma versão muito mais positiva dessa transformação. Onde, ao invés de trocarmos conhecimento, compartilharemos nossa inteligência. Uma nova consciência de tudo. Onde o mundo que estamos deixando para nossos filhos e netos será um lugar melhor. Viveremos de verdade em rede, um ajudando o outro, para que sigamos num mesmo rumo, assim como na revoada. Com liderança, mas sem um único líder, sem brigas ou atropelos no meio do caminho. Todos num sentido único, juntos contra os inimigos, confiando um nos outros.

Vamos aguardar ansiosos pela próxima grande obra e Don Tapscott e os próximos passos do mundo hiperconectado.

Andrea Dietrich é gerente executiva de marketing da BRF

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