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Walmart reduzirá vendas de munição após tiroteios nos EUA

Companhia também pedirá que os clientes não portem armas de fogo em suas lojas, após 24 pessoas morrerem em suas unidades no Texas e Mississippi


4 de setembro de 2019 - 17h53

As medidas representam as primeiras providências tomadas pela companhia após os tiroteios em suas lojas do Texas e Mississipi, nos EUA (Crédito: Bloomberg)

O Walmart deixará de vender alguns tipos de munição e pedirá aos clientes que não portem armas de fogo abertamente nos corredores após dois tiroteios mortais em suas lojas nos Estados Unidos que pressionaram a maior varejista do país a alterar suas políticas de venda de armas.

A empresa interromperá as vendas de munição calibre 223 e outros tamanhos que podem ser usados ​​em armas de assalto, informou em comunicado aos funcionários terça-feira, 3. A varejista também deixará de oferecer munição para revólver depois de ter vendido os estoques existentes. Além disso, o Walmart encerrará as vendas de revólveres no Alasca, o único estado em que ainda os vende, e está “solicitando respeitosamente” que os compradores não carreguem armas nos Estados onde é permitido.

“Está claro para nós que o status quo é inaceitável”, afirmou o CEO Doug McMillon, no comunicado. “Sabemos que essas decisões incomodarão alguns de nossos clientes e esperamos que eles entendam”.

As medidas, que, segundo o Walmart, reduzirão sua participação no mercado de munição para algo entre 6% e 9%, abaixo dos atuais 20%, representam os primeiros grandes passos da varejista desde que ataques em lojas no Texas e Mississippi deixaram 24 pessoas mortas. Sua única resposta até agora envolvia a remoção de displays de videogames violentos, um movimento criticado por defensores do controle de armas como imprudente.

‘Senso comum’
McMillon, que se intitulava proprietário de armas no comunicado, também reiterou seu apelo ao Congresso para debater uma proibição de armas de assalto e disse que as verificações de antecedentes devem ser reforçadas. Ele enviou cartas à Casa Branca e ao Congresso na terça-feira, 3, “que pedem ação sobre essas medidas de bom senso”.

Na carta ao Congresso, o Walmart disse que os legisladores deveriam considerar projetos de lei que reforcem a verificação de antecedentes e removam armas de fogo de indivíduos considerados perigosos. A empresa também disse que os legisladores deveriam financiar pesquisas “que ajudem nosso país a entender melhor as causas que levam a esse tipo de comportamento violento”.

O Walmart já realiza verificações de antecedentes em todas as compras de armas e vende apenas aos clientes que as liberaram, disse a empresa. A varejista disse que exploraria o compartilhamento de sua plataforma de tecnologia proprietária de venda de armas com outros varejistas.

Os compradores que tentarem carregar a arma abertamente, excluindo policiais autorizados, serão informados pelos funcionários sobre a nova política com uma “abordagem sem confronto”, disse o Walmart, observando que em breve compartilhará mais detalhes sobre como fazer isso com segurança. Os funcionários receberão treinamento sobre como lidar com os clientes portando armas abertamente e placas aparecerão nas lojas detalhando as novas regras, disse o vice-presidente executivo do Walmart, Dan Bartlett, em uma ligação com repórteres.

Quando se trata de transporte oculto por clientes com permissões, o Walmart não está mudando sua política. A rede teve que evacuar lojas várias vezes nos últimos meses, depois que os clientes entraram com armas de fogo visíveis, incluindo um incidente no mês passado no Missouri, quando um homem armado com um rifle e vestindo armadura foi preso. “Sabemos que a grande maioria entenderá a nova política e nos prepararemos para quem não entender”, disse Bartlett.

História das armas
A nova posição do Walmart foi aplaudida por onze defensores do controle de armas que se uniram em uma coligação do Walmart Must Act após o tiroteio em El Paso, no Texas, que ocorreu em um Walmart Supercenter. Alguns funcionários do Walmart em sua unidade de comércio eletrônico da Califórnia também pediram que McMillon restringisse as vendas de armas.

“Dado o tremendo tamanho e influência do Walmart, essas ações enviarão um efeito cascata através de nosso sistema político e forçarão nossos funcionários eleitos a romper o impasse e realmente avançar políticas inteligentes que a grande maioria dos americanos apoia”, disse a coligação do Walmart Must Act em uma carta distribuída após o anúncio. Os usuários do Twitter usaram a hashtag WalmartMustAct para comemorar as mudanças de política na terça-feira, 3.

O Centro de Direito Giffords elogiou a decisão do Walmart, chamando a empresa de “líder atenciosa” sobre o assunto. “Vimos em todo o país, não apenas nos Walmarts, o tipo de pânico e desordem que surge com pessoas portando fuzis de ataque abertamente”, disse Adam Skaggs, conselheiro chefe e diretor de políticas do grupo de controle de armas. “Limitar essa atividade provocadora e francamente perigosa é bom para os clientes e, suspeito, para os resultados finais”.

Do outro lado do debate, a National Rifle Association encaminhou perguntas à National Shooting Sports Foundation, um grupo comercial da indústria de armas de fogo. A fundação disse que o Walmart é livre para tomar suas próprias decisões sobre os produtos que escolhe oferecer.

Erich Pratt, vice-presidente sênior do Gun Owners of America, um grupo pró-armas de fogo, disse que é “decepcionante ver o Walmart ignorando o fato de que as armas são usadas com mais frequência para salvar vidas do que para tirar vida”. Ele disse que os movimentos do Walmart “terão o efeito oposto e não deixarão as pessoas mais seguras”.

Fabricantes de armas
Os fabricantes de munições estiveram envolvidos em deliberações, mas não souberam da nova política até terça-feira, 3, disse Bartlett, do Walmart, acrescentando que não tinha certeza de quanto tempo a companhia levaria para esgotar seus estoques. Algumas empresas americanas estão entre as maiores fabricantes de munição do mundo, incluindo a Vista Outdoor e a Olin Corp. A Vista lançou um site direto ao consumidor para vender munição no início deste ano. As ações de empresas de armas e munições caíram na terça-feira, 3, em meio a um declínio mais amplo das ações dos EUA.

As novas restrições representam o capítulo mais recente da longa história de vendas de armas do Walmart. No ano passado, o Walmart aumentou a idade mínima para comprar armas de 18 para 21, e, em 2015, encerrou a venda de rifles de esporte moderno, como o AR-15, usado em muitos tiroteios em massa. Além disso, parou de vender revólveres em todos os lugares, exceto no Alasca, em 1993.

Especialistas do setor de armas acreditam que as vendas são divididas igualmente entre revólveres e armas longas — as últimas são consideradas mais lucrativas que as primeiras. O governo federal não rastreia todas as vendas individuais de armas de fogo, mas os dados mantidos pelo Sistema Nacional de Verificação Criminal Instantânea do FBI são comumente usados ​​como um parâmetro para a venda de armas. Desde 2014, anualmente há mais dessas verificações realizadas para revólveres do que para armas longas.

No mês passado, o Walmart divulgou que responde por cerca de 2% do mercado de armas de fogo dos EUA, o que o colocaria fora dos três principais vendedores.

Tradução: Amanda Schnaider

**Com informações da Bloomberg

***Crédito da imagem no topo: Reprodução

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