Thaís Monteiro
8 de setembro de 2022 - 6h00
No momento em que a produção de conteúdo está se voltando a vídeos mais curtos, até por conta da valorização das próprias plataformas a esse tipo de conteúdo, e grandes influenciadores passam a investir em NFTs e no metaverso Felipe Castanhari vai na contramão. Um dos criadores da primeira geração de youtubers, Castanhari aposta em produções longas e vê a Web 3.0 como algo não inovador.
Felipe Castanhari investe em animação e equipe de produção própria, com historiadores, para aumentar qualidade do seu conteúdo (Crédito: Divulgação)
Castanhari não só produz vídeos mais longos para o YouTube, mas também tem acordos com a Netflix para produções originais, como foi a série Mundo Mistério, de 2020. Suas frentes de negócios envolvem, ainda, produtos licenciados e acordos publicitários. Recentemente, Castanhari firmou parceria com a FTD Educação. Agora, a FTD Educação serve como consultora dos vídeos produzidos pelo canal para checar informações e garantir a qualidade do conteúdo, enquanto Castanhari é embaixador da marca.
Naturalmente, esse é o tipo de segmento que mais o procura por sua ligação com conteúdos históricos e científicos. Sua estratégia para considerar possíveis parceiros é realizar uma pesquisa profunda sobre a empresa, inclusive em sites de feedback e acreditar no produto.
(Crédito: Divulgação)
Ao Meio & Mensagem, o criador compartilha suas percepções sobre a tiktoketização das redes sociais, a Web 3.0 e o que a envolve, como NFTs e metaverso e tendências para o mercado de criação de conteúdo.
Vídeos curtos
Cada uma das redes sociais têm um seu público, seu nicho e estilo e eu não tenho problema nenhum com as redes novas. Tínhamos vídeos curtos com o Vine e aí a moda passou e voltou. O TikTok já é a rede social mais consumida no mundo. É sempre interessante até mesmo os talentos que vinham disso. A minha questão é com as outras redes sociais que ao ver que o formato curto virou popular mudam seu modelo de negócios. Eu fiz uma pesquisa recentemente no meu feed do Instagram. De cada dez postagens, nove eram vídeos. Dá para ver que o Instagram tá mudando muito e o YouTube partiu para esse modelo com o Shorts. Eu não sei até onde é uma boa ideia porque são [modas] cíclicas.
Web 3.0: NFTs, VR e metaverso
Eu sou hater de NFT. Ele já existia e eles só embrulharam e entregaram outra coisa. Neste ano já se provou que o hype deu uma passada. Essas pessoas talvez precisem se posicionar e que esse mercado veio com o propósito de gerar dinheiro e não de gerar qualquer outra coisa; É travestido a indústria da arte. Metaverso para mim já existia mas embrulharam com papel e chamaram de outra coisa. Já existia antes e era ridículo. O metaverso saiu de um software de 1997. Se aquilo é futuro, será que eu quero estar? VR é o futuro? Eu não apostaria o meu dinheiro em VR e NFT. VR funciona de forma muito específica e não para todos os tipos de conteúdo. [O hype do VR e do NFT] durou poucos meses a empolgação porque está chato, porque está parado.
Checagem de informações e narrativas
Como meus vídeos são sempre sobre informação, eu não dou minha opinião. Eu tento fazer vídeos factuais e tratar a informação de forma isenta. É claro que eu tenho posicionamento e preferências e eu tenho uma máxima no meu canal. Se existe alguma informação que não é consenso entre os historiadores da minha equipe — e a história é cheia desses –, eu tento sempre mostrar todos os lados dando preferência para a narrativa que tende a valorizar o ser humano e a vida. Há narrativas que ignoram que pessoas morreram. Eu sempre dou prioridade para o lado humano da história. Eu quero trazer conhecimento e informação de forma possível. Eu nunca vou cometer erros de forma orgulhosa. Se não está claro, eu sempre busco saber como eu posso consertar, evoluir e aprender.
Novas fontes de receita
Eu preciso abrir canais de receita. Eu gasto muito dinheiro para fazer o que eu faço. Eu tenho uma coleção de camisetas, por exemplo, mas a minha cabeça sempre funciona para outro lado. Esse é meu grande defeito. Meus produtos são meus vídeos e eu estou sempre pensando em documentário. Esses são meus produtos. Você precisa dedicar seu tempo a algo. Quando eu não me dedico a pensar em frentes de negócio eu acabo me ferrando nesse lado.
Tendências
Essa guerra do streaming vai moldar muito o mercado de entretenimento. Já vemos essa briga na HBO e Discovery. Ainda estamos na fase de vários serviços surgindo e outros que não tem outro modelo de negócio definido e passam dificuldade e outros com mais facilidade, como a Amazon. Quando esse mercado acalmar, vai ter fusões e outras que vão morrer. Quando isso acontecer, vai aumentar a quantidade de conteúdos nacionais nessa plataforma, mas ainda é pouco comparando a quantidade de conteúdos de fora. Uma vez que isso acalmar muitos conteúdos nacionais vão ser produzidos. Mais produtos, mais chances de terem coisas excelentes no meio para que outras sejam produzidas depois. Além disso, daqui uns três anos as principais redes vão perceber que foi um erro virar TikTok porque o TikTok vai estar consolidado e terá o lugar dele e outras redes vão perceber isso e vão voltar a olhar pro seu principal modelo de negócio. Se isso não acontecer, vão surgir outras para virar o que o Instagram deixou de ser.