Os desafios de produzir conteúdo para o público adolescente
Conseguir captar a atenção de uma audiência que vem deixando de lado a mídia tradicional exige adaptações e iniciativas dos grandes players
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Bárbara Sacchitiello
29 de maio de 2023 - 14h49
Há alguns dias, a Folha comunicou aos seus leitores a retomada do Folhateen, projeto de conteúdo dedicado ao público adolescente e bem conhecido do público que acompanha o jornal na década de 1990.
Dessa vez, o suplemento estará apenas no ambiente digital, para acompanhar, de acordo com o veículo, os hábitos de leitura das novas gerações. A ideia é que o Folhateen traga assuntos de interesse dos mais jovens, como pautas de comportamento, estudos, sexo, música e cultura.
O movimento feito pela Folha assinala a importância de cativar e criar uma conexão com o público que, em poucos anos, será o consumidor principal dos veículos e marcas.
Cativar essa audiência, contudo, é algo que vem se tornando cada vez mais difícil a medida em que se multiplicam as opções de conteúdo, seja jornalístico ou de entretenimento, para um público que já cresceu com o hábito de poder decidir quando e onde quer assistir ou ler seus conteúdos preferidos.
Um exemplo do quão difícil é conquistar e cativar a audiência adolescente está na decisão da Globo de interromper, em 2021, a novela Malhação, seu principal produto de dramaturgia dedicado aos teens.
A novela permaneceu no ar por 26 anos e foi palco de revelação de diversos talentos da casa. Em setembro de 2021, a Globo decidiu interromper a produção da nova temporada de Malhação e declarou que repensaria a faixa vespertina. Desde então, a emissora vem exibindo o Vale a Pena Ver de Novo, faixa de reprise de novelas.
Depois de anos com o público infantil no centro de sua estratégia de dramaturgia, o SBT decidiu olhar mais para os adolescentes quando estreou Poliana Moça, uma continuidade da história de As Aventuras de Poliana, dessa vez destacando o crescimento da protagonista.
E o mesmo público infanto-juvenil é aposta da emissora com A Infância de Romeu e Julieta, seu mais recente produto de dramaturgia, criado em parceria com a Prime Video. Inclusive, para acompanhar os hábitos da nova geração, os primeiros capítulos da novela foram disponibilizados primeiro na plataforma de streaming, antes de chegar à TV Aberta.
O grande desafio de criar um produto atrativo às novas gerações, que tem em mãos todas as diversas opções ofertadas pelas plataformas de streaming e pelas redes sociais, está, justamente, na alteração da dinâmica de consumo de conteúdo. Na opinião de Demian Falestchi, CEO da Kids Corp, plataforma de tecnologia especializada em soluções comerciais e de conteúdo voltadas a crianças e adolescentes, as novas gerações tem cada vez menos interesse nas mídias tradicionais.
“Ao contrário dos pais e avós, que estavam habituados a buscar informação, hoje a informação chega às crianças e adolescentes através de plataformas que os fidelizam e a mensagem deve ser adaptada e entregue de acordo com a lógica de consumo de cada um deles”, diz.
Como exemplo da mudança do interesse dos adolescentes pelos veículos tradicionais, o CEO da Kids Corp usa os dados de uma pesquisa feita pela empresa que apontou que apenas 35% do público teen assiste à TV aberta ou TV paga. E, desse grupo menor que ainda assiste à TV de forma linear, 93% fazem outra atividade enquanto a televisão está ligada.
“É importante entender que há uma competição pelo tempo do consumo de conteúdo com uma série de outros estímulos e plataformas com as quais os jovens já estão engajados. Esse público se depara com milhões de estímulos disputando sua atenção”, destaca Falestchi.
A respeito da estratégia de resgate do Folhateen, o especialista acredita que há espaço para oferecer conteúdo aos adolescentes, mas que essa tarefa, sem dúvida, representa um enorme desafio, ainda mais para um veículo centenário como a Folha de S.Paulo.
Ainda, o CEO da Kids Corp. considera que é importante levar em consideração que a geração com menos de 18 anos é a primeira a consumir conteúdo criado por ela mesma e não pela mídia tradicional, passando a maior parte de seu tempo nas redes sociais, seja assistindo a vídeos ou jogando videogame.
“Atualmente, 1 em cada 3 internautas tem menos de 18 anos e 9 em cada 10 têm acesso a um smartphone no Brasil. Esse contexto permite que qualquer criador de conteúdo, como a FolhaTeen, pense e desenvolva um produto para eles, mas repensando esse conteúdo de acordo com novos públicos e adaptando essa mensagem às multiplataformas que os adolescentes consomem”, pondera.
Para atrair esse público, de modo geral, o CEO da Kids Corp considera que o conteúdo oferecido por qualquer veículo precisa ser interativo e audiovisual. E alerta que, quem não fizer essa análise em relação ao público futuro, está sob risco. “Mídias que não entenderem as novas gerações, seus gostos e preferências, reduzirão sua distribuição à medida que seu público atual desaparecer”, frisa.
Conheça a geração alpha e o quais são as desafios para o futuro.
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