Quando o melhor RP é o bom jornalismo
O Detroit Regional News Hub dá condições para qualquer jornalista escrever sobre a cidade, mesmo que envolva aspectos negativos
O Detroit Regional News Hub dá condições para qualquer jornalista escrever sobre a cidade, mesmo que envolva aspectos negativos
Meio & Mensagem
30 de janeiro de 2013 - 12h32
Por Carlos Eduardo Lins da Silva
Como é usual ocorrer com qualquer setor econômico em períodos de grandes crises, o jornalismo americano, que há 20 anos vem se defrontando com problemas nada triviais que já lhe custaram muito e podem até acabar com ele ao menos da maneira como estabeleceu-se por mais de um século, tem conseguido conceber fórmulas para mitigar um pouco esses efeitos.
É mais difícil encontrar exemplos de cooperação dignos de nota entre duas estruturas em crise, em especial se elas historicamente se consideraram inimigas. A cidade de Detroit, que faz muito tempo se sente hostilizada pela imprensa, que em geral só trata dela para mostrar seus aspectos mais negativos, vem conseguindo esse pequeno milagre.
Alguns líderes comunitários, ativistas sociais, empresários, de um lado, e repórteres, editores de veículos de comunicação tradicionais e blogueiros de Detroit fundaram em 2008 o Detroit Regional News Hub.
O objetivo era oferecer a qualquer jornalista de qualquer lugar do mundo que quisesse escrever sobre a cidade informações e recursos logísticos para realizar seu trabalho de maneira isenta.
Embora o desejo seja fazer que a imagem, muito deteriorada, de Detroit mude para melhor, o Hub nunca tenta esconder ou deixar de mostrar os aspectos negativos da cidade, que eram e ainda são muitos.
Mas ele também tem dado aos jornalistas interessados a oportunidade de conhecer iniciativas de revitalização e melhoria de áreas degradadas, projetos de inclusão social e cultural que estejam obtendo bons resultados, pequenas e microempresas iniciadas a partir de dinheiro oferecido por grupos comunitários ou empresas particulares.
A diretora-executiva do Hub é uma jornalista especializada na indústria automobilística que ficou desempregada com a crise dos dois setores (o de carros e o de jornais).
Seu nome é Marge Sorge e ela disse em entrevista recente ao New York Times saber muito bem que não adianta tentar esconder coisas ruins de bons jornalistas porque eles as acabarão descobrindo de qualquer modo, e a credibilidade de quem tentou iludi-los ficará permanentemente abalada.
Por isso, o Hub faz grande esforço para não agir como uma agência de relações públicas, mas sim como uma espécie de entreposto de informações e recursos para jornalistas cujos veículos estejam enfrentando dificuldades que constrangem o seu trabalho e possam apreciar, por exemplo, quem coloque à sua disposição um fotógrafo ou um câmera do local que trabalhe com eles por um custo reduzido; ou um produtor que indique boas fontes e lhes marque entrevistas com elas; ou simplesmente lhes forneça dados, números, textos sobre os assuntos que desejam conhecer para escrever a respeito.
Sorge e sua equipe são pagas basicamente por empresários que há seis anos iniciaram um projeto chamado Road to Renaissance e por um grupo de pessoas que formou o consórcio Downtown Detroit Partnership com o objetivo de reanimar e melhorar a vida no centro da cidade.
Apesar disso, para evitar problemas éticos, a turma de Sorge deixa muito claro a seus financiadores que ela nada fará para promover junto aos jornalistas nenhuma das empresas que estão engajadas nesses dois esforços coletivos e, segundo seu depoimento ao Times, nunca houve pressão por parte deles nesse sentido.
Segundo o Hub, ele tem atendido a cerca de dois mil jornalistas por ano, e seu trabalho já resultou em reportagens publicadas por veículos bastante conhecidos, como as revistas Forbes e National Geographic Traveler, o jornal virtual The Christian Science Monitor e a revista de bordo Delta Sky Magazine, além de correspondentes em Detroit de títulos nacionais, caso do próprio New York Times, e blogueiros de diversas partes do mundo.
A ideia do Detroit Hub pode servir de exemplo para quem possa estar preocupado com a imagem das cidades brasileiras que servirão de sede para a Copa de 2014 e para o Rio de Janeiro, que também sediará a Olimpíada de 2016.
Essas cidades certamente serão tema de repórteres e blogueiros do mundo todo nos próximos meses e anos. Quem quiser ajudar esses jornalistas a fazer um bom trabalho, balanceado, original, interessante, poderia iniciar um programa similar ao de Detroit Hub, o que pode ser muito mais eficaz do que gastar fortunas com desgastadas fórmulas de relações públicas.
Carlos Eduardo Lins da Silva é editor da revista Política Externa e diretor do Espaço Educacional Educare. Este texto foi publicado na edição 1544 do Meio & Mensagem, do dia 28 de janeiro.
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