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Aposto que teremos problemas

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Opinião

Aposto que teremos problemas

Depender tanto de uma única fonte de renda é arriscado para qualquer negócio


23 de setembro de 2024 - 14h00

Na última década, as apostas esportivas não só cresceram exponencialmente, mas consolidaram seu domínio no futebol global. Da Inglaterra ao Brasil, o apoio financeiro das empresas de apostas se tornou tão vital que muitos clubes teriam dificuldades para sobreviver sem ele. Essas empresas são onipresentes, desde o patrocínio de times locais até a Liga dos Campeões da Uefa.

A receita global do mercado de apostas esportivas online deve atingir US$ 45 bilhões em 2024. Espera-se que o setor cresça a uma taxa de mais de 7%, potencialmente atingindo US$ 65 bilhões até 2029, com 181 milhões de usuários ativos, de acordo com o Statista.com. Nenhum outro setor, além dos equipamentos esportivos, por razões óbvias, já exerceu esse tipo de poder sobre o futebol, e é aí que está o problema.

Depender tanto assim de uma única fonte de renda é arriscado para qualquer negócio. Depender tanto assim de uma fonte de renda tão vulnerável a mudanças na legislação é uma receita para problemas.

Durante a temporada 2022-2023, 17 dos 20 clubes da Premier League inglesa operaram com prejuízo. O número sobe para 19 quando excluímos as receitas voláteis de venda de jogadores, conforme relatado pelo priceoffootball.com. Imagine a posição precária em que esses clubes se encontrariam se os patrocínios de apostas desaparecessem da noite para o dia, aprofundando seus problemas financeiros em cerca de US$ 30 milhões por clube. Essa dependência explica por que tantos executivos do futebol buscam desesperadamente os investimentos das empresas de apostas como parceiras.

A Premier League não é exceção. No Brasil, 68% dos 60 clubes nas três principais divisões têm uma empresa de apostas como patrocinadora principal de camisa. Até mesmo o nome do Brasileirão foi comprado por uma delas. Isso sem falar nas placas de campo, antes um espaço cobiçado e exclusivo, que agora costumam apresentar marcas de até cinco casas de apostas simultaneamente.

Independentemente da sua opinião sobre a indústria de apostas, é difícil argumentar que esta tamanha dependência seja uma situação normal. Substitua “casas de apostas” por “companhias aéreas” ou “serviços financeiros”, e uma presença tão avassaladora assim ainda seria preocupante. Para tornar a situação ainda mais preocupante, ao contrário dessas outras indústrias, apostas também representam um risco real para a sociedade (na forma de vício).

Relatório da NBC News, nos Estados Unidos, destacou recentemente que as chamadas para linhas de apoio para pessoas viciadas em jogos de azar estão aumentando, com usuários cada vez mais jovens. Esse aumento no volume está diretamente ligado à legalização das apostas esportivas em novos estados — agora em 38 mais o Distrito de Washington — e é alimentado por um incremento na publicidade e patrocínios. Durante o mais recente Super Bowl da NFL, os americanos apostaram impressionantes US$ 10,49 bilhões, alta de 24,8% em relação ao ano anterior (fonte: American Gaming Association). Até 2018, os anúncios de apostas esportivas eram inexistentes durante tais eventos. Agora, são inevitáveis.

Imaginar uma estrutura regulatória que proteja os cidadãos e permita a livre operação da indústria de apostas é difícil, se não impossível. Qualquer mudança substancial, provavelmente, precisará vir dos governos ou possivelmente das próprias ligas (como a liga da Arábia Saudita, que proíbe patrocínios de apostas). Independentemente de quando ou como essas mudanças ocorram, apresentarão desafios significativos para uma indústria de futebol que abraçou os patrocínios de apostas como nenhuma outra categoria no passado. Quando as bets não puderem ou não quiserem mais investir em patrocínios, o futebol brasileiro terá grandes problemas para se recuperar. Mas isso é um problema que todos parecem felizes em delegar para os futuros administradores do futebol.

Uma aposta certa de problemas futuros.

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