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Tempos pós-normais é o novo normal

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Opinião

Tempos pós-normais é o novo normal

Precisamos dos desobedientes, daqueles que desafiam o status quo. Daqueles que não perguntam se devemos mudar e sim como mudar


20 de abril de 2018 - 7h40

Crédito: octomesecam/iStock

Eu e o Meio & Mensagem, somos da agitada década de 1970.

Tempos da invenção do Cubo Mágico, Walkman, o primeiro e-mail, calculadora de bolso, microprocessador, ônibus espacial e do primeiro bebê de proveta.

Tempos de instituir o Dia Internacional da Mulher, inaugurar as torres gêmeas do World Trade Center e o Centro George Pompidou em Paris.

Tempos do movimentos punk, hippie, new wave, hip-hop e de Sunday, Bloody Sunday, do U2.

Tempos de nascimento da World Futures Studies Federation (WFSF), grupo parceiro da Unesco no qual temos a missão de estudar o futuro e pensar em soluções globais.

Lá, afirmamos que vivemos os tempos pós-normais. Um período marcado por ventos da revolução que carregam três palavras: contradições, complexidade e caos.

Lá debatemos a economia da inteligência artificial, blockchain, movimento maker, transformação digital, quarta revolução industrial, desemprego tecnológico, jobless society, pós-capitalismo, utopia, distopia, arena cósmica, interação homem-máquina, ecossistema da inovação e economia do conhecimento. Somos nós os tecno-otimistas.

Como disse o professor Oto Schamer, do MIT, vivemos tempos de quebra ecológica (mudanças climáticas), quebra social (extremismos) e quebra espiritual (ausência de tempo). Vivemos uma nova revolução, são novas palavras e sentidos, tempos de mudança complexas, aceleradas, dinâmicas, explosivas, radicais, com uma nova Realidade-Virtual, e uma nova economia disruptiva. Sabemos mais do que podemos explicar.

Mas, para entender o futuro, sempre puxe o elástico do estilingue do passado. Como chegamos até aqui? O fascínio pelo futuro já foi bem maior no passado? Ele nos assusta? Deixa-nos paralisado?

A Grande Exposição de Londres de 1851 atraiu mais de seis milhões de pessoas. Em 1939, Nova York organizou outra Feira Mundial e reuniu 45 milhões de pessoas, numa espécie de Copa do Mundo da inovação. Seu slogan era “O Mundo do Amanhã”

As Exposições Universais, foram os primeiros lugares onde as pessoas viram o telefone criado por Alexander Graham Bell, a máquina de escrever Remington, o catchup Heinz, a máquina de raios X, náilon…

Ao largo vieram ensaios marcantes como o desemprego tecnológico, de Keynes, e outro economista, Joseph Schumpeter, com o termo “destruição criativa”: “Se você não reiventar o que você estiver fazendo, alguém fará isso!” Ambos repensaram o passado, reconsideraram aquele presente, reimaginaram os dias que vivemos e o futuro preditivo — smart prediction, smart machines, smart business e smart devices e as novas fronteiras da economia circular, criativa e compartilhada.

E o que vem por ai? A Unilever afirmou que vai usar blockchain na publicidade, impulsionando e simplificando a cadeia de fornecimento de mídias digitais. A Nestlé, na China, lançou um dispositivo com inteligência artificial — um assistente para responder perguntas sobre nutrição dos consumidores. A Yamaha usou inteligência artificial para transformar os movimentos do mais famoso dançarino japonês em música de piano. A Ford equipou seus trabalhadores com exoesqueleto. A Nissan criou a tecnologia brain-to-vehicle (B2V) — decodificando sinais do cérebro dos motoristas, conectando-os a carros que aprendem com as pessoas.

Precisamos ter tempo para pensar e mudar. Refletir sobre um mundo todo construído no período pós-Segunda Guerra Mundial. O que faremos com instituições como OMS, ONU, OMC, FMI, Banco Mundial, Basiléia? Será que a única batalha que nos restou foi lutar pelo futuro?

Que tempo curioso esse, onde a gigante do tabaco Philip Morris criou no Reino Unido a campanha “Um futuro livre de fumaças”… E que a L’Oréal criou sua IoT (internet das coisas): um sensor projetado para ser implantado na unha e permite aos usuários rastrear sua exposição ao sol.

Temos o início de uma indústria de genomics analytics. Ela combina sequência de DNA com neuromarketing e inteligência artificial para ser preditivo em criação de produtos, desejos e motivações dos consumidores. E vem aí o neuro ads e o directing to brand (D2B): um mix de marketing digital com neurociência, que gerará bilhões de personalizações baseadas em necessidades das pessoas, prometendo movimentar centenas de bilhões dólares nos próximos anos. Uma nova pirâmide de Maslow?

Acostume-se em escutar e a utilizar no seu dia a dia, nas próximas décadas, termos como supremacia quântica, inteligência artificial emocional, agricultura vertical, fabricação atômica precisa, vision machine, matemathical thinking, M2M (machine to machine)…

Robôs avatares vão se tornar populares, permitindo a todos a capacidade de “teletransportar” sua consciência para locais remotos em todo o mundo. A realidade virtual imersiva e a inteligência artificial serão onipresentes. Pais reclamarão que seus filhos estão constantemente em outro universo.

A maioria de nós seremos transumanos e pós-humanos, com coprocessadores e nanotech inseridos em nossos corpos. Colonizaremos o espaço.

O Trem da Revolução talvez tente ser parado como tentou fazer a Lei das Locomotivas de 1865 a 1896 no Reino Unido. Ela dizia que automóveis deveriam circular em velocidades menores do que as carruagens e exigia que sempre tivessem uma tripulação de três pessoas: um motorista, um bombeiro e um homem que andasse na frente do veículo acenando uma bandeira vermelha.

Precisamos de um pensamento de futuro, entendendo o desafio e o mantra do Massachusetts Institute of Technology (MIT): “Seja desobediente. Não se pode mudar o mundo sendo obediente.”

Precisamos dos desobedientes, daqueles que desafiam o status quo. Daqueles que não perguntam se devemos mudar e sim como mudar.

Acredito que viveremos uma Atenas digital ou a nova Atlântida de Francis Bacon. Uma sociedade sem trabalho, em que voltaremos a jogar e criar nas ruas e debater nas praças públicas sobre democracia, filosofia e artes. Em uma fluidez nômade, voltaremos à arte da simplicidade, à arte do essencial, à arte da frugalidade e do prazer e a leveza lúdica, a leveza estética, a leveza da embriaguez.

Precisamos ter tempo para pensar e mudar. Refletir sobre um mundo todo construído no período pós-Segunda Guerra Mundial. O que faremos com instituições como OMS, ONU, OMC, FMI, Banco Mundial, Basiléia? O que faremos com o cateto da hipotenusa e com a fórmula de Baskara que ensinamos na educação tradicional?

Será que a única batalha que nos restou foi lutar pelo futuro?

A grande fronteira, hoje, é espacial. Daqui a 40 anos, vou receber meu Meio & Mensagem na Galáxia de Milk, em uma grande rede universal e trans galaxial.

Em tempo pós-normais. Bem-vindo ao novo normal. Ou, como disse o futurista William Gibson: “O futuro já está aqui, está apenas distribuído desigualmente.”

Longa vida ao Meio & Mensagem. Eu te espero no futuro.

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