Pyr Marcondes
21 de abril de 2017 - 9h24
O Google está trabalhando para colocar um ad blocker em seu navegador Chrome. Bom para a boa publicidade online, ruim para a má publicidade. Mas talvez não seja tão simples assim.
Qual o standard para boa e má publicidade? Variáveis consideradas pelo time do Google como relevantes determinarão isso. A companhia aparentemente está levando em conta estudos especializados que já analisaram o tema e parece estar de fato preocupada em criar algo que agrade o mercado (embora agradar todo o mercado seja virtualemente impossível).
Mas parte dos publishers ouvidos pelo Advertising Age mostra-se preocupada com a iniciativa, porque teme que sua receita de publicidade seja afetada pelo ad blocker do Chrome.
Vai ser. Ninguém precisa ter dúvida disso.
Mas essa não é uma iniciativa isolada, sendo que outras grandes empresas como Microsoft, Facebook, GroupM, Procter & Gamble, além de entidades como o IAB e a poderosa Associação Nacional dos Anunciantes dos EUA, a ANA, estão também engajadas nessa luta num grupo que se chama de Coalition for Better Ads.
Essa coalizão fez recentemente um levantamento junto a 25 mil internautas e o resultado apontou que eles odeiam vídeos que automaticamente são exibidos com som, pop-ups, além de anúncios que exagerem no uso de cores berrantes que fiquem brilhando exageradamente na sua tela.
Caso o Google de fato implante o bloqueador em seu browser, todos os publishers do mundo serão mais ou menos afetados. Mas todos serão.
O ponto aqui é que a indústria precisa fazer algo por si mesma depois que a bandalha tomou conta do mundo ad tech e tudo de espúrio que possa ser feito para gerar audiência passou a ser feito descaradamente.
Os ad blockers são a reação da própria indústria a bandalheira (quem criou os ad blockers não fui eu nem você, certo caro leitor? Foram empresas de tecnologia pertencentes ao ecossistema da comunicação e do marketing, confere?). E também a expressão de indignação de parte da sociedade (veja, a adoção de ad blockers nos EUA é hoje estimada em cerca de 30% de todo o tráfego online do País, um terço, portanto, esmagadora minoria).
Seja como for, essa indignação tem seus bons motivos para existir e o ad blocker do Google porá lenha nessa polêmica fogueira em busca de uma indústria mais transparente e menos calhorda.
Há publishers preocupados com a iniciativa alegando que o Chrome, nos EUA, responde por 60% dos tráfego da web do País e que um ad blocker nesse browser seria dominante, ditando majoritariamente as regras para a maior parte da publicidade veiculada na internet norte-americana. É um ponto de alerta, sem dúvida e a Lei Antitruste do País poderia então ter que ser acionada, estimam eles.
A novidade criaria listas brancas e negras. Publicidade boa e publicidade ruim, que seria então bloqueada, afetando todas as campanhas ligadas a ela.
No turbilhão gerado por essa discussão, o Google tem se mostrado motivado a auxiliar os publishers a buscarem o incremento da monetização de seus conteúdos abertos e gratuitos, na tentativa de levar mais e mais internautas a pagarem por eles. Seria uma forma de eventualmente compensar a perda de receita provocada pelo ad blocker. Comenta-se.
É uma boa tentativa, mas difícil projetar sua real eficácia.
O Ad Age comenta ainda que o Google não seria ousado a ponto de ferir o mercado com normas que desagradassem amplamente os publishers, porque parte relevante deles, na cauda longa, usa suas plataformas de publicidade, como o Double Click, e descontentá-los poderia provocar crescimento na rejeição no uso das ferramentas de advertising do Google, como uma possível forma de retaliação.
Difícil também dizer em que medida isso iria, de fato, acontecer. Sem o Double Click, muitos publishers ficariam sem receita alguma.
Aguardemos, portanto, o que vem por aí e o que de fato irá acontecer nesse mundo ad blocker, de resto vital hoje para entendermos como será a publicidade online nos próximos anos.
Ah, no Brasil o uso de ad blockers é baixíssimo.