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Embrace Chaos!

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SXSW de 2018 foi o penúltimo presencial antes da pandemia (Crédito: Reprodução)
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Blog do Pyr

Embrace Chaos!

O maior evento de tecnologia e inovação do mundo resolveu olhar mais para o ser humano e colocou os avanços da ciência mais a serviço do nosso cotidiano. Bom. Depois de tantas novas tecnologias, agora temos que entender o que fazer com elas.


19 de março de 2018 - 7h26

 

O SXSW deste ano entregou exatamente o que, desde o ano passado, resolveu assumir como sua missão maior: abraçar o caos.

“Embrace Chaos” apareceu pela primeira vez como a tagline oficial do evento em 2017 e este ano o Caos só fez crescer.

A variedade e abrangência dos temas do SXSW nos colocam diante de uma questão muito singular: este é um evento de que, mesmo?

E isso é bom ou ruim? Aí depende da sua disposição. Quem gosta da diversidade, aprecia, mesmo que com alguma confusão na cabeça. Quem gosta de uma grade mais focada e clara, muito possivelmente vai odiar.

Para cada grande tema do evento, há sempre uma variedade de palestras. Alguns exemplos.

Marketing: aproximadamente 30 palestras e debates. Desde o basicão “Intro to Digital Marketing”, passando pelo hit do momento, os chatbots, “Messenger Bots: The Evolution of Digital Marketing” até o mais complexo, falando de dados, “Drinking Data: Principles of Human-Based Marketing”. Portanto, muito a ver aqui para a nossa indústria.

Inteligência Artificial: outras cerca de 30 palestras e debates. Do socialmente preocupado “AI and The Future of Work”, em que se debateu o impacto da tecnologia sobre os empregos humanos. Até os segmentados “AI and The Future of Medicine” e “AI:Transforming Luxury, Fashion and Beauty”. Sendo que Inteligência Artificial esteve com frequência em muitos dos debates, isso porque é uma tecnologia pervasiva, aplicável em praticamente todos os setores.

LGBTQIA: a diversidade ocupa espaço igualmente relevante, com mais de 40 palestras e debates. Desde o genérico “The Digital War Against Bias”, em que a tecnologia digital é colocada a serviço da igualdade. Ao complexo e engajado “Resistence & Disruption Through Diversity & Data”.

Marte: Pelo menos uma dezena de palestras e debates todo ano. As da NASA são sempre sensacionais. “Mars or Burst: Designing The Future os Humanity”, em que se explicou porque as viagens espaciais são essenciais para o desenvolvimento futuro da vida na Terra (bem, e fora dela também, se for preciso). Ou “Beyond SpaceX: The New Space Ecosystem”, em que se contou como todo um ecossistema de negócios está sendo criado em volta da indústria espacial. Com direito, este ano, a presença surpresa do super-astro Elon Musk, que invadiu uma palestra para a qual não estava convidado.

Maconha: tema que começou de mansinho, mas foi, digamos, enlouquecendo os organizadores e participantes, e hoje chega a dezenas os debates. Ao assumir esse compromisso, para muitos controverso, o SXSW reflete o indiscutível crescimento dessa indústria. Nessa linha, nos trouxe desde o entusiasta “Welcome to the Future of Cannabis” até o maluco (força de expressão) “Is Cannabis the Next Superfood?”, em que se mostrou como o uso da cannabis em alimentos e produtos medicinais está se disseminando.

São muitos os grandes temas do SXSW e um evento que, anos atrás, era bem mais um encontro de cientistas, nerds, pesquisadores, engenheiros e geeks, que se reuniam para mostrar aos curiosos, profissionais de todas as áreas, sua última criação tecnológica, se transformou em um evento em que a tecnologia é pano de fundo de praticamente todas as discussões, mas o Homem e o comportamento humano assumiram um protagonismo inédito.

E porque não vimos grandes novas descobertas?

Em busca de desvendar e mergulhar nesse caos do SXSW, afluem todo ano aqui para Austin cerca de 70 mil participantes, vindos de 95 países, para ouvir aproximadamente 5 mil palestrantes, que se revezam nos palcos incessantemente, durante 6 dias. A cada momento, podem estar acontecendo, ao mesmo tempo, de 20 a 30 palestras espalhadas por toda a cidade, cujo centro se fecha para a circulação de automóveis. O SXSW é um evento peripatético. Anda-se muito, a pé, em busca de conhecimento.

Este ano não vimos, no entanto, como já aconteceu em outras versões do SXSW, o lançamento de nenhuma novidade tecnológica disruptiva. E por que?

Quem nos deu possivelmente a melhor resposta para isso foi uma das palestrantes do evento, Amy Webb. Amy se auto-qualifica como uma futurista quantitativa. É sócia e fundadora de um instituto especializado em pesquisa de tendências. No palco, mostrou trechos do seu mais recente estudo, “2018: Emerging Tech Trends Report”, em que, como o nome revela, mostrou as tendências tecnológicas que, acredita ela, impactarão já agora, o nosso vigente 2018.

Na abertura do documento, a resposta a nossa questão: estamos passando por um momento de acomodação de um ciclo de avançadas descobertas tecnológicas. Ou seja, já se descobriu recentemente muita coisa e agora a Humanidade precisa entender, na prática, o que fazer com tudo isso.

Assim, quem veio aqui esperando encontrar a nova Inteligência Artificial, saiu com dicas e exemplos de como está o desenvolvimento dessa tecnologia hoje e como ela está sendo aplicada na vida real, para cidadãos e consumidores.

Nada mal, pensando bem. É uma contribuição que o SXSW nunca se preocupou claramente em fazer. Trazer as conquistas tecnológicas para o chão do cotidiano. O caos, ok, mas aplicado na vida real. Este ano, intencionalmente ou não, rolou mais essa pegada.

O Homem antes, a Tecnologia, bem boazinha, depois

Fruto possivelmente desse mesmo momento de adaptação das novas tecnologias as demandas humanas, e vice-versa, uma das preocupações que surgiu com clareza no evento foi a reflexão sobre onde entra e como fica a ética num mundo em que a tecnologia cria máquinas que tomam decisões humanas, em situações humanas?

Pode parecer filosófico, mas está bem longe de ser.

Diante da crescente presença de softwares, computadores e robôs nos ambientes de convívio direto com a sociedade, surgem de imediato questões como … no caso da inevitabilidade de um acidente, um carro autômato deve escolher atropelar um grupo de pessoas ou uma mãe segurando um bebê? Ou ainda, é ético que novas tecnologias sejam propositalmente desenvolvidas para eliminar os empregos humanos? Ou então, onde começa a privacidade dos dados e se inicia o direito à privacidade dos cidadãos, num cenário tecnológico em que todos os dados são, em tese, hackeáveis?

Não são questões pequenas e algumas delas afetam diretamente nossa indústria, notadamente no que se refere ao uso de perfis de consumidores digitalmente. Altamente eficaz para o marketing. Mas pode? Até onde pode?

Um dos palestrantes a endereçar o tema foi o icônico Tim O´Reilly, autor, pensador, empresário, empreendedor e investidor. Em sua palestra “Do more. Do Things that Were Previously Impossible”, insistiu que tecnologia, sendo uma das mais surpreendentes e desejáveis descobertas humanas, não pode, sob qualquer hipótese, ser concebida para virar-se contra os homens.

Esse tema estará certamente presente no SXSW do ano que vem.

Assim como deverão estar presentes também, novamente, as dezenas de milhares de seres humanos de todo o mundo, que desejam entender, um pouquinho melhor que seja, esse caos em que nos metemos.

Ao chegar, havia na delegação brasileira uma certa expectativa de ver mais do mesmo e, eventualmente, um evento em ocaso.

Não foi o caso, com perdão do trocadilho.

O SXSW segue sendo um farol. O maremoto o envolve por todos os lados, mesmo no deserto do Texas, mas ele seguirá firme aqui, ancorado em Austin, tentando bravamente iluminar nossos caminhos.

 

 

 

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