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Blog do Pyr

Inteligência Artificial e jornalismo: funciona?

A julgar pelas participantes do painel "AI and The Future of Journalism", mesmo diante das incertezas de algo que poucos dominam ainda, sim.


12 de março de 2019 - 8h55

 

No painel “AI and The Future of Journalism” aprendemos, aqui em Austin, que a Inteligência Artificial não vai roubar o emprego dos jornalistas (bom, pelo menos dos que pensam :-), que ela não funciona (ainda) para conteúdos analíticos, que ela tem que ser atualizada permanentemente para que entregue o que tem de melhor, sendo, portanto, um non stop job, que ela é ótima para enriquecer com dados e informações em tempo real as histórias que os jornalistas estão produzindo, que ela é matadora para endereçar personalização de conteúdo porque aprende o que cada leitor prefere (mas temos que tomar cuidado na redação por que ela vai ficar sempre oferecendo os mesmos conteúdos correlatos para aquele leitor, o que reduz, em vez de ampliar, sua amplitude de interesse nos conteúdos gerados como um todo), que ela dificilmente será uma boa repórter investigativa, que funciona hoje já, a todo vapor, em algumas das grandes publicações mundiais que conhecemos, para conteúdos editoriais em que histórias repetitivas precisam ser atualizadas, como cotação de bolsa e indicadores econômicos em geral, resultados esportivos, resultados de eleições, etc., que ela veio para ficar, e que, a julgar pelo painel composto apenas por mulheres, ela se entende bem com o sexo feminino (:-).

Estavam na mesa, a moderadora Rubina Fillon, Director of Audience Engagement do The Intercept, que se define como “an award-winning news organization that covers national security, politics, civil liberties, the environment, international affairs, technology, criminal justice, the media, and more”. Um excelente portal de jornalismo critico e combativo. Filon moderou super bem o painel e fez também suas considerações, como por exemplo, “a Inteligência Artificial veio para substituir nas redações o trabalho braçal, não o intelectual (falei, os jornalistas que pensam). Disse ainda que ela é altamente eficaz na ampliação da distribuição e cobertura dos veículos, como também no que chamou de hiper-personalização, já que em vez de identificar micro-preferências dos leitores. Levantou ainda um ponto interessante, que chamou de “automated storytelling”, que são histórias que se desenrolam automaticamente a partir da interação com o usuário/leitor.

Sobre esse assunto falou bem a Emily Withdraw, que é Director , Quartz Bot Studio, do Quartz, que você deve conhecer, um agregador de conteúdo de profundidade e alta qualidade. Ela nos contou que de fato, seus robôs ajudam a ir construindo capítulos e mais capítulos de histórias cuja narrativa vai sendo “escolhida” pela interatividade de cada leitor, criando-se ainda trilhas de uma mesma história, que ganha continuidade dependente do engajamento da audiência. Máquinas ajudam nisso. Falou que estão fazendo pesquisas com plataformas de NLP, que é bom todos que produzem conteúdo saberem logo o que é … Natural Language Processing, que são as plataformas de Machine Learning profundas, que entendem nossa linguagem escrita e falada e começam também a ter capacidade de reproduzi-la. É essa bagaça que põe medo em muitos coleguinhas, porque um processador de NLP pode, de fato, escrever um texto com começo, meio e fim e, dependendo do grau de acuracidade e repetição e treinamento da máquina, escreve textos que humanos não conseguem identificar que foram escritos por máquinas.

O jornalismo de continuidade através de histórias que se enriquecem a partir da interação da audiência é algo que deve se aprofundar e se sofisticar. Tem um pouco da lógica de game nisso e tende a ser altamente engajante.

Já Elite Truong, Deputy Editor of Strategic Initiatives do The Washington Post nos contou que a empresa aposta na Inteligência Artificial para incrementar a atualização das notícias para uma massa cada vez mais abrangente de leitores online, numa velocidade e escala antes impossíveis através da ação manual da redação. Comenta que os robôs treinados pela sua equipe são também moderadores dos comentários de seus leitores nas redes sociais e que a Inteligência Artificial tem sido igualmente de alta eficácia na recomendação de conteúdos por tipo de preferência dos leitores, como as demais também comentaram. Foi ela que disse que jornalismo investigativo esta a salvo das máquinas.

Finalmente, mas não por último, Meredith Broussard, professora de jornalismo e pesquisadora de Inteligência Artificial do Arthur L. Carter Journalism Institute, da Universidade de Nova Iorque. Broussard escreveu o curioso e instigante livro “Artificial Unintelligence – How Computers Misunderstand the World”, que tem como definição o seguinte: “A guide to understanding the inner workings and outer limits of technology and why we should never assume that computers always get it right.”

Ou seja, máquinas ainda não entendem lá muito bem o mundo em que vivemos e é melhor desconfiar delas, do que sair por aí confiando cem por cento no que nos dizem. Bom conselho, Meredith.

Sem dúvida a participante mais profundamente conhecedora tecnologicamente de Inteligência Artificial, ela nos contou que AI se divide em duas: a General AI, que, segundo ela, é da mídia, de Hollywood e da Singularity University (me apareceu que com um certo desdém), e a Narrow AI, que é puta matemática: “Machine Learning não é mágica, nem ficção científica”.

Foi ela a primeira a falar e a primeira a nos tranquilizar jornalistas que robôs têm limitações e que são bons para tarefas repetitivas, não analíticas. E que não tenhamos ilusão que a difícil tarefa de desenvolver um algoritmo que atenda às necessidades do leitor e da redação hoje acabem quando ele está escrito. Se não forem feitas atualizações permanentes, os algoritmos “expiram”. Tipo, sua validade interpretativa e dedutiva vence:” Pessoa evoluem e mudam constantemente. Se os algoritmos não acompanharem, não servirão para nada”.

Bom, se me acompanhou até aqui, acho que ficou claro que a Inteligência Artificial terá um papel crescentemente importante nas redações e produção de conteúdo editorial daqui para a frente. No Brasil, isso parece ficção científica.

Mas como bem disse a professora Meredith, não é.

Em breve, numa redação perto de você.

 

 

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