ProXXIma
13 de maio de 2020 - 10h24
Por Francesco Simeone (*)
“Esse vai ser o ano do mobile”. Quantas vezes escutamos essa frase nos últimos anos, no mercado de publicidade? Quase virou piada porque parecia que todo ano iria acontecer essa explosão de ad spending na publicidade, direcionada às pequenas telas. Mas, na prática, nunca se via essa explosão claramente. A verdade é que, como qualquer revolução tecnológica, essa também não se deu do dia para a noite. As transformações começam se insinuando na nossa vida aos poucos, com maior ou menor velocidade, mas sempre gradualmente, e quanto mais orgânicas e capilares, mais silenciosas aparentam ser.
Nunca teríamos um ano de explosão, pois já faz tempo que estamos vivendo os anos do mobile e essa transformação vem se consolidando em etapas, com a introdução de terminologias dentro da nossa linguagem cotidiana, formatos e formas de consumir informação no modo mobile first – onde o foco está direcionado primeiramente aos dispositivos móveis, ou até no mobile only – onde o foco é apenas nos dispositivos móveis.
Esse cenário é percebido quando vemos o crescimento da importância de métricas como a viewability, das taxas de interação exaltadas pela dimensão dialógica dos banner rich media, o consumo vertical de vídeos, a procura por conteúdos ao vivo – que marcou a passagem da dimensão temporal do “o que aconteceu”, típica do primeiro Facebook, para “o que está acontecendo”, conceito principal dos Stories, que surgiram a partir do Snapchat e já chegaram até o LinkedIn. Essa forma está virando nossa principal forma de consumo de conteúdo online. Será que existe linguagem mais mobile que os Stories? A lista é realmente longa. Isso porque não mencionei a segunda juventude do QR Code e o pagamento mobile que hoje avança a passos de gigante.
Em tempos de pandemia causada pelo novo coronavírus, mais do que nunca a comunicação é uma ferramenta de construção social e, por isso, mensagens de utilidade pública devem continuar chegando cada vez a mais pessoas. Com esse princípio, se falou muito sobre a tecnologia mobile como uma grande aliada para trabalhar junto a governos e marcas, inclusive na análise da situação de comunidades, além de apurar dados que possam ser preciosos nas tomadas de decisões no combate à pandemia. E não há dúvida que o mobile é a principal forma de fazer chegar a justa informação a todos.
Com pesquisas que apontam o crescimento contínuo de pessoas usando tecnologias mobile durante o surto de Covid-19, abrem-se possibilidades para o levantamento de novas análises do comportamento online e offline das pessoas e cresce a navegação em apps, especialmente em jogos mobile online. Além disso, está sendo possível ver o crescimento de audiências digitais entre os baby boomers e a geração de novos nichos de público online, como os habitantes de populações rurais.
Os dados mostram que, por meio da tecnologia mobile, é possível identificar novas tendências de comportamento e entender as necessidades atuais das macro e micro comunidades, de cada pequena porção dos grandes centros urbanos e até mesmo dos mais longínquos territórios. As oportunidades de análises são inúmeras, tanto para governos, quanto para marcas, pois, ter os dados como verdadeiros aliados soa como uma estratégia que pode ajudar na prevenção, conscientização e educação da população de forma muito eficaz.
E veja bem: os dados não passaram a ser algo infectivo, nem o fruto proibido do pecado. Eles podem e devem ser usados, desde que tudo seja feito da forma correta na tutela da privacidade de cada pessoa, trabalhando os look-a-likes das personas que formam cada grupo de cidadãos e analisando tendências gerais que não afetam e nem precisam afetar a dimensão pessoal do usuário único.
Para as marcas, os benefícios da tecnologia mobile durante a pandemia se estendem até mesmo no trabalho de responsabilidade social, reforçando seu posicionamento positivo e garantindo o crescimento do próprio share of mind, além, é claro, de manter a segurança de que seus consumidores terão acesso aos produtos sem grande exposição na rua. Nesse momento onde todos estão em suas casas, de olho em seus dispositivos, a tela mais utilizada pelas pessoas pode ser ferramenta fundamental de sensibilização e engajamento para causas. Vejam o sucesso das lives e de suas narrativas cross-media, impossíveis sem a tecnologia mobile.
Neste sentido, também os sistemas de geolocalização dos smartphones são recursos bem estratégicos, não para monitorar ou até controlar – assunto bastante debatido na mídia -, mas principalmente no sentido de melhor utilizarem a tecnologia mobile para segmentarem mensagens e comunicações de prevenção e cuidado. Bairros, ruas, pontos de venda podem maximizar os detalhes de cada localidade no esforço de identificar pontos fortes e fracos em abastecimento, compra e venda, circulação de pessoas, novos hábitos e até nos perfis de isolamento das comunidades. Esses dados, em larga escala, com detalhes customizados, maximiza a eficácia das mensagens. É a tecnologia colocada em favor da utilidade pública.
A mensagem certa, para a categoria de pessoas certas e no momento certo pode conscientizar, mudar uma atitude e potencialmente salvar vidas. Hoje, mais do que nunca, a tecnologia mobile não pode ser vista como uma bruxaria, numa visão de heranças obscurantistas, mas sim como o nosso maior aliado na missão de devolver velocidade ao progresso do ser humano em época de pandemia, sendo, assim, cada vez mais a nossa principal forma de interação e integração com o mundo externo.
Nessa linha, com certeza, 2020 é, definitivamente, o ano do mobile.
(*) Francesco Simeone é CGO Latam & Country Manager Brasil da Logan