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Inclusão digital acabou com a festa?
Leandro Ramos, sócio-fundador do Indike, acredita que as redes sociais são hoje, assim como era a sala de jantar no passado, uma área de convivência familiar
Leandro Ramos, sócio-fundador do Indike, acredita que as redes sociais são hoje, assim como era a sala de jantar no passado, uma área de convivência familiar
2 de abril de 2013 - 2h50
Por Leandro Ramos
Sócio-fundador da agência Javali Digital e da rede de indicações Indike
Em uma manhã como em qualquer outra você acorda e, ainda na cama, resolve checar o que aconteceu no seu Facebook nas últimas horas. Ao logar percebe que existe uma solicitação de amizade do seu pai. Você hesita em aceitar esse novo amigo, mas em poucos segundos ele já faz parte da sua rede social. A rotina habitual de inspeção da sua timeline se inicia e após alguns posts, encontra sua mãe compartilhando uma piada de um site de humor, que você não aprova. Resolve então se levantar e percebe que seu Facebook já não é mais o mesmo.
Há dez anos, quando as redes sociais começaram a se proliferar, o principal motivo de se possuir uma conta no MySpace ou Orkut era compartilhar alguma foto com os amigos ou reatar contato com um antigo colega do colégio. Com a difusão das redes sociais aos longos dos anos, a lista de contatos das pessoas nessas ferramentas começou a crescer e o que você andou fazendo por lá também mudou. Já no Facebook, companheiros de trabalho passaram a ser seus amigos, até que chegou seu chefe. Porém, a inclusão digital possui raízes mais profundas e abarcou recentemente seus pais. O que muda agora que sua mãe e seu pai acompanham cada passo seu no mundo digital?
Para os adolescentes, a entrada dos pais no Facebook pode significar, em um primeiro momento, um mecanismo de censura. Uma pesquisa realizada no final de 2012 pela TNS no Brasil revela que 65% das mães estão no Facebook para acompanhar as atividades dos filhos. Porém, a mesma pesquisa descobriu que 47% dos jovens entrevistados afirmam que não revelam o que fazem na internet. Ainda que possa existir este desejo policialesco com os adolescentes, será possível controlar tudo que um jovem faz na internet ao simplesmente adicioná-lo no Facebook?
Talvez não seja possível acompanhar todas as pegadas de uma pessoa na internet, mas as redes sociais estão expondo muita intimidade aos pais que os filhos não estavam acostumados a contar em casa. Até pouco tempo atrás, o Facebook era uma grande festa, em que se podia beber, fumar, experimentar novos papéis sociais sem ser questionado. Agora imagine que você está compartilhando esta mesma festa com seu pai e sua mãe. Como fica flertar ou externar uma fúria com o olhar atento dos pais?
A entrada de pais e mães no Facebook colocou filhos e pais em uma mesma festa, porém para dançar em ritmos bem diferentes. Esta convivência às vezes ganha contorno de disputa por parte dos mais jovens. Filhos que sentem possuir sua privacidade ameaçada muitas vezes atacam a postura digital dois pais que aderiram tardiamente aos recursos digitais. Criticam o pai que escreve posts em Caps Lock ou a mãe que compartilha correntes de um mais novo golpe. Tratam os novatos com rejeição ou pena para tentar defender um território que antes era exclusivo.
As redes sociais são hoje, assim como era a sala de jantar no passado, uma área de convivência familiar. O que não mudou é o segredo para manter a harmonia desse espaço: o bom senso. Guardar assuntos de uma relação pai e filho para uma conversa privada, compartilhar somente aquilo que você não sinta vergonha de contar à ninguém ou então criar filtros de exibição para seus posts podem ser elementos para dar o tom dessa conversa. Quem sabe assim as redes sociais não sejam um canal de aproximar ainda mais pais e filhos?
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